O músico harmonicista e multi-instrumentista Otavio Castro aproveitou o momento do isolamento social para produzir o seu novo álbum chamado Natiumbi.
O curioso nome do projeto é a junção de Tiumbi, nome da rua onde mora no Alto da Boa Vista, com ‘na’, da palavra natureza que, por sinal, é exuberante no local onde vive o artista. Numa viagem solo em busca de novas experiências musicais, Otavio Castro encarou o desafio de participar de todo o processo de criação dos arranjos, além de tocar todos os instrumentos das composições.
O álbum Natiumbi conta com 13 faixas que mesclam composições autorais e de outros artistas consagrados. Para contar detalhes da produção que surgiu durante a quarentena, o Audiograma traz uma entrevista exclusiva com o músico.
A: O jazz faz parte da sua raiz e o Rio de Janeiro começou a apostar em festivais consagrados para promover o estilo musical na cidade, como o Rio Montreaux Jazz Festival. Você acredita que o jazz pode ter ainda mais espaço na cultura brasileira?
OC: Toda iniciativa que envolva arte e cultura será sempre bem vinda. O que não falta no Brasil é espaço e bons músicos. O desafio é promover políticas públicas abrangentes que valorizem a diversidade e o trabalho de músicos independentes como eu e de muitos outros.
Como foi o processo de idealização e produção do seu novo álbum Natiumbi?
Natiumbi é o resultado de uma sequência de gravações totalmente despretensiosas que fui fazendo ao longo da quarentena. Toquei todos os instrumentos sozinho, em casa, num home studio. Idealização e produção foram aspectos posteriores a essas sessões de gravação propriamente ditas. Mixagem e masterização foram feitas em Minas Gerais por César Santos.
Como o Alto da Boa Vista, bairro onde mora no Rio de Janeiro, inspirou os sons que você imprimiu neste projeto?
A inspiração veio totalmente do Alto da Boa Vista e mais especificamente da Floresta da Tijuca. Porque a natureza é parte absoluta do nosso cotidiano em casa e costumo dizer que a floresta está em todas as janelas do nosso lar. Confesso que sinto a companhia da natureza, dos bichos, dos animais e da diversidade. Essa diversidade está presente no repertório e na escolha dos muitos instrumentos que fazem o álbum.
Quais foram os desafios ao participar de todo o processo de criação dos arranjos e tocar todos os instrumentos das composições?
O maior desafio foi lidar com a tecnologia do home studio. A experiência que tenho é histórica como músico, de gravar harmônicas em estúdio, mas não de operar as máquinas. E isso tudo aconteceu na quarentena. Os testes do equipamento acabaram virando as faixas do álbum. Os arranjos também foram criados ao longo das sessões de gravação, com poucas anotações e muita criação espontânea. Quanto aos instrumentos, foi a parte mais divertida, sem sombra de dúvidas. Eu consegui resgatar os meus tempos de infância e pré-adolescência tocando percussão e baixo. Estou muito orgulhoso deste trabalho.
Já que a pandemia ainda não acabou, você pretende mostrar o seu trabalho, ao vivo, de alguma forma?
Com certeza. Pretendo mostrar o meu trabalho de várias formas, pois cada trabalho meu tem uma proposta. O meu primeiro álbum, Promessa, é um quarteto de choro, que vale audição presencial. O segundo álbum, Bom Retiro, é um quarteto mais jazzístico, e também vale a audição presencial. No caso do Natiumbi, fica tudo mais difícil porque eu gravei tudo sozinho. Mas, no meu canal do YouTube é possível ver três lives que fiz na quarentena. Assim que for possível voltar aos palcos, vai ser um prazer imenso poder levar essas músicas produzidas ao longo dos últimos anos.
Otávio Castro tem a música no DNA. Filho do compositor Everardo Castro – um dos fundadores do Clube de Jazz e Bossa nos anos 60 -, é conhecido no Brasil e exterior pela sua trajetória na música brasileira, além de transitar pelo mundo do jazz, já tendo trabalhado com importantes nomes da cena musical. O músico desenvolveu técnicas inovadoras nas harmônicas, principalmente na harmônica diatônica, popularmente conhecida como a gaita de blues, criando o termo “cromatismo na harmônica diatônica”, técnica esta que permite a execução de todas as músicas utilizando tão somente uma harmônica afinada em dó (C) para todas as tonalidades.
Otavio Castro também é professor, tendo colaborado diretamente para a formação de uma nova geração de gaitistas, dando aulas dentro e fora do Brasil. Em 2009, participou da Convenção Anual da SPAH – Society for the Preservation and Advancement of the Harmonica realizada em Sacramento/CA (EUA).
Natiumbi já está disponível nas principais plataformas digitais de música. Ouça no Spotify: