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Review: Michael Jackson – Bad

Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a capacidade de Michael Jackson, elas foram desfeitas após o sucesso estrondoso proporcionado por Thriller. Daquele ponto em diante, o artista tinha alcançado um nível onde poucas pessoas imaginaram que ele chegaria e as questões passaram a ser outras: o que virá agora? Será que o sucesso se manterá?

As respostas para ambas as perguntas chegaram cinco anos após Thriller com o seu sétimo álbum de estúdio e Bad representa mais do que uma continuação na carreira do eterno Rei do Pop, mas uma ruptura com quase tudo aquilo que Michael Jackson representava até então e, principalmente, a busca pela construção de um personagem capaz de ser amado e idolatrado por todos.

Repetindo a parceria com o lendário Quincy Jones, Michael Jackson deixou de lado a disco music que o tornou conhecido mundialmente e mergulhou de vez em uma mistura de dance com rock e muito disso fica representado já na faixa-título do álbum. A canção foi o segundo single do Bad, ganhando um clipe tão maravilhoso quanto “Thriller” e, se não impactou por sua produção visual, chamou a atenção por mostrar “outro lado” de Michael.

Escrito pelo roteirista Richard Price e dirigido por ninguém menos que Marin Scorsese, o curta de 18 minutos custou mais de 2 milhões de dólares e conta a história de um rapaz chamado Daryl (MJ), que volta para a sua cidade natal e passa uma noite com os seus amigos. No entanto, eles percebem que ele deixou de ser “mau” com o tempo e o seu melhor amigo – Mini Max, interpretado por Wesley Snipes – acaba o confrontando. Desse “embate” surge toda aquela cena coreografada maravilhosa no metrô que você já deve ter visto pelo menos uma vez na vida.

Vale lembrar, inclusive, que “Bad” foi escrita inicialmente para ser um dueto entre Michael Jackson e Prince com o objetivo de aproveitar uma suposta (não tão suposta assim) rivalidade entre eles, mas que Prince rejeitou o convite por não ter gostado da letra.

Voltando para a sonoridade de Bad, boa parte das músicas transitam entre o dance com diversos elementos de rock, mas Michael Jackson não deixou de lado o passado. Se “Speed Demon” e “Dirty Diana” – que conta com Steve Stevens como responsável por seu solo de guitarra – eram boas representantes dessa sonoridade mais rock, Michael também abria espaço para as baladas, algo que sempre se fez presente em sua carreira. Em Bad isso vem forte com “Liberian Girl”, que ganhou um vídeo cheio de celebridades e que foi dedicado a Elizabeth Taylor, além de “Man In The Mirror” e, principalmente, “I Just Can’t Stop Loving You”, dueto com Siedah Garrett. O álbum também flertava com o passado de Michael e o grande exemplo disso é o dueto com Stevie Wonder em “Just Good Friends”. Por outro lado, “The Way You Make Me Feel” e “Smooth Criminal” já mostravam uma tendência que, até então, era inédita em sua discografia, mas seriam exploradas de forma mais intensa futuramente.

Bem construído por Jackson e Quincy, Bad levou quase dois anos para ser arquitetado e produzido. Os primeiros embriões do álbum começaram a ser produzidos por Jackson ainda em 1984, durante a Victory Tour, turnê que serviu como a sua despedida oficial do The Jacksons e, poucos meses após o fim da série de shows, Michael já estava em estúdio gravando as primeiras demos.

Durante a ocupação no estúdio caseiro de Hayvenhurst, mais de sessenta faixas foram trabalhadas entre janeiro de 85 e julho de 87. De todas elas, trinta foram gravadas e, naquele momento, a intenção de Michael Jackson era lançar um álbum triplo. No entanto, ele acabou sendo convencido por Quincy a abandonar a ideia e Bad acabou ficando com apenas onze faixas, ainda que “Leave Me Alone” não fizesse parte do registro em suas primeiras tiragens. Posteriormente, algumas dessas faixas cortadas acabaram sendo lançadas em edições especiais do álbum, casos de “Fly Away”, “Streetwalker”, “Free” e “Al Capone”.

O álbum também ficou marcado pelo envolvimento cada vez maior de Michael Jackson nas composições. Se em Thriller ele era responsável por apenas quatro das nove letras, foi no Bad que ele assumiu de vez o seu lado compositor, sendo o autor de nove das onze faixas. Apenas “Just Good Friends” e “Man In The Mirror” não foram escritas por ele e, levando em conta toda a sua carreira até então, aquilo era uma mudança significativa.

Entre os temas, Michael não se prendeu nos temas aos quais ele estava acostumado a falar e escreveu sobre a política racial americana, algo que Jackson sentia a necessidade de abordar na época por conta dos questionamentos que ele sofria dentro da comunidade negra. Outro tema abordado foi a violência sexual retratada em “Smooth Criminal”. Uma das letras em especial chamou atenção e criou (mais uma) polêmica em torno do músico: em “Dirty Diana”, Michael fala sobre o mundo das groupies e das pessoas que tentam buscar a fama e o dinheiro por associação com os famosos e, na época, muita gente ligou a letra a uma possível relação estremecida com a cantora Diana Ross, algo que Jackson nunca confirmou (ou negou).

Lançado pouco mais de um mês após o processo de produção ser encerrado, Bad atingiu o topo das paradas musicais em catorze países, teve cinco singles liderando o TOP 100 da Billboard e atingiu a casa das 35 milhões de cópias vendidas. No entanto, o sucesso do público não se repetiu perante a crítica que afirmou que o álbum não era inovador e, para alguns, era uma representação acomodada de Michael Jackson.

Para se ter uma ideia, Bad rendeu para o Rei do Pop “apenas” um Grammy de melhor clipe por “Leave Me Alone” e o prêmio só foi concedido na edição de 1990. Na premiação ocorrida em 1988, Michael fez uma apresentação marcante, recebeu quatro indicações e não ganhou nenhuma. Em 1989, uma nova indicação por conta de “Man In The Mirror” e, novamente, Michael saiu do Grammy de mãos abanando. As derrotas no Grammy – principalmente em 1988 – geraram uma das frases marcantes da carreira do músico: “Eles julgaram minha aparência, não minha música”.

Ainda que fosse notícia por conta da sua música, Jackson também se tornou um nome comum no jornalismo por conta de sua excentricidade. Foi durante a era Bad que várias histórias em torno dele ganharam o mundo, como o uso de uma câmara hiperbárica para dormir visando retardar o envelhecimento, a sua relação com o macaco Bubbles e, claro, as mudanças em sua aparência, cirurgias plásticas e a cor da pele cada vez mais clara. Anos depois, Jackson revelou sofrer de vitiligo e lúpus discoide, doenças que causam perda de pigmentação da pele. Muitos acreditam que, naquela época, Michael passou por um tratamento intensivo com hidroquinona, substância capaz de clarear a pele, visando amenizar o impacto das doenças em sua pele, tornando mais fácil esconder as manchas restantes com maquiagem.

Fato é que, para quem planejava atingir um sucesso ainda maior que o de Thriller e vender pelo menos cem milhões de cópias, o resultado de Bad pode ser decepcionante. No entanto, Thriller era visto por todos como um divisor de águas em sua carreira e tentar refazer algo tão marcante era quase que impossível, mesmo você sendo o Michael Jackson. Ao mesmo tempo, o artista vivia um momento bem diferente daquele no qual Thriller surgiu, lidava com outras percepções, tomava ainda mais as rédeas de sua carreira e começava a explorar outros caminhos.

Com tudo isso em mente, conseguir colocar cinco faixas de um mesmo álbum no topo da Billboard, ultrapassar a casa das 35 milhões de cópias vendidas, lançar um filme e um jogo para vídeo-game, fazer uma turnê mundial – patrocinada pela Pepsi – que reuniu mais de quatro milhões de pessoas em 132 apresentações e gerou um faturamento de US$ 125 milhões me parece algo muito marcante para uma carreira cada vez mais consolidada.

Ainda que seja ofuscado pelo seu antecessor, Bad é um trabalho que exemplifica bem a evolução de um artista que, cada vez mais, colocou em suas músicas aquilo que ele pensava. Foi a partir daquele ponto que Michael Jackson deixou de ser “o cara dos clipes legais” ou um simples interprete e passou a ser visto como um excelente compositor, um produtor perfeccionista e um artista extremamente criativo. Foi com o Bad que Michael Jackson mostrou que estava pronto para o próximo passo: tomar as rédeas da música Pop.

Michael Jackson – Bad

Lançamento: 31 de agosto de 1987
Gravadora: EPIC/CBS
Gênero: Pop/R&B/funk/soul/dance-pop/rock
Produção: Michael Jackson e Quincy Jones

Faixas:
01. Bad
02. The Way You Make Me Feel
03. Speed Demon
04. Liberian Girl
05. Just Good Friends (feat. Stevie Wonder)
06. Another Part of Me
07. Man in the Mirror
08. I Just Can’t Stop Loving You (feat. Siedah Garrett)
09. Dirty Diana
10. Smooth Criminal
11. Leave Me Alone