Kendrick Lamar Duckworth ou simplesmente Kendrick Lamar é uma referência da indústria musical nessa década.
Seja pela sinceridade que envolve suas letras, ou a capacidade de resgatar e reunir sonoridades, seu impacto cultural é imensurável, ultrapassando as fronteiras sonoras; por esse motivo, K-dot já pode ser considerado um dos maiores artistas de todos os tempos.
Nessa semana Kendrick completa 32 anos de idade, e resolvi listar sete fatos que comprovam a grandeza e importância do rapper de Compton na música e arte como um todo.
01: good kid, m..A.A.d. city e o resgate do rap como crítica social
Na década de 2000, a cena do hip-hop ficou marcada pelo crescimento de popularidade do bling-bling, estilo que tinha como representantes mais famosos 50 Cent, Lil’ Wayne e Puff Daddy. Eles se destacavam por cantar sobre o fácil acesso à qualquer coisa que o dinheiro pudesse comprar, e esse subgênero dominava as rádios (houveram algumas exceções, como os discos Speakerboxx/The Love Below (2003) do duo OutKast, e The College Droppout (2004) do Kanye West. Foi somente na virada da década em que isso acabou mudando, e good kid, m.A.A.d. city (2012), álbum de estréia de Kendrick, é um dos símbolos disso.
Nas suas mixtapes anteriores ao disco, Lamar já mostrava ter uma visão bastante crítica e com amplitude da sociedade; Section 80. (2010), por exemplo, aborda os problemas enfrentados pela população negra por conta da política conservadora de Ronald Reagan nos anos 80, e as consequências do vício em drogas. Em GKMC, K-dot utiliza das suas experiências na juventude enquanto crescia em uma das regiões mais violentas dos Estados Unidos: Compton, região de Los Angeles. De uma perspectiva bastante pessoal, ele narra a pressão que cerca morar em um lugar onde o perigo é algo do cotidiano, e até as suas amizades podem te guiar a um caminho arriscado (esse tipo de situação é chamada de Peer Pressure).
O álbum pode ser considerado o maior herdeiro do hip-hop dos anos 80, onde grupos como o N.W.A. e Public Enemy funcionavam como uma voz da população afro-americana, abordando questões mais próximas da realidade.
02. “Control” e a volta da competitividade no rap
O segundo fato pode ser considerado um dos momentos de mais destaque do rap recente. Após o estrondoso sucesso de good kid, m.A.A.d. city, Kendrick retornou em 2013 com uma colaboração na faixa “Control”, do Big Sean e que também teve participação de Jay Electronica. Sua participação fez com a que a música se tornasse uma diss track extremamente polêmica; os versos são direcionados à outros rappers atuais, entre eles Drake, J.Cole, Pusha T, Meek Mills, A$AP Rocky, Tyler, the Creator e até ao próprio Big Sean, afirmando que esses não estão à sua altura.
A polêmica é ainda maior por ele ter se colocado lado a lado de lendas como Tupac e Notorious B.I.G., se autoproclamando o rei de Nova Iorque mesmo sendo da Costa Oeste.
Essa postura foi elogiada por alguns; Eminem afirmou que a competitividade promovida por Lamar era positiva já que ela sempre foi um atrativo no cenário do hip hop; Por outro lado, Drake e Big Sean foram alguns dos que não reagiram tão bem, e se afastaram de Kendrick desde então.
O fato é que desde “Control”, K-dot só aumentou a sua fama, e é admirado tanto por rappers da velha guarda, casos de Dr. Dre e Snoop Dogg, como até mesmo por aqueles citados na diss, casos de Tyler, the Creator e Pusha T.
03. To Pimp a Butterfly e a popularização do jazz rap
Não é de hoje que o jazz e o rap caminham de mãos dadas; os primeiros DJ’s da cena do hip hop estruturavam os seus beats em cima de melodias pertencentes ao jazz; Além disso, nos anos 90, o produtor J.Dilla e o grupo A Tribe Called Quest usavam samples com instrumentais do gênero nascido em Nova Orleans.
Desde então, o jazz acabou sendo apagado nos sons dos novos rappers, e se limitava a uma base específica de ouvintes, passado longe do mainstream. Isso durou até 2015, quando Kendrick Lamar lançou o cultuado To Pimp a Butterfly; o disco é considerado um clássico moderno, e é marcante por ter misturado camadas sonoras do rap, jazz e também arranjos do funk.
To Pimp A Butterfly foi responsável também por ajudar a popularizar o jazz rap, com o surgimento de mais artistas que exploram essa sonoridade, como por exemplo Anderson .Paak e Noname, além de apresentar ao grande público Flying Lotus, Kamasi Washington e Thundercat, músicos que já se aventuravam no jazz e colaboraram em TPAB.
Kendrick ainda lançou untitled unmastered. (2016), uma coletânea de faixas feitas entre 2013 e 2016, e o álbum mostrou a inclinação de Lamar ao gênero, sendo também bastante elogiado.
04. “Alright” e o Black Lives Matter
O Black Lives Matter é um movimento ativista criado em 2013 e que protesta contra a violência direcionada à população negra, protestos que foram inicialmente motivados após a absolvição do segurança George Zimmerman por conta do assassinato do jovem Trayvon Martin, que era negro; esse assassinato aparentava ter motivações racistas.
O movimento cresceu e perdura até hoje, e em 2015 adotou “Alright”, faixa presente em To Pimp a Butterfly, como um hino desses protestos. Vale lembrar que o próprio álbum discute questões importantes como racismo, auto-aceitação e valorização das raízes, provando que a relevância de TPAB vai além da música.
05. To Pimp a Butterfly no acervo de Harvard
Ok, já deve ter ficado claro a importância de To Pimp a Butterfly em um sentido artístico, mas isso alcançou outro nível quando o disco foi permanentemente arquivado na biblioteca de Harvard.
O álbum entrou em um seleto cânone do hip-hop, juntamente com outros três clássicos: Illmatic, do Nas, The Misseducation of Lauryn Hill, da cantora Lauryn Hill, e The Low End Theory, do A Tribe Called Quest, servindo como objetos de pesquisa africana e afro-americana.
06. DAMN. e o Prêmio Pulitzer
Kendrick continuou inovando e discutindo questões importantes no seu terceiro trabalho de estúdio, DAMN. (2017). O álbum é o mais bem sucedido de K-dot comercialmente falando, provando que ele conseguiu dialogar com o grande público sem perder a sua essência.
E em 2018, um ano após o lançamento de DAMN., Lamar recebeu o prêmio Pulitzer, que reconhece a excelência no jornalismo, na literatura e na música. Essa conquista de Kendrick ganha ainda mais importância por ter sido o primeiro em 75 anos de premiação entregue a um cantor popular, já que o Pulitzer só havia reconhecido artistas de jazz e música erudita até então.
07. A produção da trilha sonora de Pantera Negra
O filme “Pantera Negra” é um dos mais significativos da história recente do cinema, já que a produção da Marvel Studios foi a primeira com a temática de super-herói em que o elenco/personagens eram negros, se tornando um ícone da cultura popular e uma ode à negritude.
E pra compor um filme repleto de representatividade, Kendrick foi convidado à ser o produtor executivo da trilha sonora (em conjunto do produtor Anthony “Top Dawg” Tiffith). O álbum, que ganhou o nome de Black Panther The Album Music From And Inspired By, acabou sendo um sucesso, conseguindo nomeações tanto no GRAMMY quanto no OSCAR.
Esse item fecha a lista porque comprova que Kendrick Lamar, em pouco mais de dez anos de carreira, alçou um status de símbolo e voz da população afro, se tornando sem um artista que já tem o seu lugar entre os maiores.