Para mim, é pessoalmente necessário escrever sobre Teddy Sinclair (Natalia Kills). Sempre tive e ainda mantenho imensa admiração e respeito pela cantora, que ganhou o ódio de milhões de pessoas após o incidente ocorrido enquanto ocupava o júri do X Factor da Nova Zelândia, ainda como Natalia Kills. Porém, não é disso que vamos falar aqui. Teddy, Natalia, ou como quiser chamar, é uma artista incrível, completa como poucas outras de seu tempo, e repleta de talentos, portanto não há outra coisa que deve ser evidenciada, se não sua genialidade.
Sinclair possui dois álbuns lançados: Perfectionist (2011) e Trouble (2013). Hoje, fora da will.i.am/Cherrytree/Interscope, seu antigo selo, a cantora trilha o caminho de artista independente em seus projetos, o Cruel Youth – que lhe rendeu o fabuloso EP 30mg – e o The Powder Room, projeto mais recente que parece explorar a sutil linha de contorno que é a música eletrônica alternativa envolta ao mainstream.
Perfectionist, seu álbum debut, trouxe ao mundo pop uma perspectiva diferente do que é ser uma “cantora pop” e Natalia era em si, a pergunta e a resposta. Suas letras se diferenciavam de Lady Gaga – com quem a mídia sempre a comparou, de forma tosca e desnecessária – e exploravam uma temática extremamente sequelada de suas experiências amorosas, familiares e até financeiras, como é o caso de “Free” – música que conta com sampler de “Wuthering Heights”, de sua inspiração, Kate Bush.
O álbum minuciosamente planejado faz jus ao nome que recebeu: o “perfeccionismo” exala desde a tracklist, que segue uma noção compositiva de tópicos, até a capa e os visuais inspirados de forma explícita na arte de tom político e visualmente agressiva da artista americana Barbara Kruger.
Se Perfectionist soava pessoal, Trouble é então um choque de honestidade. Seu segundo álbum reforçou a importância de sua vida pessoal como combustível de suas criações. Os conflitos familiares e a decadência se encontram em primeiro plano aqui e seu relacionamento com o pai é mencionado quase que em todas as faixas, que exploram subtópicos como sexo, solidão, desilusão e abandono. Todo esse furacão de sentimentos é visualmente expresso na capa do disco, uma colagem em que cada elemento faz alusão a figuras citadas no LP ao decorrer das faixas.
Trouble foi o fator que consolidou sua imagem como uma das maiores compositoras da nova geração. Diga se de passagem, foi também um estabelecedor de parâmetros musicais na indústria, mesmo que seu mérito não seja reconhecido. Foi nesse álbum que os mega produtores Jeff Bhasker e Emile Haynie puderam experimentar livremente o que mais tarde iria reverberar em todas suas produções. O público específico da cantora e sua distância do mainstream proporcionaram uma liberdade em estúdio para a artista e os produtores que possibilitou uma onda de experimentos, desde o uso de samples até faixas condensadas com interludes.
Recentemente, a compositora trabalhou com Madonna na icônica “Holy Water”, do álbum Rebel Heart, e com Rihanna, na faixa indicada ao Grammy “Kiss It Better”, presente no álbum ANTI.
Já como Teddy Sinclair, líder da banda Cruel Youth, lançou o EP 30mg, recheado de músicas incríveis, como a sensual “Alexis Texas” e a melancólica “Mr.Watson”. Agora, paralelamente, Teddy investe no projeto The Powder Room, do qual ainda sabemos pouco e basicamente só temos a empolgante “Birds”, parceria com o DJ de indie bass IZII.
Com tantas qualidades, é uma pena que o mundo ainda perca seu tempo julgando um de nossos maiores gênios quando se trata de música contemporânea, por um erro que se assemelha muito com as jogadas de marketing da indústria midiática para atrair buzz a determinada coisa, erguendo e destruindo carreiras diariamente.
Embora não tenha feito nada que Madonna não fez com sua arrogância exacerbada há anos atrás, foi julgada de forma nunca vista antes e teve o fim de sua carreira decretado por “críticos musicais do Facebook” – uma das dádivas que a internet nos deu. E assim segue já que, nesse jogo incerto e cheio de golpes que a indústria propõe, existem aqueles que permanecem no cenário por excelência. Queira ou não, esse é o caso de Teddy Sinclair.