O ano ainda é 2016, mas se alguém me dissesse no último dia oito que eu entrei em uma máquina do tempo e fui parar em 2004, isso não me assustaria.
Após todo um clima de indecisão, resolvi encarar mais uma das tarefas que a gente faz achando que vai se arrepender e termina com uma boa impressão. Pois é, antes que você me recrimine pela frase acima, preciso dizer que nunca fui fã do Simple Plan. Lá em 2004, eu era da turminha que pegava no pé de quem gostava da “banda do baixista de cabelo estranho”. Ainda que o David Desrosiers não tenha dado as caras na tour pela América Latina alegando problemas pessoais, lá estavam os fãs prontos para ver o restante da banda, formada por Pierre Bouvier, Sebastien Lefebvre, Jeff Stinco e Chuck Comeau.
Entrei no Music Hall munido de uma ideia maluca para os meus quase 30 anos de idade: Ficar o mais próximo possível da grade no show do Simple Plan. Claro que a ideia foi abortada quinze minutos depois e voltei ao local que eu mais me sinto bem, no fim da pista. É por lá que você observa as pessoas que vem e vão ao longo da noite e cria uma percepção bem legal do show. Em um local estratégico – e já devidamente preparado para passar a noite virando long necks de Heineken, era só esperar a banda entrar no palco e ver o que me esperava.
Para aquecer o público, o DJ Iggor Ahrends, da festa E eu que era emo? tratou de tocar todos os hits que fizeram sucesso na época em que o Simple Plan estourou com os álbuns No Pads, No Helmets… Just Balls (2002) e Still Not Getting Any… (2004). Teve Avril Lavigne, Paramore, Panic! At The Disco, My Chemical Romance, Linkin Park, Evanescence e outros hits da época com quais todos os presentes se identificavam. Até este que vos escreve cantou uma ou outra naquele momento. No entanto, a melhor música pré-show foi tocada quando o DJ já estão estava mais se apresentando e o som da casa nos brindou com “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”. Não esperava ouvir Michael Jackson na espera pelo Simple Plan, mas como em São Paulo tocou até Wesley Safadão, a surpresa foi muito bem vinda.
Pouco tempo após o horário previsto, o quarteto momentâneo entrou no palco com “Opinion Overload”, “Jet Lag” e um medley de “Jump” com “I Gotta Feeling” (Black Eyed Peas) como a trinca de abertura. Com o público já ganho desde a compra dos ingressos, qualquer música incluída no setlist agradaria aos que lá estavam. Isso fica comprovado por um grupo de amigos que estava na minha frente e que, a cada música tocada, um comemorava como se fosse a música mais importante da sua vida. E eu não estou exagerando, te juro. Apesar disso, foram os hits da carreira da banda como “I’d Do Anything”, “Welcome to My Life”, “Addicted”, “Crazy” e “I’m Just a Kid” que acabaram sendo os mais aclamados ao lado do single mais recente, “Perfectly Perfect”. Sobrou até espaço para mais um medley com covers de “Uptown Funk” e “Can’t Feel My Face”, veja você.
Pode ter faltado uma ou outra música no setlist, mas se tem uma coisa que os fãs não vão poder reclamar é da entrega da banda no palco. Ainda que desfalcada, a banda se desdobrou para dar o melhor possível aos fãs sem o seu baixista e o resultado foi bem positivo. E ainda sobrou mais espaço para Pierre e companhia se jogarem e promoverem um verdadeiro concurso de pulos em cima do palco. Isso aliado ao amor declarado diversas vezes aos fãs (e especialmente as fãs) brasileiros e as caipirinhas ao longo do show fazem do Simple Plan uma banda querida. Teve até bolas jogadas para o público durante “Summer Paradise” para recriar o clima de praia que o vocalista exaltou antes da música.
Antes do bis, me caiu a ficha mais legal da noite: De todo o público presente, poucos seriam identificados como emos hoje em dia. Dez anos depois, os fãs do Simple Plan hoje também integram outras tribos e é legal ver toda essa nostalgia sendo criada por uma banda que, até pouco tempo atrás, era novidade para todo mundo.
Para fechar a noite, um bis com “Shut Up”, “Perfect World”, “Untitled” e aquela que todo mundo na face da terra ouviu pelo menos uma vez na vida: “Perfect”. Até eu cantei junto porque, né? Quem tá na chuva é pra se molhar e ser feliz de alguma forma. Entre a turma da nostalgia e os fãs atuais, o Simple Plan salvou a noite de todos.
Agora eu vou me retirar, pois preciso colocar o poster do show na parede.
Fotos: QU4RTO STUDIO