Pela primeira vez em pouco mais de dez anos de existência do projeto City and Colour, o cantor canadense Dallas Green desembarcou em Belo Horizonte. Aproveitando a turnê de lançamento do disco If I Should Go Before You, de 2015, a banda retorna ao país um ano depois dos shows memoráveis em São Paulo e Rio de Janeiro.
Com um pouco de atraso (o que motivou o excesso de cervejas que tomei enquanto esperava), a apresentação começou com a épica “Woman”, faixa de abertura do último CD. Perfeito para criar o clima da noite: ao contrário dos shows de 2015, desta vez a banda veio para mostrar um show de turnê e músicas mais experimentais do que as presentes nos outros trabalhos. Com mais de dez minutos de duração, ouvir “Woman” ao vivo foi o equivalente a uma viagem psicodélica. Assim como a maioria do repertório do show, esse era um momento para satisfazer a alma. Fechar os olhos e embarcar nessa “viagem” para ser feliz.
Na sequência tivemos “Northern Blues”, segunda faixa de If I Should Go Before You. Como se trata de uma turnê de divulgação, é normal que o setlist seja praticamente todo em cima do disco mais recente: “Wasted Love”, “Killing Time”, “Lover Come Back” e a homônima do disco completam o repertório “inédito” de Dallas Green. O restante do show ficou por conta de canções dos trabalhos anteriores, como “Two Coins”, “Hello, I’m In Delaware” e “The Grand Optimist”, num momento emocionante da apresentação pouco antes do intervalo.
No retorno, Green reapareceu acompanhado do seu violão e iniciou uma bela releitura de “Comin Home”, uma das suas canções mais conhecidas. Com arranjos bem diferentes da gravação, a música conseguiu manter a essência de nos fazer fechar os olhos e cantar baixinho cada verso. Para deixar o momento ainda mais especial, Green incluiu um trecho de “This Could be Anywhere in the World”, do seu projeto Alexisonfire, no final. A despedida ficou com a dobradinha “Fragile Bird” e “Sorrowing Man”, com a banda improvisando bastante nos arranjos – mas bem menos do que em 2015.
O show do City and Colour é um daqueles programas perfeitos para ir acompanhado, especialmente se o casal compartilhar o amor pela música. O estilo da banda favorece demais esse clima romântico, independente das músicas não serem lá dedicadas apenas para o tal do amor que não tive a chance de ser apresentado adequadamente ao longo da vida.
É inevitável fazer comparações quando você já conhece o show de determinado artista, mas a verdade é que o City and Colour estava mais “livre, leve e solto” na visita de 2015, quando não tinha a pressão de repetir repertório e trabalhar na divulgação do disco. Dallas Green estava concentrado e pouco interagiu com o público, apesar da casa de shows relativamente cheia. A apresentação que vi no Rio de Janeiro em 2015 está na minha lista de shows favoritos da vida, enquanto a do último sábado parecia ser apenas um reencontro morno com sua ex-esposa: vocês se amam, sempre será especial, mas faltou o detalhe do amor.
E mesmo assim, o City and Colour nos presenteou com uma noite memorável.
Foto do post: Natalia Lacerda