A primeira coisa que olhei antes de viajar de Fortaleza para Omaha, foi a agenda de shows do Paul McCartney. Primeira tentativa: Los Angeles. Não deu. Segunda tentativa: Miami. Não deu. Terceira tentativa: não existia, já havia desistido.
Porém, uma madrugada que tinha tudo pra ser mais uma qualquer de insônia pesada, mudou todo o curso… Estava eu à toa pelo Twitter, quando, de repente, leio pelo @TheBeatlesFans que o Paul havia anunciado mais alguns shows pelo USA. Beleza pura, fui eu olhar, sem expectativas, mas… ¨não custa nada¨.
Passando os nomes, vejo: Kansas City 24/07, que fica a quatro horas de viagem daqui. Pronto. Uma noite sem dormir, quase. Consegui me desligar com o sol raiando, mas logo acordei, precisava contar pro meu irmão tão cedo ele acordasse! Expectativa mil! rs.
Esperamos umas semanas pra comprar o ingresso, uma briga pra comprar, mas depois que a gente descobriu o tickets now, todos os problemas se resolveram. Pronto, agora era só mais um mês e uns dias a mais para o sonho virar realidade.
Uns dias antes do show, o ingresso chegou. Fiquei meia-hora olhando pra ver se era verdade, rs. É… a ficha só caiu quando cheguei na rua do Sprint Center e vi um outdoor imenso anunciando o show. A fila para entrar era imensa, mas dava pra sentir que estavam todos na mesma vibração: uma mescla de ansiedade com ¨não-tô-acreditando¨. Pessoas de todas as idades, de crianças à sessentões beatlemaníacos. E os comentários ao longo da fila eram demais também… ¨minha adolescência inteira foi Beatles, e essa é minha primeira chance de ver um de perto¨… No fundo, todo mundo tava compartilhando do mesmo feeling.
O show tava marcado para 19:30h, mas começou somente às 20:30h. Cada minuto depois da hora marcada era um passo a mais para um ataque cardíaco. Cada grito que a galera dava, cada palma que alguém puxava… Todos os preparativos foram uma tortura, rs. Juro que a sensação foi mais louca do quê a que a gente sente numa montanha-russa. Quando ele entrou no palco, simplesmente não me aguentei, as águas rolaram. Ele começou com ¨Venus and Mars/Rock Show¨ … foi o meu preparativo pra tirar os pés do chão … ¨waiting for the show to begin¨, hehe.
Logo em seguida, ele veio com ¨Jet¨, oh man, o quê que foi aquilo! Todo mundo foi ao céu e voltou! Nice! Mas aí ele veio com ¨All My Loving¨ … acabou com meu coração! Meu irmão e eu enlouquecemos. Então ele tocou ¨ooooh, i feel like letting go¨ … foi demais. Mas ¨Drive My Car” em seguida foi mais emocionante.
Cada música dos Beatles que ele tocava me dava uma sensação que não cabe escrever aqui. Então veio ¨Highway¨ e, logo em seguida, uma das que fazem parte da carreira solo dele que eu mais esperava, ¨Let Me Roll It¨ … foi o momento ¨garganta, pra quê te quero!¨. Mas não parou por aí … depois dessa, ele foi pro piano e decidiu acabar com todos os beatlemaníacos, tocando ¨The Long and Winding Road¨ … eu já não sabia mais onde estava, lindo demais.
Uma pausa para respirar, em meio à palmas, gritos, toda a euforia e o feeling que a galera tava expressando. Então ele tocou ¨Nineteen Hundred and Eighty-Five¨. Mas quando ele veio com ¨Let’emm innnnn¨… a galera foi à loucura, repleto de assovios e palmas. A próxima ele disse que foi dedicada à Linda, mas ele redirecionou e dedicou ao público, rs, é… ¨My Love¨ me fez derreter mais ainda. – Comentário dispensável, mas eu passei dias imaginando quando ele cantasse essa, rs.
Os minutos seguintes foram INSANOS! nada mais, nada menos que ¨I’ve Just Seen a Face¨, quando ouvi os primeiros acordes, simplesmente não acreditei … meu primeiro disco beatle foi o Help!, foi uma surpresa que ele estivesse tocando essa música no show, sem mais palavras. A sequência com ¨And I Love Her¨ foi de destruir, linda e linda. Então ele deu uma pausa, não largou o violão … e trocou algumas palavras para explicar a próxima música, escrita em 68 como uma reação contra o forte preconceito racial e a falta de direitos civis dos negros em um episódio ocorrido na capital de Arkansas, Little Rock. Por trás do simbolismo do pássaro negro, a mensagem de esperança. Com certeza, ¨Blackbird¨ foi cheia de emoção. E ainda há quem diga que Beatles é só ¨iê-iê-iê¨.
Agora se você acha que esse foi o momento mais emocionante da noite, tá enganado. Até então, minhas lágrimas só haviam caído quando ele subiu no palco. Mas o episódio seguinte me fez criar um rio através dos olhos… Ele iniciou contando que às vezes a gente não fala o quanto alguém é especial enquanto temos oportunidade de falar – isso me lembrou um pouco ¨é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”, mas, enfim – e seguiu falando que depois, quando queremos falar, é ¨is too late…¨ … ¨essa música era pra ter sido uma conversa entre mim e o John, são palavras que eu gostaria de ter dito pra ele enquanto ele tava ao meu lado¨, traduzir com fidelidade é difícil, porque foi tanta emoção, mas só isso basta para sentir o que veio depois, era a música ¨Here Today¨ … ¨and if i say, i really loved you, and was glad you came along…¨. Minhas lágrimas foram do começo ao fim, inclusive agora, basta lembrar. Foi uma sensação tão forte que é difícil de traduzir e de transmitir por palavras. Inevitável que as lágrimas caíssem.
Então ele seguiu com ¨Dance Tonight¨, essa foi para dar um tempo nas lágrimas. Muita emoção para poucos minutos, rs. Depois, em meio aos ¨ô, ê-ô!¨, foi a vez de ¨Mrs. Vanderbilt¨… demais! haha. Mas não demorou muito e logo voltamos ao repertório beatle, agora com “Eleanor Rigby”. Foi só um preparativo para outro tributo. Foi John, agora era a vez de George. A versão de ¨Something¨ veio com um instrumento diferente, Harisson adorava tocar o ¨ukulele¨, pra quem não conhece, uma espécie de ¨cavaquinho havaiano¨.
Pronto, e lá foram as lágrimas, de novo. ¨Era para você tá aqui, georgy¨ … As homenagens foram os momentos mais emocionantes, mais fortes… momentos inesquecíveis, sem dúvidas.
Então ele seguiu com ¨Sing the Changes¨, ¨Band on the Run¨, que foi um presente aos fãs de Wings … demais!. ¨Ob-La-Di Ob-La-Da¨, só alegria! ¨Back in the USSR¨, que me levou à loucura, rs… e, na sequência, ¨I’ve Got a Feeling¨, ¨Paperback Writer¨ e, numa sequência de luzes bem psicodélicas para dar o tom, ¨A Day in the Life¨ juntando, no final da música, com ¨Give Peace a Chance¨… um segundo tributo ao Lennon, linda homenagem, bem emocionante.
De volta ao piano, é a vez de ¨Let it Be¨ … sem palavras… minutos e mais minutos de palmas depois de tocar, todo mundo foi ao delírio. Em ¨Live and Let Die¨, um show de luzes e fogos. Depois dela, veio a música que eu mais esperava, a que me rendeu um segundo nome, a que ficou under my skin … “Hey Jude”.
No momento, só pude sentir o abraço do meu irmão … Basta lembrar para que meus olhos se manifestem, rs. O quê mais eu poderia querer depois de ouvir, junto com meu irmão, Paul McCartney cantar Hey Jude? Nada. Nada mais.
Então ele se despediu e a galera enlouqueceu. As palmas não pararam enquanto ele não voltou. Por mais que a gente soubesse que ele ia voltar, ou ao menos a maioria, não tinha como evitar a emoção de vê-lo subindo o palco novamente! ¨Day Tripper¨, ¨Lady Madonna¨ e ¨Get Back¨ fizeram a galera enlouquecer mais ainda, ele bem se despediu, mas o ¨Get back, Paul¨ o fez retornar com ¨Yesterday¨, ¨Helter Skelter¨, que, inclusive, acabou com a minha dúvida quanto a significado, nada de confusão ou algo do tipo, é montanha-russa mesmo.
E, para fechar com chave de ouro e aproveitando que a galera tava fervendo, foi a sequência de ¨Sgt. Peppers¨ e ¨The End¨, sem dúvidas ¨we were enjoying the show¨ … e ficou a mensagem, ¨in the end, the love you take is equal to the love you make¨.
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Enfim, ele mostrou por quê os garotos de Liverpool eram considerados tão carismáticos. Entre uma música e outra, as piadinhas eram inevitáveis. Deu para sentir um pouco do gostinho dos anos 60. Agora, só me restam milhares de fotos, uma garganta detonada e a certeza de que Beatles é muito mais do quê meu ¨vício desenfreado¨.
Na mente, na pele, por dentro da pele … e é isso, chegou a hora de curtir minha depressão-pós-show, rs. 🙂
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P.S.¹.: Decidi fazer um passeio pelo set list, mas antes disso, decidi começar pelo começo e compartilhar um pouco do antes-durante-depois. Talvez esse seja meu único post em tom pessoal, de verdade. Mas, penso que seja algo inevitável, a emoção foi maior. 🙂
P.S.².: A foto, tirada pelo meu irmão porque eu não estava em condições de tirar, foi na hora de ¨Hey Jude¨.
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Por: Gleyce Any Castro