Sabe aqueles devaneios da madrugada que surgem do nada?
Aproveitando a noite de insônia, me peguei ouvindo uma playlist que me premiou com músicas do The Calling, mais precisamente do álbum Camino Palmero. Resolvi ouvir o CD todo e fui teletransportado para 2002/2003. Naquela época, lá estava eu descobrindo os prazeres da adolescência e curtindo o meu ensino médio “mucho loco”. Ok, nem tanto, mas foi uma época legal e que me deu boas recordações. Algumas delas até ligadas ao The Calling e algumas de suas músicas.
Naquela época, eu (e as pessoas ligadas as lembranças) certamente achava tudo “lindo de bonito” com as músicas desse CD mas, anos depois, me pego observando as letras e concluindo que: O Camino Palmero não tem nenhuma música onde o cara da história se dá bem e é plenamente feliz. Duvida?
O disco começa com “Unstoppable” e já vem quente com o cara querendo que a mulher estivesse na cama dele, bêbada e disposta a entender que, mesmo ele se privando de amar, ela se tornou fundamental pra ele por causa de sexo. Sim, sexo. Ou vai me dizer que, ao dizer “se nós tivessemos essa noite sozinhos, seriamos impossíveis de parar”, ele tá falando de jogar videogame na madrugada? E não venha me dizer que o papo era “somos amigos mas podemos ter um relacionamento amoroso”.
Em “Nothing’s Changed” vemos a história do cara que faz tudo pela mulher e ela não consegue confiar nele ou sequer acreditar que ele pode ser alguém na vida. Mas ela não diz isso a ele. Vai lá, bota pilha pro cara seguir os seus instintos e, no fundo, acredita (ou sabe, já que mulher tem esse sentido meio aguçado) que não vai dar em nada. Daí, num belo dia, o cara descobre tudo, vê que a vida com ela é uma mentira e cai em desgraça. E claro, bota a culpa nela. Afinal, a culpa é dela mesmo (contém ironia). Tem gente que fala que a música pode representar uma relação pai e filho. E até faz sentido. Mas a versão homem e mulher é mais legal, desculpa.
Depois disso, começa “Wherever You Will Go”. O grande hit do CD (e da banda) onde Alex fica divagando sobre como seria a vida do seu amor caso ele não estivesse por lá. Ou sobre como ele queria achar um jeito de estar sempre ao lado dela. É sobre amor, possessão, onipresença… e dizem que é sobre morte e “plano superior”. Pra mim, é só um cara que não consegue aceitar que é feliz e fica caçando confusão. “Ai, o que você faria se eu não estivesse aqui? Arrumaria outro!”.
“Could It Be Any Harder” é sofrível. O cara perde alguém e não sabe como lidar com isso. Acorda num belo dia e a pessoa amada se foi, deixando um bilhete dizendo que “não dá mais, se sente sufocada e precisa se encontrar”. E o Alex passa a música inteira dizendo “você se foi, você se foi, você se foi, você se foi, ooooh” como se isso fosse trazer a pessoa de volta. No mínimo, tem outro. Ou se cansou desse “meeeel, tua booca tem um meeeel” do Alex. Pura verdade.
Chegamos em “Final Answer” e a história do cara que conhece uma mulher, fala que a quer, que busca um relacionamento sério, se declara com direito a flores, chocolates, frases bonitinhas e ela… ENROLA. E o cara fica esperando… esperando… esperando… Esperando que ela enfim diga que sim ou não. Ou que pelo menos saiam dessa putaria de não saber se tem alguém ou não.
Na metade do CD, temos “Adrienne”. E todo homem já teve uma Adrienne na vida. Aquela mulher que parecia ser ideal, perfeita para você e, no fundo, ela só estava te usando e, no primeiro momento que tivesse, estava pronta para te descartar na lata de lixo mais próxima. E ela fez isso. Parece machista, mas podemos trocar os gêneros porque tem muito homem que banca o “Adriano” por aí. Enfim, pura decepção.
“We’re Forgiven” é talvez a única música que pode ser encarada no contexto “amor”. Alex fala sobre pessoas dormindo nas ruas e como as pessoas parecem não se importar com isso, inclusive usando a velha desculpa do “não é culpa minha” para acreditar que está tudo bem. ~ounnnnnn que bonitinho uma letra política no meio de tanta dor de cotovelo~
“Things Don’t Always Turn Out That Way” é aquela música sobre o cara que conheceu a garota e se encantou de tal forma que não consegue nem dormir mais. A mulher aparece do nada, vira a vida do cara de cabeça pra baixo e tudo o que ele quer se resume em três letras: ELA. Mas, seguindo a máxima de que “o cara do Camino Palmero nunca se dá bem”, é claro que ela não vai querer nada com ele e vai esnobar o garoto, fazendo com que ele perceba que nem sempre as coisas acontecem do jeito que imaginamos. Tadinho.
Entrando na reta final do disco, conhecemos a história do cara que conhece uma mulher que se acha “a última bolacha do pacote”. Bem vindos a “Just That Good”, música onde Alex fala sobre uma garota egocêntrica, mimada, que só quer status e se acha a um ponto de não conseguir compreender que a vida tá passando e, com isso, está perdendo uma das poucas pessoas que a amou de verdade. Pelo menos aqui ele viu a ficha caindo e percebeu que ela não serve pra ele. Sei lá.
Depois de todo esse clima vem “Thank You” e eu fico pensando: O que Alex teria pra agradecer depois de todas essas histórias onde “o cara do Camino Palmero só se ferra”? Talvez ele aprendeu alguma coisa com tudo isso, né? Se descobriu, viu o que não estava encaixando na sua vida. E isso nos leva a última música do disco, “Stigmatized”.
Reza a lenda de que a letra de “Stigmatized” foi inspirada em um casal gay que não podia ficar junto por causa de religião e família. Depois de tantas desilusões amorosas, de ser passado pra trás, de ver sua vida estagnada e ficar “estigmatizado” por ser a pessoa que só se ferra no amor, o cara de Camino Palmero se descobriu, se viu “diferente” do padrão imposto pela sociedade. Entendeu ou quer que eu desenhe?
Em 49 minutos, o personagem central do CD sai da vontade de ter uma mulher na cama e se descobre gay. O mundo é mesmo uma caixinha de surpresas, não? E depois desse devaneio, eu vou dormir.