O Rio de Janeiro teve um final de semana bem quente com a primeira leva de shows do Rock in Rio.
Beyoncé, Muse e Justin Timberlake foram as atrações principais dos três primeiros dias, e o Audiograma acompanhou as apresentações dos dois últimos. Mandamos um convidado especial para o show da Beyoncé em São Paulo – e ele já foi demitido da redação do site*.
A quinta edição do mega Festival Rock in Rio no Brasil teve algumas evoluções em relação aos shows realizados em 2011. Diminuíram a carga total de ingressos para tentar facilitar a movimentação do público (lembrando que os ingressos esgotaram para todos os dias do evento), haviam banheiros posicionados em locais estratégicos, muitos bares e restaurantes (cerveja Heineken para a nossa alegria! Pizza da Domino’s para a nossa alegria! Pão de Queijo gostoso, de verdade, mas caro; dentre outras opções), vendedores ambulantes (que obviamente extorquiram o público nos shows finais cobrando o dobro do valor da água, que é de R$ 4), e tudo isso funcionou bem para quem não ficava com preguiça de andar de um lado para o outro e evitar perder tempo em filas. O grande problema enfrentado pelo RiR foi a caminhada de um palco para o outro, já que muitas pessoas se acomodavam no chão e dificultaram a vida de quem tentava se deslocar pela cidade do rock. A fila de espera para a abertura dos portões também não foi lá muito legal, já que o trajeto inclui um córrego bem do fedorento. Imagine o que é ficar ali parado por horas, no sol quente, os mosquitos e aquele aroma gostoso?
O sábado começou com uma longa fila debaixo de um sol escaldante. Um grande número de pessoas tentou organizar uma fila, mas a educação brasileira prevaleceu e a maioria se amontoava no começo da fila e entrou antes de quem ficou horas esperando. Chame de injustiça, esperteza ou sei lá o que, mas é assim que as coisas acontecem. Ouvi relatos de que entrar na Cidade do Rock após as 15h se tornou um pesadelo, com demora de até duas horas. Quem chegou feliz, leve e suado foi direto para a fila da Tirolesa e da Montanha Russa ou para os bares para garantir as fichas do restante do dia sem enfrentar filas (um exemplo de superação do trauma sofrido por aqueles que perderam shows inteiros do SWU 2010 ou Lollapalooza 2011 na fila, mas que no RIR não passou de uma preocupação inicial tamanha a organização e cuidado com os bares). A parceria do B-Negão com o Autoramas abriu a programação do Palco Sunset em grande estilo, com algumas covers (com direito a “Queimando Tudo”, do Planet Hemp) e canções de suas respectivas carreiras.
Pouco depois foi a vez de Marky Ramone subir ao palco e mostrar que, apesar de parecer uma múmia, continua com o mesmo espírito punk dos Ramones. Foi uma apresentação alucinante, com direito a uma quantidade considerável de clássicos de uma das principais bandas de todos os tempos. Os fortões, incluindo os gordos que se acham fortes, se divertiam socando uns aos outros enquanto a maior parte tentava acompanhar as músicas cantadas por Michale Graves, do Misfits.
O Capital Inicial fez as honras do Palco Mundo, mas os leitores do Audiograma já sabem o que tenho a dizer sobre a banda (se você não acompanhar o site, clique aqui para entender). Até onde deu para ouvir, Dinho havia falado “cara” seis vezes. Considerando que 100% das críticas do Rock in Rio fizeram uma ou outra referência ao vício verbal do vocalista, nós decidimos deixar isso de lado e partir logo para o primeiro grande show da noite (e um pecado ter sido colocado na programação do Palco Sunset): os californianos do Offspring transformaram o pequeno espaço do palco menor em uma caldeira infernal, com diversas pessoas fugindo para não desmaiarem (e outras sem a mesma sorte). Uma pena que, para quem ficou distante, o som estava horrível. Tudo bem que a organização podia alegar que o som de um show poderia atrapalhar o outro, mas para o público comum isso pouco importa e ficou aquela tristeza de não conseguir escutar o repertório da banda da melhor maneira possível. O ponto alto do show foi a participação de Marky Ramone na cover de “California Sun”, do Ramones.
Apesar da maioria dos jovens (meninos e meninas) usarem camisas do Muse, a impressão é que o público estava mais ansioso pelo Jared Leto e seu 30 Seconds to Mars, e a diva Iemanjá conhecida como Florence Welch, do Florence + The Machine. O ator de Clube da Luta e Réquiem Para Um Sonho fez um show morno, especialmente para os fãs, e até se esforçou para compensar a ausência de canções de qualidade com uma performance empolgada. Ele chegou a subir no alto da tirolesa para cantar duas canções no violão, incluindo “The Kill”, uma de suas melhores faixas e que teria sido muito mais interessante se tivesse sido tocada com a banda inteira. No mais, foi apenas um cabeludo gringo maluco chapado de açaí e se divertindo como criança no palco principal de um dos maiores festivais de música do planeta.
Já a Florence foi uma surpresa agradável e fez um dos grandes shows do Festival. Se Leto aprendeu a usar tudo que aprendeu no cinema como forma de disfarçar a ausência de aptidão musical, Florence consegue fazer ainda melhor sem nunca ter precisado trabalhar com David Fincher ou Darren Aronofsky. A cantora é incrivelmente performática, seus olhares hipnotizam o público e mesmo quem inicialmente ficou de saco cheio de ver uma doida de camisola correndo de um lado para o outro começou a prestar atenção no show. O clima de bruxaria ficou ainda mais explícito quando a ruiva brincou pedindo um pouco de “sacrifício humano” (que na verdade, não se tratava de nenhum ritual da pomba gira: era apenas para os namorados colocarem suas respectivas em seus ombros). Para quem só conhecia “Dog Days Are Over”, Florence + The Machine se revelou uma banda bem mais interessante – mas ainda assim, foi somente nessa música que os gritos histéricos ficaram realmente estridentes.
O Muse iniciou o show com “Supremacy”, música do contestado trabalho mais recente e o público parecia corresponder à altura. Depois vieram outros sucessos mais conhecidos e mais faixas do The 2nd Law, sempre com uma participação relevante da plateia, que só se calava (totalmente) quando a banda tocava faixas que, hoje, são consideradas “alternativas”, como “Hysteria”, “Stockholm Syndrome” (avisa lá na cozinha -sic – que essa é a grafia correta) e “Unnatural Selection”. Se essas músicas mais “conhecidas” deixaram o público apático, parecia um velório quando o vocalista Matt Bellamy iniciou a riff do b-side (de verdade agora) “Agitaded”. A apresentação ainda enfrentou alguns probleminhas técnicos, especialmente em “Starlight”, quando o sampler ficou completamente desnorteado e a banda se desdobrou para não fazer feio e parar a música diante mais de 85 mil pessoas que pagaram para estar no Rock in Rio e mais as milhares que acompanharam pela televisão e internet. O final incrível veio com “Knights of Cydonia”, que novamente foi vítima de comentários desinformados de gente que desconhece tecnologia: desde 2008, os “entendidos” que comentam música no país acusam o Muse de utilizar playback. E sempre na mesma música. Uma pena que a evolução técnica que a banda demonstrou no palco (inclusive com direito ao vocalista interagir com as pessoas que se espremiam na grade, algo quase inédito!) não tenha sido acompanhada pela evolução da crítica musical no país.
.
Fotos: Hick Duarte (foto 1) / Marcelo Mattina (Florence) / Fernando Schlaepfer (Muse)
.
* rsrsrs