A dupla musical Mulatu, composta por Raphael D’Oliveira e Meifeis, lançou o EP Gente, que já está disponível em todas as plataformas digitais.
O trabalho marca três anos de exploração artística desde o surgimento do primeiro som da dupla. Inspirados por nomes como Jorge Ben e Criolo, eles se autodenominam artistas de MPB alternativa, onde a base é a MPB, mas as influências se expandem, abrangendo afrobeat, R&B e mais.
O EP não é apenas uma coleção de músicas, mas uma revisitação e reinvenção de composições que já existiam, mas permaneciam guardadas à espera de uma identidade artística. O encontro com o produtor Carlo e a JOINT deu à Mulatu a liberdade artística desejada. Gente é uma experimentação de diferentes ritmos, uma expressão de pluralidade que mantém uma singularidade intrínseca do início ao fim.
Na perspectiva de vocês, como a música brasileira tem evoluído e vocês acham que estamos saindo da chamada “síndrome do vira-lata”, valorizando mais a música brasileira?
Estamos realmente chegando a esse ponto. Ainda há algo meio complicado em abraçar o público da música brasileira quando alguns pensam que vivemos praticamente com o sertanejo. E então acabamos reconhecendo que não toca ou não escutam, ou usam como referência. Além disso, acho que, principalmente devido à questão de acesso nos dias de hoje, as pessoas têm muito mais acesso às musicas, como no Spotify e playlists. Isso, eu acredito, contribui para que tanto o público quanto os artistas, que são parte desse público, tenham uma dinâmica diferente em suas vidas, não é? Acabamos conhecendo mais sobre a nossa música porque temos mais acesso, compreende?
Eu chego ate mesmo a discordar da síndrome de vira-lata quando a gente tá falando de música. Eu acho que o brasileiro tem uma boa noção da qualidade musical presente na nossa música. Eu acho que a gente cresce, aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, eu não sei como funciona no resto do Brasil, pra falar a verdade, mas eu acho que a bossa nova é uma coisa muito presente, assim, no nosso dia a dia e eu acho que a gente enxerga isso como sendo um grande ponto forte da cultura brasileira.
Em relação à música, eu realmente não acho que a gente tenha essa síndrome de vira-lata. Agora, tem vários outros aspectos relacionados à questão mais técnica, né? A técnica da música, por exemplo, que a gente realmente enxerga a galera de fora fazendo tudo muito melhor por conta do acesso, por isso.
Agora, em relação à composição, em relação à criatividade, eu acho que a gente é muito seguro de que a música brasileira é uma música muito representativa.
Pensando na ideia de shows, vocês têm uma turnê aí pela frente? Alguma novidade pra adiantar pra gente?
Então, na verdade, estamos em um processo agora de montar o show no estúdio, né? Porque nós somos dois na banda hoje. Então a gente toca com o VS por trás, e aí a gente tá fazendo um trabalho com o produtor do EP, que é o Carlo, pra montar esse background do show, onde a gente consegue fazer o show sozinho, onde a gente consegue fazer o show com a banda também, tendo alguns elementos gravados no estúdio. Então, a agenda, a agenda a gente não tem. A gente faz alguns shows por aqui, às vezes, mas a gente tá no processo de aprimorar esse ao vivo pra poder tornar… pra tornar o produto com a cara da banda, de fato.
Quais são as mensagens vocês desejam transmitir pro público através das composições e da sonoridade dentro do EP de vocês? Existe uma narrativa que conecta as músicas?
Existe uma conexão entre as músicas, mas é algo meio subjetivo, sabe? Elas foram escritas em intervalos bem espaçados, ao longo de um bom tempo. Então, o EP, que era um projeto que trabalhamos por mais de um ano, finalmente se materializou agora, mas acabamos compilando músicas que produzimos ao longo desse período.
A parada é que não é um EP conceitual, no sentido de seguir uma história linear do início ao fim. Quando falamos em conceitual, rola mais na hora de criar a instrumental, captando diferenças brasileiras e misturando com elementos gringos, no EP, por exemplo, da primeira à última faixa, se tentarmos encaixar em um estilo específico ou rotular cada música, cada uma vai estar meio que… em uma caixinha diferente, entende? Mas tem elementos que conectam elas de ponta a ponta.
E quanto a composição, é um processo bem particular da Meifeis: O processo de composição, na minha visão, envolve a maioria das letras, que são todas minhas, mas contei com a luz de várias pessoas para me ajudar a dar forma a isso, principalmente o Max, um cara que conhecemos através dos vídeos que estávamos gravando.
O “Coisa Linda”, por exemplo, começou totalmente voz e violão. Na verdade, a maioria das músicas começo escrevendo voz e violão, e depois, no estúdio, a gente pensa em outras abordagens. Outras vezes, o Rafa traz uma ideia de beat que se encaixa com uma letra que já tenho. E aí, todas as letras, na minha opinião, complementando o que o Rafa falou, falam de situações bem brasileiras, sabe? Situações ou palavras que usamos muito, tipo, “Coisa Linda” é a expressão mais popular, assim. Tento carregar isso nas composições das minhas músicas, coisas bem populares mesmo.
Bom, o EP tem cinco músicas, na verdade, um interlúdio e quatro músicas, eu queria que vocês, em uma frase curta, representassem cada uma dessas músicas.
Interlúdio (BERIMBAU)
Começando pelo interlúdio, percebo que ali há uma clara ideia da sonoridade que buscamos. Este momento serve como uma introdução à ambientação que queremos criar em nossas músicas.
Coisa Linda
Em relação a “Coisa Linda”, acredito que ela representa a síntese do interlúdio, conforme mencionado na letra. É a expressão que reflete como queremos nos comunicar no nosso cotidiano. É como se ela fosse o lado A da nossa narrativa musical.
Inclusive, um adendo, sobre a primeira pergunta e a tal síntese de virar lado, acho que é importante esclarecer que não estamos fazendo música para imitar outros artistas. Estamos, na real, ensinando, criando um termo, construindo um lugar vibrante.
Yakuza
Quanto a “Yakuza”, vejo-a como a expressão mais próxima da realidade dos relacionamentos. Ela captura de forma intensa a essência da vida amorosa.
Bahia e Coisa Linda
Em relação a Bahia e Coisa Linda, percebo que desempenham papéis distintos. Enquanto Coisa Linda representa o lado A com sua breve, mas marcante presença, Bahia assume o papel do lado B, definindo-se como verdade criativa, uma última música que reflete liberdade criativa e despreocupação comercial.
Devagarinho
Na faixa “Devagarinho”, encontramos uma liberdade mais gradual. Ela desempenha o papel de proporcionar um olhar ascendente e positivo, sem comparações negativas. Nossas músicas, em sua totalidade, são um convite a olhar para cima, uma expressão alegre.
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