Em algum momento da sua vida, você vai chegar a um ponto onde você para de se importar com requisitos técnicos, líricos ou sonoros para considerar uma música ou uma banda boa: você passa a só querer se divertir com o que está ouvindo ou vendo em um show. Quando esse momento chega, você percebe que poucas bandas são realmente divertidas de se ver.
Não é o caso do Måneskin que, no último 3 de novembro, entregou um dos shows mais divertidos que já vi na vida (e é uma vida curta, ok? Completei 26 anos enquanto voltava do show, mas já vi muitos shows por aí, então tenho local de fala).
Durante as quase duas horas de show, a banda, que fez sua segunda passagem pelo Brasil depois de shows no Rock in Rio e na Audio, em São Paulo, em 2022, consegue provar por que é vista como uma das melhores — e mais quentes — bandas de rock da atualidade.
É fácil entender o sucesso do Måneskin prestando atenção em seus membros: Thomas Raggi, o guitarrista, é o mais técnico e habilidoso do quarteto, fazendo ótimos solos em músicas como GASOLINE e THE LONELIEST; Damiano David tem uma voz potente no estúdio e foi uma surpresa ver como sua voz funciona muito bem ao vivo também. Victoria De Angelis e Ethan Torchio que se juntam para fazer um solo de baixo e bateria em um dos momentos do show, apostam na simplicidade que funciona muito bem nas músicas que tem a guitarra como estrela nas versões ao vivo. E todos são muito, mas muito, carismáticos e magnéticos.
Desde o começo do show do Måneskin em São Paulo, com DON’T WANNA SLEEP, é impossível tirar os olhos do quarteto italiano: eles correm pelo palco, pulam de um lado para o outro, tocam juntos, se jogam na plateia, penduram sutiãs no pedestal do microfone e fazem tudo o que se esperava de uma banda de rock dos anos 80.
Há muita fumaça, há muitas luzes, há roupas apertadas de couro, gente sem camisa, riffs pesados de guitarra e integrantes tão bonitos que é impossível não ficar boquiaberto por um instante assistindo-os. E a parte mais impressionante é que a banda faz isso sem parecer caricata ou só uma cópia de bandas antigas: as referências estão ali, mas eles tem personalidade própria e conseguem facilmente segurar um show — e uma carreira, como podemos ver.
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As músicas de RUSH!, disco novo do grupo, receberam muitas críticas em seu lançamento, mas o show mostra que elas até podem não funcionar em estúdio, mas são feitas para tocar ao vivo: HONEY (ARE U COMING?) e BLA BLA BLA — que Damiano manda o público cantar para seus ex-namorados — são os destaques nessa leva, além da visceral THE LONELIEST. Por outro lado, as músicas de Teatro d’ira são tão boas quanto em estúdio, com destaque para IN NOME DEL PADRE e CORALINE, uma música belíssima que fica ainda mais bonita cantada ao vivo.
Apesar dos fãs mais fanáticos saberem cantar todas as músicas, incluindo as com letra em italiano, o público do show, formado por pessoas de absolutamente todas as idades (incluindo muitas crianças com seus pais, que pareciam tão animados quanto elas por estarem ali), não parecia conhecer metade das músicas tocadas ali. Isso não impediu ninguém de curtir o show, desde as crianças e adolescentes que estão conhecendo o rock com a banda até os saudosistas das bandas antigas, passando, principalmente pelos jovens que se inspiram no estilo do quarteto.
Como esperado, o momento em que todos foram à loucura foi quando o grupo tocou Beggin’, logo depois de uma reclamação de Damiano sobre estar cansado de apresentar a música. Nem mesmo as mais famosas I WANNA BE YOUR SLAVE e MAMMAMIA foram recebidas com animação, quem dirá músicas menos conhecidas, que ali, pareciam todas.
O único outro momento que pareceu conquistar o público e animá-lo tanto quanto Beggin’ foi quando Damiano e Thomas se colocaram no meio do público para fazer um cover de Exagerado, do Cazuza, em um português muito bem cantado pelo vocalista.
@gabicarol_ peguei um credenciamento pro @Audiograma e acabei vendo o Damiano cantando “Exagerado” no show do @Måneskin (esqueci de postar isso no fim de semana k)
Apesar do show divertido, é impossível deixar de criticar a repetição de I WANNA BE YOUR SLAVE na setlist. Mesmo sendo uma das favoritas do público, é uma vergonha repetir a música sendo que existem faixas como MARK CHAPMAN e FEEL, que poderiam render ótimas versões ao vivo.
Críticas a parte, o resultado do show do Måneskin em São Paulo é uma banda que tem ótimas referências, sabe o que está fazendo em seu trabalho, é tecnicamente ótima, é carismática o suficiente para arrastar grande parte do público e, o melhor de tudo, não se leva a sério o suficiente para deixar de se divertir no palco.
Para quem achou que seria só um fenômeno das redes sociais, tenho uma má notícia: a noite da última sexta mostrou que o Måneskin chegou para ficar.