Você provavelmente viu algum dos vídeos surpreendentes da apresentação do U2 no Sphere em Las Vegas. Se não viu, deveria. Se viu, te pergunto se ainda está sem acreditar (porque eu estou). Os irlandeses iniciaram uma longa série de apresentações homenageando o álbum The Achtung Baby (1991) na arena de shows mais moderna do mundo e estão dando o que falar.
Primeiro, vamos relembrar que o U2 sempre teve uma postura muito vanguardista à respeito do uso de tecnologias ao seu favor. Foram eles os responsáveis pela primeira grande transmissão de shows ao vivo pelo YouTube e também teve aquela vez em que adicionaram suas músicas no iTunes sem pedir permissão para ninguém (mas essa a gente deixa pra lá).
Nada mais lógico que usar o carisma e fama do U2 para mostrar o potencial da nova arena para o mundo. Deveria ser um momento de festa, mas na internet nunca é um mar de rosas, não é mesmo?
Ah, claro. É importante mencionar que o custo da Arena superou os 2 bilhões de dólares e o vocalista do U2 fez um discurso agradecendo o trumpista Jim Dolan, executivo da LiveNation/Ticketmaster. Para a imprensa especializada, Bono se alia aos nomes mais tóxicos da indústria atualmente. Entendemos que politicagem faz parte, mas tudo deveria ter um certo limite. Principalmente para o legado do U2.
O jornalista Regis Tadeu usou o X/Twitter para expressar a sua opinião: “É o ponto em que as plateias vão passar a não prestar mais atenção à banda/artista, mas sim às projeções. O show business morre a partir de hoje”. Apocalíptico, não?
Refleti bastante sobre o comentário e os possíveis impactos da nova tecnologia no mundo dos shows. Não cheguei à nenhuma conclusão, exceto que será excelente para as operadoras de cartão de crédito quando gastarmos fortunas em ingressos.
É improvável que alguém deixe de ir em shows porque agora teremos Arenas interativas. Os apaixonados por música ao vivo não viciados em smartphones (sei que eles ainda existem, só estão velhos, com boletos demais para pagar e filhos para criar) continuarão firmes e fortes. Para eles, se o artista favorito está no palco, se o som está bom, qualquer outra coisa é um agradável complemento.
Acredito que o “fim do show business” como a gente conhecia já começou há muito tempo. Inclusive, se você frequenta qualquer evento ao vivo, já sabe que as pessoas prestam mais atenção nos seus próprios celulares do que no palco. A experiência hoje só é real se você compartilhar no Instagram ou TikTok. Tanto faz se é o Paul McCartney, Maria Bethânia, Dave Grohl ou Jorge Ben Jor no palco: o importante mesmo é fazer uma selfie com essas lendas no fundo, afinal elas não fazem a diferença. São apenas uns artistas aí.
É injusto dizer que a nova experiência proporcionada por essa Arena seja a responsável por algo que já vem acontecendo há anos. Se existir um culpado, é o Steve Jobs.