Navegando pelo feed daquela rede social azul, outrora conhecida como Twitter, e atualmente X (qualquer semelhança com o outro site famoso que começa com x é mera coincidência — exceto no histórico do navegador do proprietário, talvez) encontrei um link do jornalista Igor Miranda sobre uma “discussão” entre o baixista Flea e um fã. “Fã”.
O rapaz demonstrou uma certa irritação e insatisfação com a ideia de assistir shows ao vivo e precisar ouvir improvisações dos músicos. Na sua (humilde) opinião, o correto seria guardar essas liberdades criativas para eventos menores e fazer apresentações em estádios respeitando 100% a gravação.
To be fair, if i could watch a hole show where they would just jam for 2 hours straight, i would love It. Actually i miss the jams in this tour a lot, but type of audience that comes to their shows nowadays are not into it, so having more songs would be better in general
— lusca (@heyitslucass_) September 30, 2023
Na tradução: “Há momentos certos para jams prolongadas. Você faz isso em um pequeno show em um clube ou teatro ou em um show promocional. Mas quando você toca em estádios, você tem que tocar as músicas que são boas e encurtar as jams.”
O curioso é que o argumento atraiu a atenção de ninguém menos que o próprio Flea, que defende jams em shows e dedicou seu precioso tempo para deixar sua opinião.
always jam live. if you just wanna see a song played like on a record, just listen to the record. where is the risk and hope for something higher without improvisation??? https://t.co/jZCmmZcVYH
— Flea (@flea333) October 1, 2023
Na tradução: “Sempre faço jams ao vivo. Se você quiser uma música tocada da maneira que ela é no disco, é só ouvir o disco. Onde está o risco e a expectativa de algo maior sem improvisação?”
Essa questão é curiosa porque, por exemplo, recentemente recebemos a visita do Foo Fighters, cuja ideia de improvisação e jam é muito diferente da proposta de Flea. Se nas apresentações do Red Hot Chili Peppers — que em breve se apresenta no Brasil — existe um claro virtuosismo da parte do baixista e do guitarrista John Frusciante, o que rende até variações bem diferentes de uma apresentação para a outra, no caso do Foo Fighters é o contrário: todas as “jams” são 100% iguais há ANOS. Sempre nas mesmas músicas. Sempre da mesma forma.
Talvez esse rapaz tenha ficado traumatizado com Dave Grohl. Talvez esse rapaz precise mesmo ficar em casa ouvindo os discos pelo Spotify (óbvio) e economizando dinheiro com os ingressos. Talvez, em algum multiverso, esse rapaz talvez esteja até certo em suas reclamações.
Porém, o que vejo é uma tendência de engessar tudo que se vê. Desde o comportamento, as relações e até mesmo a arte. Quando um artista precisa podar sua criatividade para dedicar apenas atenção ao lado comercial, podemos nos perguntar se estamos mesmo no rumo certo.
Pessoalmente, acredito que um verdadeiro fã dos Chili Peppers não tenha nenhuma restrição com os improvisos do Flea. Até porque ele é um dos maiores baixistas da história do rock e ter o privilégio de ouvir o cara ao vivo é especial demais para reclamar. Claro que as longas improvisações roubam espaço de mais músicas no repertório, mas qual é a graça de ser protocolar?