O primeiro semestre do ano se foi e temos uma pergunta: você é capaz de apontar os melhores álbuns de 2023 até o momento?
Passando rapidamente por sites que catalogam lançamentos, vimos mais de 500 álbuns lançados nos seis primeiros meses do ano e que receberam alguma resenha por aí. Por mais que a gente respire música, o Audiograma ainda segue buscando o seu lugar em meio a esse cenário de informações cada vez mais instantâneas e de acumulo de lançamentos.
Apesar disso, algumas tradições merecem ser mantidas ou resgatadas. No ano passado, nossa lista de melhores álbuns do primeiro semestre acabou ficando nos rascunhos. Ainda que tivesse muitas coisas para serem comentadas, 2022 deve ter sido um dos anos mais irregulares do site. Quem acompanha desde o início – ou leu algumas coisas publicadas ao longo da pandemia – sabe bem.
Aos poucos, estamos tentando resgatar alguns formatos por aqui. Um dos mais interessantes continua sendo o de listas. A boa e velha curadoria segue sendo fundamental em meio a tanta informação, lançamentos e artistas surgindo (ou retornando) de todos os lugares possíveis. Até por isso, resolvemos listar alguns dos trabalhos que chegaram às lojas ou serviços de streaming até o último dia 30 de junho que chamaram a nossa atenção.
Passeando por vários gêneros, a lista tem trinta escolhidos e serve de aperitivo para o que deve ser o nosso #Listão2023, aquela já tradicional (pelo menos na nossa cabeça) série de listas que resumem o ano, chegará a sua décima edição e sairá – se tudo der certo – em dezembro. Em ordem alfabética, falamos um pouco sobre cada um deles e, como de costume, deixamos aquele player para você ouvir no Spotify.
Abaixo, veja quais foram os 30 melhores álbuns de 2023 (até agora)!
Fountain Baby, de Amaarae
Nascida Ama Genfi, a cantora Amaarae faz parte de uma geração de artistas que não pode ser encaixada em um só nicho, e isso se reflete em seu segundo trabalho de estúdio, Fountain Baby.
O disco é um guarda-chuva plural onde cabe espaço para o hip-hop, R&B e ritmos que representam a origem ganesa de Amaarae, se tornando um dos discos mais interessantes da primeira metade de 2023. [RS]
the record, do boygenius
A expectativa já era alta por si só — afinal, o boygenius é um supergrupo indie formado por três dos nomes mais talentosos dos últimos tempos: Julien Baker, Phoebe Bridgers e Lucy Dacus.
Como boas compositoras que são, as três entregam em the record uma coleção de letras pessoais e intensas sobre a vida e, principalmente, sobre a amizade desenvolvida entre elas. Músicas como “Emily I’m Sorry”, “We’re In Love”, “$20” e “Not Strong Enough” mostram como essa união de artistas com estilos diferentes acaba por potencializar as suas qualidades individuais.
O resultado é um trabalho com doses de sensibilidade, melancolia e ferocidade, entregues de uma forma bem harmoniosa e bonita, como um bom álbum deve ser. [JP]
Desire, I Want to Turn Into You, de Caroline Polachek
WELCOME TO MY ISLAND, baby!
Lançado no dia 14 de fevereiro, o quarto álbum da queridíssima Caroline Polachek aqueceu o mundinho pop alternativo com uma obra cheia de estilo e muita personalidade.
As composições e melodias fazem qualquer ouvinte sair apaixonado. O álbum é considerado um dos melhores da artista, possuindo uma capa icônica que gerou diversos memes na web. [YM]
Memento Mori, do Depeche Mode
São quase 40 anos de carreira e o Depeche Mode segue nos entregando trabalhos expressivos e importantes. Com uma sinceridade brutal e latente, Memento Mori é o décimo quinto registro de estúdio da banda e o primeiro que Dave Gahan e Martin Gore lançam após a morte daquele que sempre será a terceira parte do grupo, Tony Fletcher.
Apesar da tristeza presente, o trabalho funciona como um lembrete de que devemos valorizar a vida que temos ao invés de temer a morte. Um álbum tocante e que te abraça na medida em que as audições se sucedem. [JP]
Multitudes, da Feist
Quase seis anos depois de Pleasure (2017), Feist lança um novo álbum e mantém o alto nível de sua discografia. Aliando vocais delicados e violões reconfortantes, Multitudes é um dos registros mais intimistas da cantora e compositora canadense.
Ao longo das 12 faixas, o sexto trabalho de estúdio da artista tem como temas centrais a perda e o amor, que são abordados de uma forma cuidadosa e, em certos momentos, até otimista. No entanto, o que faz o álbum se tornar algo marcante é a sua riqueza de detalhes, algo que facilita a nossa imersão na atmosfera criada por ele.
Faixas como “Borrow Trouble”, “Hiding Out In The Open” e “Become The Earth” são cativantes e provam que Feist entende como ninguém desse negócio de fazer música. [JP]
But Here We Are, do Foo Fighters
O Foo Fighters precisou lidar com a morte repentina de Taylor Hawkins. Poucos meses depois, Dave Grohl recebeu um segundo baque com a partida de sua mãe, Virginia.
Cada pessoa lida com a morte de uma forma e, pela segunda vez na vida, Grohl utilizou a música para exorcizar parte daquilo que lhe machucava. Até por isso, não é difícil traçar paralelos entre But Here We Are (trabalho lançado em junho) com o primeiro e autointitulado álbum do Foo Fighters, lá de 1995.
Abraçando o shoegaze em muitos momentos, o álbum entrega algumas das composições mais marcantes da banda na carreira e, facilmente, é o melhor registro do FF desde o Wasting Light (2011). Os dez minutos de “The Teacher” e o encerramento com “Rest” são coisas que todo mundo deveria ouvir pelo menos uma vez na vida. [JP]
Cracker Island, do Gorillaz
O Gorillaz entrega algumas faixas marcantes em Cracker Island, seu oitavo álbum de estúdio.
Futurista e experimental, o registro abraça o eletropop enquanto aborda o estado atual da humanidade. Assim como em Plastic Beach (2010), Damon Albarn usa novamente a alegoria da ilha para descrever seus pensamentos. Desta vez, sobre a vida em redes sociais, dependência tecnológica e o pensamento em manada.
Como de costume, o álbum tem um time estrelado de convidados que vai de Stevie Nicks a Beck, passando por Adeleye Omotayo, Thundercat, Tame Impala, Bad Bunny e Bootie Brown. Na edição deluxe tem ainda o MC Bin Laden (sim) com a bem boa “Controllah”. Além dela, faixas como “Cracker Island”, “The Tired Influencer”, “Silent Running” e “New Gold” valem a audição, mesmo que ela acabe te deixando com saudade dos trabalhos mais antigos do projeto virtual. [JP]
The Age Of Pleasure, de Janelle Monáe
Após o lançamento do aclamado Dirty Computer (2018), Janelle Monae deixou um pouco de lado a sua persona “high tech” e vem mais humana, sexy, livre e feminista do que nunca em The Age Of Pleasure. Com nota 79 no Metacritic, o projeto se concentra em influências do reggae, sem deixar de lado refrões chicletes, como podem ser ouvidos nos singles “Float” e “Lipstick Lover”.
Ainda que não haja um super filme desta vez, como em seu trabalho anterior, os visuais são coerentes a este novo momento livre, leve e solto de Janelle. Tem muito corpo, muita sensualidade e luxúria nos clipes lançados até agora. Cada instrumental utilizado nas 14 faixas vai fazer você viajar e se sentir “umx grande gostosx”. Se você se permitir, é claro. Destaques para “Champagne Shit”, “Phenomenal”, “Haute” e, claro, para “Lipstick Lover”.
Uma das interludes, que mais se parecem com extensões às músicas completinhas do disco, traz participação especial de ninguém mais, ninguém menos que Grace Jones (Oooh La La). Os brasileiros vão conseguir perceber uma pegada meio MPB, meio bossa nova, em “A Dry Red”, escolhida para encerrar o disco. Não há “skips”. Em bom português, é fácil descrever o TAOP: bem delicinha de ouvir. [YC]
That! Feels Good!, da Jessie Ware
Os últimos anos de Jessie Ware foram bem agitados. Depois de quase desistir da carreira como cantora, ela lançou o elogiado What’s Your Pleasure? durante a pandemia e se tornou um ícone LGBTQIA+ — que, todos sabemos, é a melhor fã base que uma cantora pode ter. Agora, a inglesa segue sua bem sucedida carreira com That! Feels Good!, seu quinto trabalho.
Sem abandonar a sonoridade disco bem sucedida do álbum anterior, Jessie Ware nos trouxe um trabalho retro celebrando, entre tantas coisas, o sexo. Libertador e divertido, That! Feels Good! traz participações de Roisin Murphy e Kylie Minogue junto com as melhores composições e os melhores vocais de Jessie no que é o melhor disco de sua carreira (e um dos melhores do ano). [GC]
SCARING THE HOES, de JPEGMAFIA e Danny Brown
Duas das personalidades mais queridas do hip-hop alternativo resolveram juntar forças: estou falando do cantor/produtor JPEGMAFIA e de Danny Brown em SCARING THE HOES.
O trabalho consegue combinar com maestria toda a produção que soa quase como confusa de Peggy e as rimas ácidas e versáteis de Danny. Assim como MF DOOM e Madlib, essa parece ser uma dupla que nasceu pra trabalhar junta. [RS]
Red Moon In Venus, da Kali Uchis
Leia a resenha completa do álbum.
Com uma dimensão ampla do que se trata um sentimento tão nobre, Kali Uchis mostra que conhece todos os espectros do amor e da natureza, tal qual Afrodite. Assim, em Red Moon In Venus (e em qualquer coisa que faça), a colombiana faz com que nos sintamos como meros mortais através de movimentos sonoros mínimos. Não nos resta fazer nada, a não ser venerá-la. [RS]
Why Does The Earth Give Us People To Love?, de Kara Jackson
Sem qualquer informação prévia, fui apresentado a “Why does the earth give us people to love?” e, por algum motivo, me lembrei de Tracy Chapman. A faixa de seis minutos dá nome ao trabalho de estreia da poeta, cantora e compositora Kara Jackson e, ao pegar o registro completo para ouvir, entendi essa associação inicial.
Com treze canções, Jackson nos mostra em seu debut como é uma boa contadora de histórias, sejam pessoais ou não. Solidão, vícios, frustração, empoderamento e perda são alguns dos tópicos abordados de uma forma brutalmente honesta e embalados por um folk suave e acolhedor.
Why Does The Earth Give Us People To Love? pode parecer um álbum simples, mas é arrebatador e um daqueles trabalhos que você não se cansa de ouvir. [JP]
KAYTRAMINÉ, do KAYTRAMINÉ
Gravado ao longo dos últimos dois anos, KAYTRAMINÉ é a junção das personas do produtor/DJ KAYTRANADA e do rapper Aminé e uma ode à house music e ao hip-hop.
Com colaborações de Amaarae, Freddie Gibbs, Pharrell Williams, Big Sean e Snoop Dogg, o disco se mostra ambicioso a cada beat e pode muito bem segurar milhões de festas por uma noite inteira. [RS]
Raven, da Kelela
Nonante-Cinq, temos visitas! Seguindo uma tendência já estabelecida anteriormente, o novo álbum da cantora norte-americana começou a conquistar mais notoriedade devido à sua capa disruptiva e muito bonita, assim como aconteceu com o citado álbum da cantora Angèle.
Lançado por Kelela no dia 10 de fevereiro, Raven aposta em um R&B experimental tão disruptivo quanto sua identidade visual, com clipes deslumbrantes. Toda a composição é extremamente imersiva. Gosto de ouvir o álbum por completo de olhos fechados — são tantas camadas que, em diversos momentos, me sinto totalmente fora da realidade. [YM]
Gag Order, da Kesha
Leia a resenha completa do álbum.
No amanhecer ensolarado do último álbum de seu traumático contrato com a Kemosabe Records de Dr.Luke e com o ar fresco de alguém que ainda tem muito a explorar e surpreender, Gag Order é – até o momento – o grande álbum de Kesha, a ser superado somente pelo mesmo mecanismo que o produziu: a honestidade. [MG]
MICHAEL, do Killer Mike
“Eu queria dar às pessoas o garoto de 9 anos inteiro que está na capa”. Essa fala do lendário Killer Mike em uma entrevista resume bem os sentimentos contidos em MICHAEL, seu primeiro disco solo em quase 10 anos.
Nos acostumamos a ouvir o rapper nos beats frenéticos do EI-P com o Run the Jewels; já nesse trabalho mais recente, as coisas desaceleram, e sobra tempo para Mike falar de raça, classe e espiritualidade. [RS]
Feed the Beast, de Kim Petras
Leia a resenha completa do álbum
Muito vazamento, muita confusão, e nesse meio caminho ela lançou até um álbum “proibidão”, mas “Hit it from the back” finalmente está entre nós. Depois de aquecer o mercado pop nos últimos anos, Kim Petras finalmente lançou seu tão aguardado primeiro álbum de estúdio.
Após toda turbulência e vazamentos de suas tentativas anteriores, Kim compensa toda a espera com um conjunto de pop-singles dançantes que exaltam sua identidade única. [YM]
Did You Know that There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, da Lana del Rey
Existem poucos artistas que conseguem manter alguma linearidade depois de lançarem o melhor trabalho de sua carreira. Lana del Rey faz parte dessa seleta lista.
Em Did You Know that There’s a Tunnel Under Ocean Blvd, seu nono disco, Lana traz um trabalho intimista, com composições falando sobre sua família, sua complicada relação com a mãe, seus melhores amigos, seus relacionamentos amorosos e até mesmo suas crenças religiosas, tudo isso misturando ritmos que trazem de volta a Lana del Rey do Born To Die, como o trap e o pop, e mostram mais sobre novas sonoridades que a influenciam, como o gospel e o folk.
O resultado é um trabalho emocionalmente complexo, mas profundo e, acima de tudo, belo. Lana del Rey, a cada lançamento, se consagra como uma das maiores compositoras de sua geração e sabe disso, a ponto de se auto referenciar sem medo da megalomania. [GC]
Let’s Start Here., do Lil Yachty
Leia a resenha completa do álbum.
Em meio a tentativa de se distanciar daquilo que catapultou sua carreira, Lil Yachty traz vários acidentes felizes com Let’s Start Here. Todavia, isso não é uma coisa ruim: os erros contidos no trabalho são resultados pela obsessão do rapper em trazer um disco de qualidade (definitivamente o melhor da sua carreira). Consequentemente, o artista demonstra alcançar novas sonoridades de forma coesa. Acima de tudo, Let’s Start Here é uma viagem – o tipo de viagem que todo artista deveria tentar. [RS]
Amor Fati, da Mahmundi
A Mahmundi é uma das melhores artistas da nossa geração e merecia muito mais reconhecimento do que tem. Afinal, ela ainda não é tão conhecida pelo grande público, mesmo já tendo 2 EPs e 4 álbuns lançados, um extenso trabalho de produtora que lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino e lugar no júri do prêmio e destaque como compositora, cantora e multi instrumentista.
“Amor fati” é uma expressão em latim que significa “amor ao destino” e se tornou popular com a obra do filósofo alemão Nietzsche como a aceitação do destino humano. No som, o álbum mistura pop, rock e música brasileira a elementos eletrônicos, criando um som moderno sem rótulos e barreiras e delicioso de se ouvir. As letras falam muito de amor, sexo e relacionamentos. O disco também é cheio de parcerias que vão do Rio de Janeiro ao Rio Grande do Norte, da MPB ao trap. Uma riqueza só. [BM]
Vício Inerente, da Marina Sena
Seja no som, seja nas letras, Marina Sena perdeu qualquer medo que tinha em ousar em sua música em Vício Inerente.
Misturando sonoridades que vão do funk, trap, pagode, reggaeton, MPB e, principalmente, o pop que funciona muito bem em sua voz com letras ousadas e que, basicamente, passam a mensagem “Eu sei que sou muito gostosa”, a cantora conseguiu entregar um trabalho tão interessante quanto o De Primeira, seu disco de estreia solo.
Os destaques aqui vão para “Dano Sarrada” e “Sonho Bom”, as músicas mais divertidas do disco, produzido inteiramente por Iuri Rio Branco. [GC]
Endless Summer Vacation, da Miley Cyrus
É inegável a versatilidade musical de Miley Cyrus. Se você der uma olhada da discografia da cantora, você vai encontrar músicas de sofrência adolescente, flertes com o hip hop, influências fortes do country, do rock e do hip hop. E isso é algo que realmente gera uma expectativa quando Miley anuncia o novo trabalho. E, felizmente, com Endless Summer Vacation temos mais um projeto admirável.
“Flowers” é de longe a melhor música do Vol. 1 de “ESV”. Digo Vol. 1 porque foi assim que o site da artista apresentou ao mundo seu lançamento deste semestre. Ou seja, pode vir mais coisa por aí em breve. Voltando à tracklist, é possível sentir praticamente todas as influências que mencionei no parágrafo anterior. Além do mega sucesso do lead single, este não é apenas um disco compilado para entregar o que a gravadora quer. Tem a identidade da Miley ali.
“River” vai fazer você dançar, “Jaded” vai fazer você cantar a plenos pulmões e “Island” vai fazer você relaxar. O álbum ainda traz participações de Brandi Carlile (“Thousand Miles”) e Sia (“Muddy Feet”), que dão um toque refinado às duas canções, mas ainda não superam os vocais únicos de Cyrus.
Muitos fãs estão chateados pela falta de promoção do álbum. Até o momento foram poucos clipes, embora exista um doc no Disney+ com várias músicas de ESV sendo apresentadas. Porém, nada tira o mérito de mais um bom trabalho entregue por uma das artistas mais relevantes do cenário internacional atual. [YC]
Noitada, de Pabllo Vittar
Pabllo Vittar detém o título de drag queen com mais streams no mercado musical e é inegável falar da versatilidade.
Noitada poderia muito bem ser um EP e não um álbum pelo tempo que tem, visto que sua música com maior tempo é “Cadeado” com 2:48. Com feats com artistas consagrados como Anitta, MC Carol e Gloria Groove, esse álbum foge um pouco da zona de conforto da Pabllo (versatilidade, a gente vê por aqui) e apesar de ser bom, ele destoa do que a artista vem trabalhando nos últimos tempos.
É um álbum curto mas bem trabalhado, com participações incríveis e o nome diz tudo o que o álbum é: Algo para ser ouvido à noite, dançado a noite e ser curtido a noite. A parte chiclete em “Penetra”, “Cadeado” e “Balinha de coração” parece que foi criada estrategicamente para que o replay exista e resista ali. É impossível ouvir o Noitada só uma vez. E aqui um adendo. “AMEIANOITE”, com participação de Gloria Groove, entrega um dos melhores videoclipes nacionais e bate de frente com muita produção internacional, porém o lançamento tardio do single/clipe pode ter atrapalhado o desempenho. Toda a vibe casa certinho com a época do Halloween e não foi aproveitada. (HF)
This Is Why, do Paramore
Leia a resenha completa do álbum.
This is Why é um álbum poderoso, fechado, bem maduro, com composições fortes e referências dos anos 80 e 90. Farro, York e Williams estão na sua melhor fase e entregando um material de altíssima qualidade sem nenhum medo sobre como isso poderá influenciar o futuro de uma das bandas mais promissoras do punk/emo/rock. [HF]
In Times New Roman…, do Queens of the Stone Age
Um bom disco de rock com destaque para as guitarras, uma boa pitada de blues e vocais “sensuelens”. Depois de um hiato de 6 anos sem lançar nada inédito, o Queens Of The Stone Age chega ao seu oitavo álbum e aos 27 anos de carreira com consistência e identidade, trazendo músicas que conversariam bem com os discos anteriores, principalmente o excelente Era Vulgaris, de 2007.
Como diz a crítica de cinema Isabela Boscov, que virou um fenômeno da internet: “É inovador e revolucionário? Não!”. Mas é um ótimo trabalho e marca também a volta de Josh Homme após um período crítico de acusações de violência e assédio, um divórcio complicadíssimo com a musa punk Brody Dalle, alcoolismo e adicção. É uma discussão que rende muito pano pra manga essa parada de separar a obra do artista. Mesmo como grande fã de QOTSA, confesso que peguei um bode grande dele depois de todas as polêmicas, mas dou o braço a torcer: se trata de um bom trabalho e vai ser bom eles terem coisa nova pra mostrar no show que vão fazer no Brasil, no The Town, em setembro. [BM]
Honey, da Samia
Após o interessante The Baby (2020), a estadunidense Samia retorna com um trabalho bem mais pessoal e honesto. Em Honey, a musicista aborda relacionamentos rompidos, comportamento tóxico e vícios de uma forma facilmente identificável e que acaba funcionando como um complemento ao seu registro de estreia.
Embalado por um indie-pop que já estamos acostumados a ouvir por aí, a artista aposta no jogo simples e o resultado é uma coleção de canções que podem servir de trilha sonora para diversas pessoas. Ainda que faixas como “Mad at Me” e “Honey” mereçam destaque, o melhor momento do álbum acaba sendo mesmo a sua abertura, com “Kill Her Freak Out”. [JP]
Gloria, de Sam Smith
Sam Smith entrou em uma era de autoaceitação e quer explorar sua sensualidade (e sexualidade) ao máximo em seu novo trabalho, Gloria. Não é à toa que o disco já começa com “Love Me More”. Neste caso, não é necessário explicar o motivo. Neste lançamento, as participações especiais vêm em peso: além de três faixas com Jessie Reyez, os artistas Koffee, Calvin Harris e Ed Sheeran também foram convocados para o projeto.
É inegável que “Unholy” foi a faixa que mais ganhou atenção, principalmente pela ótima sincronia artística com Kim Petras, mas o álbum vai muito além deste hit. Outro destaque é “I’m Not Here To Make Friends” (com Calvin Harris e Jessie Reyez), mas não estou aqui para ressaltar os singles, ainda que seja inegável que a escolha das faixas a serem trabalhadas foram totalmente assertivas.
Pra quem curte a nova fase mais pop e dance de Sam, dê play imediatamente na excelente “Lose You” e em “Gimme” (com Koffee & Jessie Reyez). Para quem curte seus primeiros trabalhos, não hesite em ouvir “No God”, “Perfect” (com Jessie Reyez), “How To Cry”, “Six Shots”, “Gloria”, que traz um canto gregoriano impecável, e “Who We Love”, com Ed Sheeran.
É um álbum que vai agradar o público das antigas e os recém chegados à fanbase. Não é à toa que este é um dos melhores trabalhos de Sam e o Metacritic que lute com a nota 68 dada a este disco. [YC]
Gigi’s Recovery, do The Murder Capital
Após o elogiado debut com When I Have Fears (2019), o The Murder Capital gerou uma certa expectativa em torno do seu segundo registro de estúdio.
Lançado em janeiro, Gigi’s Recovery é mais um bom exemplo de registros dentro do universo pós-punk nos últimos anos. Ao longo das doze faixas, o quinteto irlandês explora elementos que tornam o som mais “polido” e menos “explosivo” que o seu antecessor.
Nada que faça o álbum perder a sua qualidade; e canções como “Crying”, “A Thousand Lives” (que me remete ao Radiohead no In Rainbows) e a sua faixa título são capazes de provar isso. [JP]
With a Hammer, da Yaeji
Depois de crescer aos olhos do público com seus primeiros EPs e a celebrada mixtape WHAT WE DREW 우리가 그려왔던, a cantora Yaeji lançou em 2023 seu primeiro álbum, With a Hammer.
Com marcas do período pandêmico, o disco é um encontro da cantora consigo mesmo e suas influências, que passam pelo indie rock e o techno, além de conter uma sonoridade mais agressiva, como uma forma de expressar a sua raiva por toda a opressão que sofre como uma mulher amarela morando nos EUA. [RS]
Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds), de Yves Tumor
Caótico, romântico e cada vez mais (literalmente) brilhante: esse é Yves Tumor com seu novo disco, Praise A Lord Who Chews But Which Does Not Consume; (Or Simply, Hot Between Worlds).
Quem acompanha Yves desde o início da sua carreira em 2015, quando o mesmo se aventurava pela música ambiente e eletrônica, por vezes pode estranhar o som de agora; afinal, agora estamos de um artista que botou os dois pés no rock. Ainda bem, pra nós, que os limites de Yves são infinitos, e o resultado disso são trabalhos como esse, que desperta diversas emoções de formas distintas. [RS]
Textos por Bárbara Monteiro, Gabi Caroline, Henrique Ferreira, John Pereira, Rahif Souza, Ygor Monroe e Yuri Curvelo