Dois anos após o lançamento do Teatro D’ira e a vitória no Eurovision, que lançou a banda ao mainstream mundial; os italianos do Maneskin retornam com um novo álbum, não tão de inéditas assim: RUSH!.
Com suas apresentações explosivas, o quarteto fisgou a atenção dos jovens órfãos do rock’n’roll. Mas não somente isso, Maneskin é a cara da nova roupagem do rock: jovens realmente bonitos que transpiram libido e uma puta vontade de mostrar que, sim, os adultos velhacos da indústria estão errados, os haters estão errados, e mais, aqueles que não gostam de rock também estão errados.
Mas RUSH! provou apenas que a pressa é inimiga da perfeição. Um equívoco do começo ao fim.
Primeiro álbum gravado majoritariamente em inglês, tal escolha aponta para a ambição de conquistarem o mercado internacional – justo, uma vez que Roma, cidade de onde surgiram, é lembrada por mil motivos antes do rock. Entretanto, falando sobre a qualidade das letras em inglês escritas por Damiano David, é como se ele dissesse ininterruptamente por 14 faixas que ele é um garoto esperto, mas apenas em sua língua materna. Não é possível levar a sério críticas a Los Angeles e toda a cultura de superficialidade enquanto os artistas fazem ensaios para uma das maiores empresas de moda – e também mais elitistas – do planeta, ou dão entrevistas dizendo como alguns dos integrantes gostam da fama e de todos os privilégios e objetificações – obviamente permitidas – que vêm com ela.
Na toada do “oh, o mundo nos mastiga e nos cospe”, há “GOSSIP”. Numa tentativa de torná-la mais interessante (e também mais subversiva), Tom Morello foi convocado para a faixa – a única que conta com uma participação especial. Simplesmente não há motivo algum que justifique a participação pontual de Morello no disco, a não ser a projeção que isso poderia trazer ao público mais velho, fãs de Rage Against The Machine ou Audioslave, talvez até de outras bandas surgidas no começo dos anos 90.
É impossível passar por “BLA BLA BLA” sem pensar “nossa, por que é que eu estou aqui?”. Se o ouvinte não pensou em desistir do álbum nesse momento, é um sinal que muito provavelmente a faixa estava sendo tocada em 2% do volume. A música já é irritante por sua cadência, mas aqui a banda parece querer testar até onde podem ser aborrecidos: as menções a sexo são o suficiente para broxar qualquer pessoa – estado do eu lírico -, o trocadilho com Lady Gaga não agrada e o gran finale (“You said I’m ugly and my band sucks / But I just got a billion streaming song”) é como uma criança birrenta que não consegue canalizar sua frustração.
Então temos “KOOL KIDS”, uma das únicas faixas realmente boas do trabalho – graças à guitarra agressiva de Thomas Raggi e a linha de baixo de Victoria de Angelis. A letra, bobinha, foi escrita logo após a vitória no Eurovision, um grito de basta contra as expectativas que o público e a mídia colocam sobre a banda. Em determinado momento, Damiano brada com seu tom rasgado: “Kool Kids don’t like rock / they only listen to trap and pop (Justin Bieber)”, versos que poderiam ter saído direto de 2013 e ninguém saberia dizer a diferença. O curioso é que versos antes, o vocalista diz: “não somos pop e nem punk, apenas fanáticos por música”. Talvez nem tanto. Vale destacar que a ironia da faixa é quase indetectável.
É frustrante passar pelas faixas como quem zapeia pela televisão procurando por um bom programa. Nem mesmo “GASOLINE”, muito bem ensaiada e apresentada ao vivo, escapa do downgrade. A faixa se arrasta, parecendo que é o público que a torna boa, não o contrário.
No geral, RUSH! parece uma tentativa apressada de capitalizar o sucesso recente do Maneskin, mas falha em entregar um trabalho coeso e impactante. A busca pela internacionalização da banda parece ter sacrificado a autenticidade e a originalidade de suas composições. A falta de profundidade nas letras e a falta de inovação musical deixam um gosto amargo para aqueles que esperavam mais do quarteto italiano.
Para os fãs da banda, talvez algumas faixas possam agradar, mas RUSH! não atinge o potencial que muitos esperavam após a explosão de Teatro D’ira e sua vitória no Eurovision. É um lembrete de que a pressa nem sempre — na realidade, quase nunca — é amiga da arte.
Maneskin – RUSH!
Lançamento: 20 de janeiro de 2023
Gravadora: EPIC / Sony
Gênero: Pop Rock / Hard Rock
Produção: Captain Cuts, Fabrizio Ferraguzzo, LostBoy, Måneskin, Mattman & Robin, Max Martin, Rami Yacoub e Sly
Faixas:
01. OWN MY MIND
02. GOSSIP (feat. Tom Morello)
03. TIMEZONE
04. BLA BLA BLA
05. BABY SAID
06. GASOLINE
07. FEEL
08. DON’T WANNA SLEEP
09. KOOL KIDS
10. IF NOT FOR YOU
11. READ YOUR DIARY
12. MARK CHAPMAN
13. LA FINE
14. IL DONO DELLA VITA
15. MAMMAMIA
16. SUPERMODEL
17. THE LONELIEST
