Passavam das 22h quando as luzes do Expominas se apagaram e os integrantes do Titãs surgiram no palco. Com o fundo do telão branco, a única coisa que a gente conseguia enxergar eram as silhuetas daqueles que há mais de 40 anos seguem com turnês Brasil afora.
Assim começa o Ato I de uma longa apresentação com 31 canções, que privilegiam os discos Cabeça Dinossauro, de 1986, e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, de 1987. Na prática, é sinônimo de hits que marcaram a vida da maioria, (ou seriam todos?), presentes no show.
Paulo Miklos puxa a noite com “Diversão”, mantra para encarar a vida como se fosse uma festa. Em um passado nem tão distante assim, apresentações musicais no Expominas rendiam experiências negativas por causa da acústica ruim. Posso dizer que meus ouvidos foram agraciados com o que faz do rock a melhor coisa da vida: bateria marcada e pesadona, baixo fazendo seu coração subir para a garganta e guitarra em alto e bom som.
Prato cheio para quem gosta de apreciar música boa do jeito certo.
A diversão prosseguiu com Arnaldo Antunes e Sérgio Britto assumindo o microfone. Eu sabia que seria uma longa noite recheada de sucessos, mas não tinha ideia que aquela noite tinha um motivo a mais para ser especial. Quando Branco Mello assumiu o microfone para cantar “Tô Cansado”, compartilhou com os mineiros a superação de um drama pessoal.
Mais importante que a alegria de ver em ação uma banda histórica com a sua formação quase completa, foi sentir que esses shows são realmente simbólicos para esses caras. A partir de hoje, os Titãs, na figura do Branco, deixam de ser inspiração apenas por suas músicas, mas também por essa vitória do vocalista mais louco (e divertido) da banda.
Veja algumas fotos da apresentação realizada no último sábado, no Expominas. [Fotos: John Pereira]
Falando dos arranjos e mudanças, gostei das variações em “Comida”, e, principalmente, a inclusão do nosso próprio fascista genocida tupiniquim nos versos de “Nome aos Bois”, cantada por Nando Reis. Pena que o momento possivelmente passou despercebido para a maioria, que timidamente ensaiou um “ei, Bolsoasno, vai tomar no cu”, sem sucesso.
Dentro das observações não tão apaixonadas assim, vale refletir sobre dois pontos: Faltou espaço para Tudo ao Mesmo Tempo Agora e Titanomaquia, discos mais pesados do repertório da banda. Teria sido uma experiência inesquecível ouvir “Isso para mim é perfume” ou “Saia de mim”. Mais para rir da expressão de choque de quem conheceu o Titãs após o sucesso estrondoso do Acústico, confesso.
O segundo ponto é sobre o Ato II. Ainda que seja um belo momento de homenagens, a sensação é que o ritmo do show cai muito. Causa um pouco de estranhamento ver o Arnaldo deixando o palco para o restante da banda apresentar três canções mais leves, como “Epitáfio”, “Os Cegos do Castelo” e “Pra Dizer Adeus”. Parafraseando a própria banda, queremos uma turnê de encontro por inteiro, não pela metade.
O saldo final da noite foi um Ato III mais visceral e punk rock, com “32 Dentes”, “Flores”, “Televisão”, “Porrada”, “Polícia”, “AA UU” e “Bichos Escrotos” em sequência. Uma demonstração convincente de que uma banda com 40 anos de estrada, sabe muito bem como conquistar seu público e criar momentos inesquecíveis. Voltamos para casa com a certeza do privilégio que é ver o Titãs ao vivo, e aquela sensação de prazer que faz compensar qualquer R$ 25 em uma fatia de pizza ou batata frita no cone.