Este aniversário de Siouxsie Sioux é particularmente especial, uma vez que acontece justamente no ano e no mês em que a cantora retomou as turnês, voltando aos palcos após uma década.
Ao longo desse período de inatividade, Siouxsie silenciou-se, teve uma vida reservada e manteve-se distante dos holofotes. A maior parte dos fãs certamente não acreditava numa volta da cantora, mas a vida, sabemos, é repleta de imprevistos e em dezembro de 2022, suas páginas oficiais surpreenderam a todos com o anúncio das apresentações de 2023. Ela renasceu das cinzas, como uma fênix, que ressuscita subitamente e repleta de força, intensidade e energia, preparada para aventuras vindouras.
Siouxsie fez seu primeiro show no início de maio, em Bruxelas, capital da Bélgica. A setlist foi formada por clássicos da banda Siouxsie And The Banshees, tal como “Cities In Dust”, “Spellbound”, “Christine” e contou também com um ou outro single do Mantaray, único lançamento solo da carreira de Sioux. A seleção de faixas, infelizmente, deixou de lado músicas de três icônicos discos: The Scream, A Kiss In The Dreamhouse e Join Hands. Também não há nada do The Rapture, mas, convenhamos, esse álbum de, digamos, “despedida” dos Banshees não emplacou, não empolga, e não faz muita falta que não haja músicas dele no repertório.
Podemos perceber, a partir dessas observações, que os shows estão definitivamente voltados a um público mais amplo, sendo centrados em canções retiradas dos álbuns nos quais estão os maiores sucessos comerciais da carreira dos Banshees. Também vale notar que, lamentavelmente, embora não seja surpresa alguma, o repertório não envolve uma canção do The Creatures.
De qualquer forma, independente da seleção musical escolhida, Siouxsie Sioux – vestida com trajes exuberantes criados pela estilista Pam Hogg, que potencializam seu poder e realçam sua nobre presença nos palcos; está arrasando em seu retorno e suas performances tem sido amplamente elogiadas pelo público. Sioux continua cativante e graciosa em suas danças e ainda tem em si aquela velha habilidade de enfeitiçar os ouvintes com sua voz.
Seus shows tem sido uma experiência transcendental, mágica e especial, tal como é, essencialmente, a própria Siouxsie Sioux, cuja trajetória sempre se caracterizou especialmente pela criatividade, ousadia e autenticidade, três heranças que ela carrega desde os primórdios do movimento punk. Nesse ponto de nosso texto, cabe refletir sobre uma coisa: a experiência sensorial da banda Siouxsie And The Banshees é possível sem Steven Severin e Budgie, por mais que eles façam falta. Por outro lado, seria uma experiência provavelmente impossível, incompleta, ou, no máximo, morna, sem a presença marcante da insubstituível Siouxsie Sioux.
Atualmente, diante da espantosa crise enfrentada pela indústria musical, repleta de uma previsibilidade maçante que se expressa em padrões de voz, de melodia, ritmo, de rosto, de corpo e comportamento, e que não possui grandes originalidades, Siouxsie Sioux desponta como uma espécie de sibila ilustre cuja profecia desvela ao mundo uma vivência estética magnifica e rara. Fazendo dos palcos o seu templo sagrado, sua luz soberana, que nunca se apagou, brilha agora com mais intensidade do que antes. Ademais, Siouxsie confirma que o punk, principalmente enquanto estado de espírito, não está morto.