Texto: Lígia Lima e Ygor Monroe
A primeira edição do Festival GRLS!, que tem como objetivo amplificar e potencializar a carreira de mulheres, aconteceu em março de 2020. Mal imaginava o público que essa seria a sua última lembrança de liberdade, alegria e contato físico antes da pandemia. Agora, ao vivo, a segunda edição do evento retorna com força total, sendo recebida pelo Centro Esportivo Tietê.
Os dois dias de festival reuniram artistas diversas e que exploram diferentes gêneros musicais. Mas se tem algo que as aproxima é o anseio de transformar em arte a importância de lutar e cantar pelos seus direitos, prazeres e espaços na sociedade. Essa edição do GRLS! aconteceu nos dias 4 e 5 de março e o Audiograma estava lá. Confira alguns depoimentos e um pouco do que achamos sobre o evento!
O primeiro dia
O festival com lineup 100% feminino teve apresentações de artistas brasileiras, como Sandy, Duda Beat e Alcione. Mesmo assim, não deu espaço para a rivalidade feminina e trouxe atrações internacionais Mariah Angeliq, Jojo e Tinashe.
No primeiro dia, sábado, o Festival iniciou com a presença da cantora baiana Rachel Reis, que interpretou “Lovezinho” e “Maresia” (faixa que impulsionou sua carreira). Em seguida, o público pôde presenciar a performance de Lexa, que transformou o festival em um baile funk e levou hits como “Chama Ela” e “Combatchy”.
Margareth Menezes foi a terceira atração do dia e encantou a todos com clássicos como “Dandalunda”, sendo recebida pelo público com um coro de “ministra, ministra”. Além disso, a cantora deixou uma mensagem potente: “Nós queremos uma sociedade diferente, cada um que está aqui é um soldado dessa mensagem. Não fiquem calados e façam a diferença aonde vocês estiverem para lutarmos pelo mundo que a gente quer”.
Dando continuidade ao evento, o show da artista Mariah Angeliq foi surpreendente. Com foco no reggeaton, o espetáculo se desenrolou em uma pegada intimista, com diversas interações com o público. Mariah, já conhecida devido o feat na faixa “Socadona”, de Ludmilla, faz questão de chamar a si mesmo de “la toxica”, prestando uma auto homenagem a sua faixa homônima. A apresentação contou com a participação do Dj Dynamiq, que fez questão de homenagear nossa terrinha com alguns hits do funk, como “O Grave faz Bum”, do MC WM.
O show da artista de raiz porto-riquenha também contou com a performance do mais novo single da cantora, chamado “Ricota”. Em meio a uma plateia tímida, mas com o jeitinho brasileiro de tornar os eventos mais especiais, Mariah deu um salto importante na sua carreira ao vir para o país.
Ainda fomos agraciados com a apresentação de Duda Beat, em seguida. O show foi simples, mas ainda assim um dos mais refinados. Tivemos pequenas coreografias e um time de dançarinas muito bem sincronizadas. A sensação foi de assistir a um ótimo ensaio aberto, contando até com um momento em que Duda pede para voltar a música porque não ficou satisfeita com o início da performance.
Incluindo um pequeno time de metais, com saxofone, trombone e trombeta, a performance se deu de forma sensual e cativante. A apresentação contou com grandes hits da pernambucana, com os metais esquentando o clima de faixas como “Meu Pisêro” e “Tangerina”. Foi possível perceber, durante a música “Chega”, que a plateia compartilhava de um tipo de transe, em que todos os celulares estavam abaixados e a plateia cantava em uníssono.
A apresentação de Duda teve performances de remixes de suas faixas, como a musica “Game”, remixada pelo DJ Chediak, e ainda contou com um momento marcante em que ela convida ao palco a artista Laura Diaz, da banda Teto Preto. Ao subir, Laura esbanja uma voz potente que não se contenta em apenas remixar. “Quando ela me mandou mensagem, ela perguntou: ‘posso colocar uma letra em cima?'”, compartilha Duda com a plateia e assim somos presenteados com essa pequena invasão. A performance foi enérgica, com direito até a um selinho a lá Britney e Madonna. Ao final da performance das duas, nos agradecimentos, Laura ainda nos relembra, em apoio explícito à causa trans: “mulher não é só xoxota, não!”. Definitivamente, o show de Duda foi um dos grandes destaques do evento e ficará marcado até na mente dos que não eram fãs.
Caminhando para o final do primeiro dia, o palco principal recebeu a norte-americana JoJo. A cantora capturou a atenção com os seu hits “Too Little Too Late”, “How To Touch a Girl” e ainda incrementou o setlist cantando “Envolver”, de Anitta; e “Love On The Brain”, de Rihanna. Jojo é uma artista que tem investido no desenvolvimento da sua performance, fazendo aulas de teatro. Sua apresentação deixou isso nítido, além de mostrar claramente a felicidade nos olhos da cantora ao ver seu público entonando suas canções.
O final do primeiro dia ficou para a cantora Sandy, que tocou pela primeira vez na sua carreira solo, em um festival. Até por isso, ela preparou um show exclusivo para o GRLS!.
A performance de Sandy foi bastante elogiada pelos fãs, contando com versões de “Lugar ao Sol”, do Charlie Brown Jr., e “All Star”, eternizada na voz de Cássia Eller. O festival encerrou com a artista cantando “Quando Você Passa” e o coro de “turu, turu” preencheu o Centro Esportivo Tietê.
Segundo dia
Indo para o segundo dia de festival, o início ficou por conta de DAY LIMS. Em seguida, recebemos a artista Majur. Entre músicas autorais e covers, a cantora aproveitou o momento para comentar sobre um lançamento em 2023. Sua apresentação contou com a faixa “Clima” e versões de “I Got You”, de James Brown; e “Crazy in Love”, de Beyoncé.
A voz do grunge e do indie ficou por conta da nova-iorquina Blu DeTiger. Sendo mais um caso de artista que teve o sucesso amparado em redes sociais como TikTok, ela apresentou músicas como “Cotton Candy Lemonade” e incluiu um cover de Taylor Swift.
O grande destaque do domingo ficou por conta de Alcione. A veterana do samba deu início à performance em pé, mas preferiu seguir sentada devido às complicações de saúde. Em uma relação mais próxima com o público, a cantora falou sobre as dificuldades depois da cirurgia no quadril e contou causos da vida. A artista presenteou o público com a apresentação de clássicos como “A Loba”, “Juízo Final” e “Você Me Vira a Cabeça”.
O evento ainda pôde contar com apresentações de Manu Gavassi e Anavitória. Antes de se juntar à dupla, Manu cantou “Fruto Proibido” em homenagem a Rita Lee. A banda de Manu contava apenas com instrumentistas mulheres, potencializando a essência do Festival GRLS!. Logo após a apresentação de Manu, o duo ANAVITORIA entra em cena e presta mais uma homenagem à Rita, com a música “Amor e Sexo”.
Estrutura
Nos dois dias de GRLS!, durante os shows, as pessoas também aproveitavam para conferir o espaço Espaço Conexões. Dedicado à divulgação de instituições fruto do empreendedorismo feminino, o espaço recebeu: Beaba, Instituto Plano de Menina, Livre de Assédio, Movimento Black Money, Orientavida e Rede Mulher Empreendedora. A área da Feirinha, por sua vez, contou com a presença de negócios liderados por mulheres: Ana Santiago Moda Afro, Aya Pitaya, JAZZ, Linus, Livraria Africanidades, Pinga e Pop Plus.
As performances foram super bem elogiadas e o ambiente recebeu a todos de braços abertos, apesar de incomodar fãs e espectadores com um pouco da chuva. A estrutura do festival estava impecável, com pessoas com maquininhas, servindo de caixas ambulantes para evitar aglomeração de filas e barraquinhas bem distribuídas entre si. O evento contou com apoio da Bis e do Buscofem Hot, além de contar com um palco de um dos maiores patrocinadores, a Heineken.
Apesar de um show de como oferecer uma boa estrutura, podemos encontrar diversos relatos do público referentes à falta de segurança na região. O Centro Esportivo Tietê fica na Ponte Pequena, em São Paulo, e mesmo não sendo tão longe do metrô ressalta a necessidade de boas políticas publicas de segurança. Além da preocupação com bens, devido a chuva, o público também teve que se preocupar em pular poças para conseguir sair do festival.