A banda Dennis e o Cão da Meia Noite lançou hoje, 15 de março, seu segundo álbum: Sobre Lealdade.
Em nove faixas que começaram a ser produzidas há exatamente um ano, o trio aborda temas pós-pandêmicos como contato, encontro e realidade, ressignificando valores e a forma como nos relacionamos uns com os outros. “A amizade, o respeito e a dignidade humana sucumbem às conveniências da vida prática num ‘vale-tudo’ individualista. Nesse cenário social, é sobre lealdade que quero falar”, afirma Denis.
Gravado no estúdio Dissonância Magnética, em São Paulo, o disco foi mixado por Denis Monteiro e masterizado por Diego de Oliveira. A banda mistura elementos de diferentes estilos, como ska, punk, pós-punk e shoegaze.
Em entrevista ao Audiograma, os amigos Dennis Sinned (guitarra e vocal) e Alexandre Fon (bateria) contam como a banda foi formada e falam sobre a cena gótica e pós-punk no Brasil.
Denis Monteiro, mais conhecido pelo nome artístico de Dennis Sinned, tem uma história já conhecida dentro do underground brasileiro: o artista fez parte de bandas consolidadas no meio, como Dance Are Nights e Segundo Inverno. Junto de Alexandre, tentou montar uma banda em 2019, mas não teve sucesso na época. Foi só em 2020 que saiu o primeiro filho dessa relação, o álbum Id, Ego, Superego e Outras Porcarias.
A banda se apresentaria em 20 de novembro de 2021 no Bomber Pub, localizado na região de Pinheiros, em São Paulo, mas teve seu show interrompido devido a uma agressão depois da passagem de som. Em entrevista ao Audiograma, Dennis falou um pouco sobre os impactos do acontecido em sua vida.
Hoje em dia, os dois amigos moram juntos, o que facilita os ensaios e o preparo dos shows. “Sabe aquele negócio meio juvenil de você morar junto com o cara que você toca? A gente depois de velho tá realizando isso”, brinca Dennis. “Nós sempre gravamos, não tinha uma estrutura de banda nem nada certo que a gente ia fazer. Depois de um tempo a gente se estruturou, com o nome. E aí eu vim morar aqui, que foi a época que eu voltei pra banda”, comenta Alexandre.
Nome da banda
Comentando sobre a infinidade de projetos começados e nunca elaborados, Dennis fala sobre o interesse de criar algo que fosse manter. Sendo assim, o nome da banda teria que ser algo que o fizesse ter vontade de criar e nutrir. Por isso, o cão surge como um elemento muito importante: “Sempre acabava trocando o nome, meio que começando do zero. O ‘Denis e o Cão da Meia Noite’ é meu trampo definitivo. Eu não queria usar só o meu nome, ou ‘Dennis Sinned’, então eu pensei que precisava de Dennis e alguma coisa. Eu sempre gostei muito de cachorro, aí me veio essa ideia do ‘cão da meia noite’, como um insight”.
Unindo a paixão pelo animal e também a preferência pela noite, Dennis criava o conceito de sua banda. “Eu queria algo relacionado a cachorro. Achei que tinha a ver comigo. Dizem que meu animal de poder é o cachorro, então eu tenho uma ligação psicológica e espiritual com cães”, conta o artista.
Sobre a banda e o conceito do “cão da meia noite”, Dennis explica: “O cão da meia noite é um alter ego, mas não um alter ego meu, e sim uma magia das pessoas que estão tocando juntas”. No início da sua carreira autoral no Days Are Nights, Dennis utilizava de uma bateria eletrônica e um guitarrista além dele. Essa proposta não seguiu adiante com o Cão da Meia Noite. “O cão da meia noite era pra ser uma coisa mais orgânica, com bateria”, complementa.
Já Alexandre transitou por bandas como Noise Under Control. “É legal porque tudo que eu faço de música é porque eu tô curtindo muito fazer. Tem momentos especiais, e uma delas foi entrar no Cão da Meia Noite. Foi um trabalho que eu raramente fiz. No Rio não tem um movimento tão forte de banda, esse tipo de som. Agora tô tendo a oportunidade de tocar, de compor junto com o Dennis”, confessa o baterista carioca. “Tem uma pista de skate perto aqui de casa e tem umas pichações todas coloridas, e no meio tem um ‘Saudade depressão’ de preto, ali no meio. Já me veio um ska, um reggae, uma coisa mais feliz”.
Sobre a cena pós-punk
Em outubro, a banda esteve em Cuiabá e, quando questionados sobre o eixo Rio-São Paulo ter mais destaque, Dennis comenta: “O nordeste tem uma cena muito forte, mais interessante do que tá rolando aqui pra baixo. O Plastique Noir, da época que eu tocava no Dance Are Nights, entre 2006 e 2008, já tinha uma presença muito forte na cena. Alma Nômade também. A gente fica em ilhas, né, porque o Brasil é muito grande e não é tão fácil a gente transitar. A gente não tá na Europa, ninguém tem tanto poder aquisitivo”.
Desenvolvendo um pouco mais sobre o assunto, Dennis quebra o mito de que não existem góticos tropicais e destaca cenas importantes que estão crescendo no nordeste. “Em Recife e Fortaleza é muito forte a cena gótica. A gente fica transitando entre Rio de Janeiro, São Paulo, Minas, Curitiba. A gente fica ilhado porque é muito difícil as bandas do nordeste virem pra cá e as bandas daqui irem pra lá. Parece que a gente vive duas cenas distintas”, lamenta o cantor. “A gente tenta, sempre dá força pro pessoal”, complementa Alexandre. O maior impeditivo da união entre os diferentes meios góticos do Brasil, segundo Dennis, é o dinheiro para trazer e manter as bandas aqui até o período em que elas se apresentariam.
Organização durante a pandemia
O álbum de estreia da banda, Id, Ego, Superego e Outras Porcarias, é um show à parte. Conta com diversas influências, desde Paralamas do Sucesso a Depression Sonora. Sobre o processo de criação, a banda explica que o álbum “foi praticamente todo gravado durante a pandemia”.
Apesar de a pandemia significar, de modo geral, uma época bem triste e difícil, Alexandre conta que a sua experiência foi completamente diferente dos demais: “A pandemia passou relativamente tranquila. Eu não parei de trabalhar, eu trabalhei fazendo obra dentro de hospitais e assim, pra mim era bem difícil ver as pessoas de máscara, a briga com os negacionistas”. O período em casa, quando o músico morava em Macaé, significou um momento de desenvolvimento: “Foi uma boa época para trabalhar com música. Justamente nessa época eu comprei uma bateria eletrônica e aprendi a gravar”, comenta Alexandre.
Já Dennis comenta que a sua experiência foi mais conturbada: “A época da pandemia foi bem difícil pra mim. Tava saindo de um relacionamento e nos primeiros eventos foi acontecer aquela treta comigo… então, na época da pandemia, eu comecei a andar bastante, cheguei a perder 18kg”, conta. O artista mora na zona leste de São Paulo e costumava andar longas distâncias, de madrugada, fazendo a rota centro-leste.
Além disso, sem esconder sua veia artística completa, Dennis usou o tempo da quarentena para se conectar consigo mesmo, recitando poesias autorais. “Eu usei esse tempo pra fazer algumas vídeo-poesias. Entrei nessa onda de recitar, algumas dessas coisas estão no álbum. Tô meio nessa onda de fazer música falada”, comenta Dennis.
No meio tempo, no momento em que as lives estavam em alta, a banda chegou a fazer algumas, contando com a infraestrutura do estúdio Dissonância Magnética, administrado por Dennis. “A gente fez uma live pra galera do nordeste, da Underdark/On the dark, uma galera de Recife. Como eu tenho estúdio aqui, fica mais fácil de fazer”.
Tanto Alexandre quanto Dennis têm ainda suas participações em uma rádio online chamada Antena Zero. Ambos elaboraram um programa que ainda não foi lançado, mas às terças, às 21h, Dennis toca o programa de rock e música alternativa latina, o Sótano. O programa conta com uma sessão de divulgação que fala sobre música nacional. Uma delas, Midas Reverso, uma banda do Sul com influências pós-punk e shoegaze, além da banda do Distrito Federal, a Lupercais.
Show de lançamento
No dia 18 de março, sábado, o grupo fará o show de lançamento do novo disco Sobre Lealdade no estúdio Depois do Fim do Mundo, em São Paulo. O evento começa às 20h e terá ainda abertura da banda Naissius, que também lançou um disco recentemente (Ballet Para Cegos); e discotecagem da DJ Noah, que tem produzido a festa Nuit Noir.
Os ingressos antecipados custam R$ 20,00 e dão direito a concorrer ao sorteio de camisetas da banda. Na porta, a entrada vai custar R$ 25,00. O Estúdio Depois do Fim do Mundo fica na Rua Guaicurus, 1258, Água Branca (próximo ao Terminal Lapa e à estação de trem Lapa da linha 8 – Diamante).
Em seguida, a banda parte para uma turnê pelo Brasil que já tem 5 datas confirmadas, incluindo Brasília e Rio de Janeiro.
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