Brisa de la Cordillera, a Brisa Flow, é a primeira artista indígena a se apresentar no Lollapalooza Brasil. Levou 10 edições para isso acontecer, mas antes tarde do que nunca!
Ameríndia, Brisa é filha de artesãos araucanos, cultura da região central do Chile e do Norte da Argentina, também conhecida como mapuche. Ela foi criada em Minas Gerais e sempre defendeu e divulgou a música e a cultura indígena, tendo começado na cena de hip hop de Belo Horizonte. É MC, cantora, compositora, escritora, pesquisadora e arte-educadora licenciada em música.
Ela toca no Lollapalooza na sexta-feira, dia 24 de março, mesmo dia dos headliners Billie Eilish e Lil Nas X. O show será no Palco Chevrolet às 12h30 e foi preparado especialmente para o festival, com novos arranjos para o seu disco mais recente, Janequeo, lançado em 2022, além de canções de trabalhos anteriores.
Brisa Flow vê a arte dos povos originários e o rap como ferramentas necessárias para combater o epistemicídio: termo usado pelo professor Boaventura de Sousa Santos para explicar a destruição de conhecimentos, tradições e culturas não assimiladas pela sociedade branca e ocidental, em um apagamento estrutural colonial e imperialista. “57 milhões de originários estavam aqui quando eles chegaram”, canta Brisa Flow em “Etnocídio”, faixa com parceria de Ian Wapichana presente em seu álbum mais recente.
Diversidade no palco
Acompanhada por uma banda formada por Ian Wapichana (voz e violão), Vênus Garland (teclado), Beatriz Lima (baixo), Victor Prado (trompa) e Pitee Batelares (bateria), Brisa Flow ressalta a importância de ocupar o espaço em um evento como o Lollapalooza Brasil com estes músicos: “Fomos nos aquilombando conforme os nossos laços foram se fortalecendo. Acredito neste aquilombamento urbano como uma prática artística de juntar pessoas trans, indígenas e pretas numa soma para transformar a cena em um lugar mais diverso e também trazer toda nossa potência para que possamos valorizar a cultura brasileira e latino-americana, como prefiro chamar de Abya Yala”.
O setlist do show mistura o rap com cantos ancestrais, jazz, eletrônico e neo soul. Já a projeção conta com artes de Ge Viana, Bonikta e Coletivo Coletores, que utilizam diferentes linguagens visuais e tecnológicas para discutir temáticas ligadas às periferias, apagamentos históricos e culturais e o direito à cidade. “Queremos falar de amor, fazer música e arte que move, transforma e chama o público para se envolver junto”, conta Brisa.
Figurino inclusivo e sustentável
O figurino de Brisa Flow para o show no Lolla também é especial, assinado por ela ao lado da estilista Vicenta Perrotta e do diretor criativo Amangelo Prateado, que também é seu produtor artístico.
Criado e gerenciado por Vicenta Perrotta, o atêlie TRANSmoras foca em habilitar pessoas trans para o mercado de trabalho da moda. “A ideia é pensar como a construção da moda passa pela água, rios, plantações e muitas mãos. Também se conscientizar sobre quem são essas pessoas e como podemos valorizar e causar menos impactos ao meio ambiente — tudo isso enquanto arrasamos nos looks”, complementa Brisa. Para este figurino, as peças serão produzidas pelo ateliê no ATM Lab, que tem sede no Centro Cultural de São Paulo.