“Depois de dois anos de pandemia, ficou tão claro para as pessoas a necessidade do ao vivo, né?”
Francesca Brown Alterio, diretora de festivais da Time for Fun (T4F), reflete quando questionada sobre a volta dos shows e eventos em 2022 em entrevista sobre o Festival Turá. O novo projeto da empresa — que é responsável pelo Lollapalooza Brasil, o Popload e o mais recente festival GRLS!, cuja primeira e única edição foi realizada apenas alguns dias antes do primeiro lockdown promovido em São Paulo — é uma das iniciativas para trazer de volta os grandes eventos e devolver as experiências ao vivo para o público
Nos dias 02 e 03 de julho, o gramado do Auditório do Parque do Ibirapuera, em São Paulo, receberá a primeira edição do evento. Com um line up 100% nacional, o festival foi criado para exaltar a pluralidade brasileira. “A ideia foi celebrar as raízes do nosso país”, explica Francesca. “O festival carrega a ideia de abertura, cultura, mistura e releitura. O próprio nome vem dessa brincadeira com essas palavras”, conclui.
Na última sexta (29/04), Francesca conversou com o Audiograma sobre o Turá, futuros festivais que a T4F promoverá pelo país e as iniciativas da empresa para incluir artistas mulheres e independentes nesses eventos.
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Abertura, cultura, mistura e releitura formam o Turá
À primeira vista, o que mais chama atenção no Turá é seu line up e a variedade de artistas: encabeçados por Zeca Pagodinho e Emicida no sábado e BaianaSystem e Alceu Valença no domingo, os músicos que se apresentarão no festival vão do rap ao samba, formando uma mistura para “celebrar as regiões do Brasil”, como explica Francesca.
“A ideia foi mesclar tudo isso de uma forma coesa e levar os fãs nessa viagem. Eu acho que é difícil você ter a oportunidade de ver tantos artistas consagrados e com estilos tão diferentes em um só lugar”, comenta.
A variedade do festival e o fato de apenas artistas nacionais formarem seu line up não foi uma decisão aleatória. A escalação do Turá é um reflexo do fato de que brasileiros amam a música brasileira: em 2019, ainda antes da pandemia, uma pesquisa indicou que o Brasil é o país que mais ouve música nacional — algo que a T4F percebeu também em suas pesquisas.
“Isso ficou evidente para nós, então foi meio que uma decisão natural de querer focar nos artistas nacionais”, explica Francesca. “O pós-pandemia deixou até mais claro essa vontade de prestigiar e dar esse destaque para a cultura brasileira”.
No Turá, essa celebração não será feita apenas através da música. Desde o local escolhido — apesar de construído apenas em 2005, o Auditório Ibirapuera foi concebido por Oscar Niemeyer em 1950 para receber apresentações musicais dentro do parque — até a gastronomia presente no espaço, toda a experiência tem como objetivo exaltar a cultura do Brasil.
“Estamos preparando um espaço bem completo, com diferentes gastronomias e variedades da comida brasileira, que eu acho que é um grande pilar da nossa cultura. É uma coisa que tem muito afeto e muita memória ligada, então é algo que a gente quer resgatar”, comenta Francesca. “Vão ter restaurantes, chefs, parceiros de várias regiões do Brasil, com gastronomias muito diferentes”.
Além dos artistas já anunciados, o festival ainda irá ainda trazer DJs e outras atrações que irão completar o evento e, consequentemente, a experiência de quem frequentá-lo.
“A experiência é o coração do festival. Acho que o que importa é o sentimento que aquela pessoa vai ter ao ir pra aquele evento e a memória que ela vai carregar depois daquilo”, finaliza Francesca, que, quando perguntada sobre quem ela espera ver no Turá, responde animada: “Emicida e Alceu Valença”.
As expectativas para festivais no Brasil
Apesar de ser a maior prioridade de Francesca e da T4F no momento, o Festival Turá não é e nem será o único festival promovido pela empresa no Brasil este ano.
No final de março, aconteceu a décima edição do Lollapalooza Brasil, considerado por Francesca um evento desafiador, mas prazeroso — “Pelo tamanho do projeto, pela responsabilidade, pela segurança de todos que estão ali dentro. Mas também é muito gostoso, uma recompensa muito grande de você poder proporcionar esses momentos inesquecíveis pras pessoas”, conta —, e a empresa planeja ainda trazer novos e já conhecidos eventos para o público brasileiro em uma indústria que, mesmo com a crise econômica pela qual o país passa, é considerada “movimentada e aquecida” por ela.
“A expectativa é grande para ter muitos eventos e muita oferta pro público”, explica Francesca. “A gente passou por uma crise econômica que mexeu em todo o setor cultural, então quase todo o mercado ficou impossibilitado de realizar atividades. Foi um desafio muito grande ficar parado para a indústria como um todo. O setor teve um impacto muito grande, então acho que tá todo mundo ainda de uma certa forma se reorganizando para voltar. Nosso objetivo agora é retornar de forma gradual para as pistas, shows e festivais”.
Mas quais festivais e shows que devemos esperar?
“Tem muitas novidades e eu não posso ainda dar muitos spoilers, mas tem muita coisa vindo por aí. Teremos festivais novos e já existentes, então vão ter novidades em breve. Todos esses festivais e projetos serão lançados nos próximos meses”, promete.
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As mulheres na indústria e nos festivais
Os dois maiores festivais brasileiros no momento têm mulheres no comando: enquanto Francesca é a responsável pelo Lollapalooza Brasil, Roberta Medina está à frente do Rock in Rio, que ganhará mais uma edição em setembro deste ano. Se depender da previsão de Francesca, esse é um movimento que ganhará cada vez mais força na indústria musical pelos próximos anos.
“Eu tenho muito orgulho de estar nessa cadeira sendo uma mulher jovem, e acho que é um movimento que o mercado vai liderar, que cada vez mais nós estaremos vendo mulheres em posições de liderança”, conta. “Temos o projeto GRLS, que é pra enfatizar e acelerar esse movimento dentro da nossa indústria especificamente”.
Paralelamente, existem movimentos para que as mulheres estejam presentes além dos bastidores dos festivais e shows: alguns eventos internacionais têm se comprometido com movimentos e acordos que pretendem incentivar que line ups de festivais possuam igualdade de gênero, com uma mesma quantidade de artistas homens e mulheres se apresentando neles.
Francesca está consciente da necessidade de incluir não apenas artistas mulheres, mas também apoiar artistas independentes no pós-pandemia.
“Eu acho que é uma iniciativa de consciência, sabe? Acho que estamos muito conscientes desse desafio e, como um grande player desse setor, a gente tem uma responsabilidade com isso. Então é um ponto que a gente fica muito atento em todos os nossos eventos”, conta. “A curadoria de todos os eventos é sempre feita com muito cuidado e tem várias temáticas que a gente leva em consideração: essa mistura de novos e consagrados, a presença feminina, a diversidade racial dentro do line up”.
“Nem sempre a gente consegue entregar todos como a gente gostaria, porque, enfim, tem disponibilidade de artistas, quem pode tocar naquela data, então obviamente a gente não tem 100% de controle nessa frente. Não é uma coisa que a gente tem 100% de controle, mas é uma coisa que a gente tenta dar atenção e incentivar o máximo possível”, justifica.
O Turá é a prova dessa iniciativa da T4F: com Duda Beat, Marina Sena, Illy, Luísa e os Alquimistas, Mart’nália, Roberta Sá e MAHMUNDI se apresentando no palco do gramado do Ibirapuera durante os dois dias do festival, o line up demonstra muito mais igualdade de gênero do que festivais realizados no Brasil anteriormente.
O Festival Turá será realizado no Auditório do Parque do Ibirapuera, nos dias 02 e 03 de julho de 2022, e ainda contará com shows de Baco Exu do Blues, Xamã, Nando Reis, Jão e Baby.
Os ingressos já estão à venda no site da Tickets for Fun.