A madrugada de sexta-feira, 25 de março, para sábado, 26, ficará marcada por uma notícia trágica para fãs do rock mundial. Independente de você ser fã ou não do Foo Fighters, era praticamente impossível não se render ao carisma do homem que ficava atrás da bateria sorrindo de orelha a orelha, como se fosse uma criança loira esticada realizando seu grande sonho.
Antes de assumir as baquetas na banda do ex-baterista do Nirvana, Taylor Hawkins fez parte da turnê de divulgação de Jagged Little Pill, terceiro álbum da canadense Alanis Morissette. Inclusive, se apresentou no Brasil em 1996 – cinco anos antes do Foo Fighters pisar no país pela primeira vez. Não durou muito, mas foi o suficiente para chamar a atenção de Dave Grohl, que o convidou para se juntar à banda para a tour de The Colour and the Shape. Deu certo. Grohl declarou que Hawkins era a sua “alma gêmea”.
Em 2001, Hawkins ficou em coma após uma overdose. O episódio serviu como um divisor de águas, ainda que o próprio músico admitisse ter seu próprio sistema para funcionar e que um erro quase tomou a sua vida na ocasião. “Eu acreditava naquela besteira de curtir muito e morrer jovem”, ele declarou em entrevistas 20 anos depois.
Segundo apurações iniciais, o baterista pode ter sofrido uma overdose fatal no hotel. Hawkins tinha apenas 50 anos de idade e deixou esposa e filhos.
A primeira vez que assisti a um show do Foo Fighters ao vivo (mas pela TV) foi justamente no Rock in Rio. Aquele lendário show com a calça furada do Dave Grohl, que teve ainda solo de bateria e Cassia Eller invadindo o palco para comemorar o aniversário do vocalista. Naquela época, o FF era uma promissora banda de rock se livrando da sombra do Nirvana e prestes a se tornar o monstro gigante que arrastava milhares de pessoas para os seus shows nos estádios.
Foram anos de expectativa até finalmente realizar o sonho de ver a banda ao vivo de verdade. A notícia chegou no final de 2011, dez anos após aquele show do Rock in Rio: o Foo Fighters seria headline da 1ª edição do mega festival Lollapalooza no Brasil.
Não demorou e eu logo estava com três tatuagens imortalizando a banda na minha pele. Fiz um “TT” no meu pescoço e escrevi os versos de “Everlong” e (anos depois) “Bridge Burning” no meu peito. Era uma promessa, sabe? Do mesmo jeito que brinco dizendo que vou passar máquina zero ou platinar o cabelo quando o Atlético vencer a Libertadores, eu dizia que tatuaria a banda em mim.
Eu estava tenso naquele 7 de abril de 2012. Expectativas elevadas. Sabia que se começassem com “All my Life”, não tocariam “Bridge Burning”. Foi exatamente assim, mas nem isso diminuiu o momento.
Choveu em “Everlong”. Pouco, mas o suficiente para aquele encontro tão aguardado se tornasse (ainda mais) inesquecível e (quase) digno de uma experiência catártica que a minha companheira viveu nos EUA assistindo a banda meses antes. As 25 canções anteriores misturaram surpresas, como “Stacked Actors” (aquela mesmo do duelo de bateria no Rock in Rio), “Generator” e “Hey, Johnny Park!”; e outras faixas mais previsíveis (o grande problema do Foo Fighters ao vivo, aliás). Aquele foi um dia de realizações.
Três anos se passaram e em 2015, na companhia de dois amigos igualmente loucos, André e Sami, combinamos de viajar para a turnê completa, que passaria por Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. A minha desculpa era conseguir ouvir “Aurora” ao vivo. Foi uma loucura viajar de um estado para o outro em tão pouco tempo, conhecendo muita gente, fazendo coisas sem noção, enchendo o rabo de álcool e refletindo sobre, mas aprendendo uma valiosa lição.
Tudo bem que Dave Grohl não estava lá muito inspirado e fez questão de repetir até mesmo as suas piadas no palco. Tudo bem que ele me deu falsas esperanças quando me viu e falou que tocaria “Aurora”. Tudo bem que foram praticamente quatro shows idênticos. Mas foram shows que passei na companhia das melhores pessoas que já conheci. Exceto por Porto Alegre, em que eu, André e Sami ficamos muito mais concentrados no palco, em São Paulo dividimos o momento com nossos amigos. No Rio de Janeiro dividi o momento com a minha melhor amiga. E em Belo Horizonte, em casa, a gente realmente se divertiu dividindo aquela banda tão especial. Exceto o Sami, que sumiu para ficar na grade do show.
Depois disso, eu não vi mais o Foo Fighters ao vivo. Quase fui em 2018 para ver o Queens of the Stone Age. Pensei em ir no Rock in Rio no ano seguinte, mas fiquei apenas na vontade. Era como se o auge tivesse sido mesmo em 2012, ainda com os impactos da turnê do Wasting Light (também conhecido como melhor disco da banda).
E quando menciono nomes de pessoas reais é porque sei que você pode se identificar e lembrar dos seus próprios amigos e de todos com quem dividiu um show do Foo Fighters na vida. A gente fica arrasado e vazio com a notícia da perda de uma pessoa tão talentosa e carismática, fica triste de imaginar que esse pode ser o fim de uma banda tão querida, mas a missão desses caras é proporcionar para a gente lembranças de dias inesquecíveis em que por duas horas e meia, a única coisa que importava era saber se a nossa música favorita estaria no setlist. (Não estaria, no caso hahaha)
Então, a única coisa que podemos fazer nesse momento, é relembrar o quanto foi especial compartilhar os shows do Foo Fighters com as nossas pessoas queridas, o quanto cada música representa para a nossa vida, e agradecer pela chance de ter vivido isso.
Obrigado, Taylor Hawkins. Que você descanse em paz e com a certeza de ter feito o seu melhor para dar mais alegria na vida de seus fãs. Acho que ninguém nunca vai esquecer o seu sorriso imenso e alegria. Nunca mesmo.
Tullio Dias é escritor, autor de contos e fundador do Cinema de Buteco.