Daqui a alguns dias, o Audiograma completa oficialmente doze anos de existência.
É louco pensar que essa ideia – que ganhou força lá nos corredores do famigerado Prédio 13 da PUC Minas – ia perdurar por tanto tempo e contar com diversas facetas. Lá no começo, a ideia era falar de música e ser “o maior portal de todos”, algo que ficou só no sonho e, pelo menos até agora, segue distante de se tornar real.
De lá pra cá, já tivemos coluna sobre Axé, pensamos em criar uma editoria focada em sertanejo, pensamos até em criar “vários Audiogramas”, cada um focado em um grupo de estilos musicais. Assim como a música no Brasil, aos poucos fomos percebendo que esses formatos podem coexistir em um único endereço, ainda que o site tenha uma linha editorial que não contemple todos os estilos existentes.
Eu já perdi a conta de quantas ideias, projetos, desejos ou planilhas foram elaboradas com o objetivo de estruturar o futuro deste site. Inclusive, este texto teve como ponto de partida a minha “organização” do Google Drive com 54156416541 arquivos diferentes ligados ao Audiograma. Programa para o YouTube, hub de podcasts, eventos, sessions em estúdio… nada que seja relativamente novo para o universo do jornalismo musical, mas que representaria um status de crescimento para o Audiograma que eu sempre almejei, desde janeiro de 2010.
Em um mundo de números, o Audiograma é pequeno. Nós ainda estamos em busca do nosso segundo milhão de pageviews e não ultrapassamos os 5K de seguidores em nenhuma rede social. Em um mundo capitalista, o Audiograma é ainda menor. Hoje, todos os colaboradores que ainda abraçam esse projeto, o fazem porque gostam de música e do site, já que ninguém tem remuneração.
Por mais amor que se tenha, esse projeto está longe de ser rentável e isso me impede de “viver do Audiograma” como gostaria, por exemplo. Como ele não se paga sozinho, eu estou com algumas abas abertas aqui no navegador enviando CV em busca da tão sonhada estabilidade enquanto redijo esse texto.
Como conciliar um sonho com trabalho e contas?
Desde a publicação de nosso LISTÃO 2021, venho pensando em como “recuperar” o meu desejo de manter essa ideia viva. Se você acompanhou o Audiograma no último ano, deve ter se deparado com alguns textos onde eu deixava em aberto o futuro do site.
Uma parte de mim ainda está ligada naquela ideia inicial de ser “o maior portal de todos” e, por mais que eu tente, ainda bate aquela sensação de que as coisas não aconteceram “como deveriam”, sabe? Mais do que isso, é comum me pegar pensando que esse desejo não se tornou real porque eu não me esforcei o suficiente. Talvez seja só aquela mentalidade publicitária padrão se manifestando, mas ela bateu forte ao longo do ano passado.
Se tem algo que nunca mudou no Audiograma desde 2010, foi essa questão de números e finanças. Eu sempre estive focado em outros trabalhos – porque as contas precisam ser pagas, né? – e o Audiograma era algo paralelo que eu adorava fazer quando sobrava tempo. Até por isso, eu sempre ficava com essa coisa na cabeça do “preciso focar se eu quiser que dê certo” ou “não deu certo porque você não focou”. Com o tempo, aprendi que era algo maior do que isso, mas eu nunca me permiti encarar o Audiograma como O FOCO da minha vida. Nem mesmo nos últimos anos, quando a CLT foi substituída (contra a minha vontade) pelos freelas.
Recentemente, alguém me perguntou o que o Audiograma tinha feito de legal e, até hoje, eu não sei dizer com clareza quais foram os êxitos desse projeto. Ao longo dos anos, lidei com diversas pessoas legais e construí amizades para toda a vida, vi um negócio que saiu da minha cabeça cobrindo um dos maiores festivais do país por três edições seguidas e recebendo convite para ser creator da maior plataforma de streaming do mundo. Coisas que eu achei que aconteceriam só quando o Audiograma atingisse aquele patamar que eu tracei lá em 2010.
Foi nesse exercício que eu percebi que esse conceito de “grande” mudou muito de 2010 para cá. Olhando para tudo o que fizemos, publicamos MUITAS coisas legais e das quais eu tenho orgulho. Coberturas de shows, resenhas de álbuns, textos especiais, lançamentos de artistas independentes, podcast… Eu posso me dar ao luxo de dizer que o Audiograma tem um time bem criativo de envolvidos e, ao mesmo tempo que isso me deixa muito feliz, me “pressiona” a ponto de querer transformar isso aqui a ponto de fazer cada um largar seus empregos e “viver do Audiograma” comigo.
No fim das contas, percebi que a minha ideia de ter “um projeto grande” não é só pelos números, mas pela vontade de me cercar de pessoas legais e trabalhar todo o tempo com algo que eu realmente gosto e me identifico. Infelizmente, o nosso apoia-se acabou ficando de lado e o meu projeto “ganhar na Mega Sena da Virada” não vingou, fazendo com que esse grande plano seja engavetado no futuro próximo…
O jornalismo musical também não ajuda
Assim como os meus conceitos pessoais mudaram, o jornalismo musical virou de ponta cabeça nesse período. Hoje em dia, ninguém abre um site para saber sobre o novo single da cantora A ou da banda B. Tudo o que você precisa saber está no Twitter ou no Instagram e, com um clique, essa música está tocando no seu player favorito.
Abrir um site e ler o seu conteúdo passou a ser algo trabalhoso e, para compensar isso, não adianta entregar o básico. Principalmente quando você está “competindo” pela atenção com portais grandes, redações estruturadas e capazes de soltar a mesma informação de forma rápida e direta. Lá no começo, ser “o maior portal de todos” passava, necessariamente, por entregar notícias em primeira mão. Era o que eu imaginava como “modelo de sucesso” e, se você pensar bem, isso é algo praticamente impossível para o Audiograma nos dias atuais. Não tem sido fácil deixar esse conceito de lado por aqui, mas é um dos objetivos para esse ano que se inicia.
O meu foco enquanto editor deste espaço vem, aos poucos, migrando para a curadoria. Já falei sobre isso algumas vezes em programas do nosso AudioCast e, nos últimos anos, passei a defender a ideia de que sobra informação, mas falta curadoria. Eu cresci nos anos 90 com a MTV me mostrando artistas e, quando olho pros dias atuais, sinto falta disso. “Ah, mas está tudo no Spotify”, você pode estar pensando. E é aqui que eu digo que isso é bom e ruim ao mesmo tempo. É maravilhoso ter tudo em uma plataforma onde, com três cliques, você já consegue ouvir algo. Agora, o que vai te motivar a ouvir um determinado artista se ele não está no TOP50, no Viral ou envolvido em alguma polêmica? A tal da curadoria.
O melhor do streaming hoje é facilitar esse processo para todo mundo. Eu, você, a sua vizinha, aquele cara da academia, seu chefe, a Larissa Manoela… qualquer pessoa é capaz de indicar alguma música que gosta para alguém e essa pessoa se sentir inclinada a ouvir, dar uma chance e descobrir se é bom mesmo. Essa talvez seja a prática mais antiga do consumo musical e ela se perdeu em meio ao conceito de hard news, polêmicas, imediatismo e números. Foi por gostar de música que eu comecei o Audiograma e, de lá pra cá, percebi que me afastei disso a ponto de questionar a minha vontade de continuar.
E vai continuar? Qual o futuro do site?
“mais curadoria, menos hard news”
Em abril do ano passado, falei sobre a vontade de focar em conteúdos autorais e essa será a toada do Audiograma em 2022.
Inevitavelmente, não dá para esquecer completamente das notícias. Esse modelo sempre existiu e continuará existindo, mas com menos importância por aqui. Aquele anúncio de álbum, informações de shows (quando eles efetivamente voltarem), listas com novos clipes ou os lançamentos da semana ainda estarão aqui… mas o espaço principal delas deixa de ser o site e passa a ser as redes sociais. Até por isso, nos acompanhe também Spotify, Facebook e, porque não, no YouTube e no AudioCast – onde pode surgir algo na linha “slow news”, com o perdão do termo.
A ideia principal é: resenhar álbuns, cobrir shows, elaborar listas, pensar em conteúdos especiais e exclusivos, indicar novos artistas e, principalmente, te fazer ouvir música.
Será que a gente vai dar conta?