Capa do disco King's Disease II, do rapper Nas.
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Review: Nas – King’s Disease II

Quais as consequências em ser uma referência naquilo que você faz? Essa é uma pergunta respondida por Nas, lenda do hip-hop, em seu 13º disco da carreira, King’s Disease II.

O álbum é uma continuação de King’s Disease, lançado no ano passado e que deu ao rapper nova-iorquino o seu primeiro Grammy Awards.

Entretanto, o que vemos no trabalho desse ano é uma evolução, uma prova de que Nas segue firme no posto de um dos maiores rappers de todos os tempos. Colocá-lo ao lado de nomes como 2Pac, Notorious B.I.G. e Jay-Z no topo da história do gênero já deixou de ser um exagero, desde a sua estreia com o clássico Illmatic (1994).

Posto tudo isso à mesa, King’s Disease II aborda justamente as consequências dessa história imensa que Nas possui na indústria. Aliás, a própria tradução literal do título do disco (“Doença do Rei”) dá uma pista nesse sentido. A doença do rei é a doença de quem alcançou um status próprio naquilo que é bom.

O álbum se inicia com “The Pressure”, parceria com Don Tolliver. A faixa demonstra a própria ideia que Nas tem de si e do que ele próprio representa, como bem exemplificado no refrão.

“A pressão pesa uma tonelada, está ficando pesada demais/Tive que inspirá-los de novo como se já não tivesse feito isso”.

Mas King’s Disease II também não é apenas sobre o presente, como também sobre toda a trajetória de Nas como músico. “Death Row East” aborda esse ponto, quando o rapper relembra a sua rivalidade (e respeito) por Tupac Shakur. Além disso, Nas também lembra de III Will, seu amigo de infância assassinado em 1991. Toda essa energia do passado é carregada na melodia, que remete às produções do hip-hop dos anos 90.

Por outro lado, há também espaço para facetas que não estamos acostumados a ver em Nas. “40 Side” possui camadas sonoras que flertam com o trap, algo que demonstra a versatilidade do artista.

Então, voltando novamente para o passado, tanto recente quanto mais distante, temos “EPMD 2” e “Store Run”. A primeira contém colaboração de Eminem e do grupo EPMD, e também aborda algumas perdas. O verso de Eminem, apesar de em quesitos de habilidades não soar novo, possui uma das partes mais emocionantes do trabalho, quando o mesmo reflete sobre perdas recentes para o hip-hop: as mortes de DMX, Nipsey Hussle, Stezo, John Fletcher, Prince Markie Dee e MF DOOM. Já em “Store Run”, é a vez de Nas homenagear alguns desses nomes, além de relembrar a sua vida morando em Queensbridge durante os anos 90.

Mas o álbum está longe de ter um clima melancólico; pelo contrário, Nas também celebra a sua própria vida em “Rare”, “Brunch on Sundays” e “Count Me In”. Aliás, a terceira música que eu citei toca justamente na tal “doença do rei”, que para Nas é resumida pela ambição e orgulho, algo que estão ligadas à personalidade do rapper. Não à toa, a canção que fecha o disco é “Nas Is Good”, como se ele quisesse dizer que está bem do jeito que é e é feliz com o que se tornou para as pessoas.

Entretanto, Nas deixa claro no disco que essa vitória não veio sem percalços ou dúvidas sobre si; e é justamente aí que King’s Disease II se mostra especial. “Moments”, com uma produção impecável de Jansport J e Hit-Boy, com uma vibe J Dilla, apresenta um Nas olhando para o que viveu desde a sua ascensão. “Nobody” conta com a participação de Mrs. Lauryn Hill, que entrega o melhor feat do álbum. Mas, mais do que isso, é nessa canção que vemos Nas desejando não ser aquilo o que é. “Em uma cidade, um país, um estado/Algum lugar para não ser ninguém/Algum lugar para estar/Algum lugar que você provavelmente não conheceria/Algum lugar para não ser ninguém”, ele canta no refrão.

Lauryn Hill
A participação de Ms. Lauryn Hill é um destaque em ‘King’s Disease II’.

Por fim, vale destacar a produção executiva de Hit-Boy, se reafirmando como um dos melhores produtores da última década (se não o melhor). Ele consegue explorar a personalidade cheia de lados de Nas e transformar isso em beats diferentes e que desafiam o rapper a se provar cada vez melhor. “No Phony Love”, por exemplo, é como se Hit-Boy levasse Nas a uma viagem aos anos 60, nos tempos da Motown.

Enfim, se em King’s Disease nos deparamos um trabalho que, apesar de premiado, ainda soava inconsistente (ao ponto de eu mesmo discordar em relação ao Grammy que Nas levou), vemos em King’s Disease II tudo que esperamos de um trabalho de alguém do nível de Nas: letras incríveis, beats marcantes e retalhos sobre a sua vida. O artista consegue explorar o que já mostrou de melhor na carreira, sem com que soe ultrapassado. Com isso, temos o que é possivelmente o melhor disco de rap de 2021. Palmas pra Nas, o rei do hip-hop.

Capa do disco King's Disease II, do rapper Nas.

Nas – King’s Disease II

Lançamento: 6 de agosto de 2021
Gravadora: Mass Appeal e The Orchard
Gênero: Rap
Produção: B. Carr, Brian Alexander Morgan, Corbett, Eminem, Ezreaux, Hit-Boy (Produtor Executivo), Jansport J e Rogét.

Faixas:
01. The Pressure
02. Death Row East
03. 40 Side
04. EPMD 2 (feat. Eminem e EPMD)
05. Rare
06. YKTV (feat. A Boogie wit da Hoodie e YG)
07. Store Run
08. Moments
09. Nobody (feat. Ms. Lauryn Hill)
10. No Phony Love (feat. Charlie Wilson)
11. Brunch on Sundays (feat. Bixst)
12. Count Me In
13. Composure (feat. Hit-Boy)
14. My Bible
15. Nas Is Good