Os Amantes, d’Os Amantes
Jaloo e Strobo, que já vêm de trabalhos renomados pela crítica independente, resolveram se unir para lançar o projeto — e álbum — Os Amantes. Da união surgiu músicas com diversas referências, indo da música paraense ao “revival” de artistas como Os Mutantes e um ode a Caetano Veloso. Pop, brega, lambada e o doce humor são marcas da nova fase da dupla. [BS]
Batidão Tropical, de Pabllo Vittar
“Alô, eu sou a Pabllo, quem é que liga?”. É assim que a drag queen Pabllo Vittar se apresenta em “Ultra Som”, música do seu novo álbum. E ela segue nessa apresentação característica em outras músicas do trabalho. O que diferencia Batidão Tropical dos outros conjuntos da carreira de Pabllo é que, mesmo que 66% do trabalho seja regravações de outras músicas, é nelas que encontramos com mais profundidade a identidade artística de Pabllo Vittar. Isso porque para a seleção das músicas que iriam para o novo disco, a queen recorreu àquelas que marcaram sua infância no Maranhão: as bandas de forró dos anos 2000. É nesse novo álbum que percebemos de onde vem a inspiração de outras músicas da discografia de Pabllo, como “Corpo Sensual”, “Seu Crime” e “Eu Vou”. Batidão Tropical, então, se caracteriza como um trabalho ousado. Como pode uma artista fazer releitura de uma obra de arte, mantendo as mesmas características da original, e torná-la algo totalmente novo e unicamente seu? Muito mais que “música regional”, como alguns ouvintes gostam de diminuir o trabalho de Pabllo Vittar, Batidão Tropical celebra os gêneros musicais mais marcantes da música brasileira dos anos 2000. Ele apresenta os gêneros forró, tecnobrega, carimbó e tecno melody a novos ouvintes e permite que seus fãs nortistas e nordestinos preservem e renovem sua identidade cultural. Assim, a drag queen dá às regravações do Batidão Tropical o atestado de atualidade e, igualmente, o prazo de validade para o futuro. [HF e JW]
Dolores Dala Guardião do Alívio, do Rico Dalasam
“Eu não falaria de alívio se não tivesse doído tanto”, diz Rico Dalasam na abertura falada do disco Dolores Dala Guardião do Alívio, que parece um áudio enviado para uma amiga para alentá-la. O disco é isso, um alento. A começar pela capa, em que Rico te recebe de braços abertos com um céu azul, uma coisa que parece até religiosa imageticamente. Ele fala de relacionamentos, afetos, conflitos e dores, sem deixar de lado sua vivência com o racismo e a homossexualidade. O rapper de São Paulo traz nesse novo disco uma sonoridade que mistura o hip hop a ritmos brasileiros e latinos, incluindo também pop e R&B e muitas participações (Dinho, Moi Guimarães, RDD, Chibatinha e Pedrowl, entre outros). Nas letras, chama atenção o foco no amor (e não apenas o amor romântico), nas relações mais íntimas e em todos os dramas que elas carregam, trazendo de conversas difíceis com um crush até citações a saúde mental e distúrbios psicológicos, fora o acolhimento entre amigos e esse cuidado que temos com os nossos. Em época de pandemia, as mensagens e áudios do WhatsApp representam esse contato e têm várias referências no disco, com interlúdios falados e até o barulhinho tão característico da gravação no aplicativo. Um trabalho que reflete muito a sua época, trazendo uma visão muito lúcida e sensível da nossa sociedade e principalmente das nossas relações hoje. [BM]
Typhoons, do Royal Blood
Ao misturar elementos de dance music com o hard rock pelo qual o trabalho da dupla se tornou conhecido, o Royal Blood conseguiu fazer de Typhoons o melhor disco de sua relativamente curta carreira. É impossível não destacar o fato de que as músicas se tornaram mais melódicas, com riffs e harmonias mais chamativas e atraentes, o que torna o disco algo refrescante e divertido de se ouvir em meio ao caos pelo qual o mundo – ou só alguns países, como o Brasil – tem passado. É quase como se a dupla quisesse fazer com que o ouvinte se sentisse indo à uma festa cheia de músicas do Daft Punk e do Queens of Stone Age e se esquecesse um pouco da realidade, uma sensação muito bem vinda e querida atualmente. Destaque para “Trouble’s Coming”, “Boilermaker” e para a faixa título: te desafio a não cantar junto com o pré refrão dela. [GC]
Drunk Tank Pink, do shame
A banda britânica Shame ficou conhecida por ser mais um nome da recente cena de post-punk graças ao seu som explosivo, pulsante, mas que mostrava ser mais abrangente do que a sonoridade de outras bandas atuais desse mesmo estilo. E isso se confirma com seu segundo disco, Drunk Tank Pink. Produzido pelo célebre James Ford (Arctic Monkeys, Florence + The Machine, Jessie Ware), o quinteto de South London acerta em uma sonoridade mais desacelerada, que flerta com o pop por meio de riffs que martelam na cabeça do ouvinte, sem deixar de serem leves e igualmente viciantes. Vale destacar também o vocal de Charlie Steen, que mais do que nunca percorre vários sentimentos, desde o amor até a melancolia. [RS]
Black To The Future, do Sons of Kemet
Liderados pelo incrível saxofonista e compositor Shabaka Hutchings, o grupo de jazz Sons of Kemet tem em Black to the Future mais um trabalho experimental e que penetra o ouvinte com melodias que não precisam de palavras pra dizer a que veio. Porém, o álbum conta também com a participação de Joshua Idehen, poeta que aborda tópicos como o racismo, a violência policial e a desigualdade social. Um disco que em um primeiro momento pode ser difícil de ser digerido, mas que conquista pelos caminhos diferentes que percorre. [RS]
Daddy’s Home, da St. Vincent
Construído em torno do fato de que o pai de Annie Clark saiu da prisão após 12 anos cumprindo sua pena, Daddy’s Home, primeiro disco de St. Vincent em cinco anos, tem como pontos altos a parceria Annie Clark/Jack Antonoff e a afinidade da dupla com a sonoridade dos anos 70. Não há nada fora do lugar nesse disco: desde a parte visual até a guitarra explosiva de Annie Clark, da história sobre seu pai à recusa dela em aceitar a maternidade e o papel de esposa, tudo se encaixa perfeitamente em uma procura pela liberdade de fazer suas próprias escolhas. Em Daddy’s Home, a liberdade recém adquirida de seu pai é um lembrete – e uma reafirmação que mulheres precisam fazer constantemente – de que ela prefere tocar guitarra o dia inteiro e esquentar suas comidas no microondas e evitar qualquer papel tão grandioso e importante para a vida de alguém. [GC]
THE FUTURE BITES, do Steven Wilson
Previsto inicialmente para 2020, o sexto álbum solo de Steven Wilson acabou sendo adiado para janeiro e, desde já, é um dos candidatos a figurar nas listas de fim de ano. O ex-guitarrista da finada (?) Porcupine Tree colocou no mundo um álbum guiado pelas batidas eletrônicas e pelo synth-pop, mas engana-se quem espera algo muito feliz de tudo isso. THE FUTURE BITES é uma visão pós-apocalíptica e distópica de uma sociedade materialista e, ao longo de suas nove faixas, nos guia para uma reflexão acerca de tudo o que está acontecendo ao nosso redor. Tire quarenta minutos do seu tempo e ouça! [JP]
Convocations, do Sufjan Stevens
Sufjan Stevens é um artista ambicioso a ponto de ser excêntrico em seu trabalho. Ele, que já idealizou um projeto para lançar um disco para cada estado dos Estados Unidos e o abandonou algum tempo depois, passeia entre gêneros que vão da música eletrônica ao folk e o fazem ser indicado à Oscars e Grammys. Nas 49 (!) faixas que compõem Convocations, foi a vez de experimentar com a música instrumental. Dividido entre 5 volumes que representam os 5 estágios do luto, o disco mistura elementos do shoegaze, do jazz e da música eletrônica para refletir sobre a morte do pai de Sufjan e a incerteza e ansiedade causadas pelo isolamento em meio à pandemia. Apesar de ser um álbum difícil de se ouvir em tempos onde discos tem apenas 10 faixas, Convocations merece atenção por conseguir traduzir perfeitamente todos os sentimentos e a excentricidade de Sufjan Stevens em seus instrumentais e suas duas horas e meia de duração. [GC]
Tapetes Persas, do Tapetes Persas
Em seu disco de estreia homônimo, a banda de Belo Horizonte faz um rock bem anos 60. Nem todo mundo sabe, mas o Brasil teve uma cena maravilhosa de rock psicodélico nessa época, que ia muito além da Jovem Guarda e que infelizmente nunca teve o sucesso e o reconhecimento que merecia. Até mesmo os Mutantes demoraram décadas até serem descobertos e valorizados, e continuam fazendo mais sucesso na Europa e nos EUA do que aqui até hoje. Com esse disco novo, os jovens mineiros honram todos os músicos que vieram antes deles mantendo o estilo mas ganhando em qualidade – afinal, a tecnologia e o acesso que temos hoje facilitam muito. O incrível talento deles surpreende no instrumental e também nas letras, muito inteligentes e em português para todo mundo poder cantar junto, além de contarem com bons vocais e harmonizações. Por fim, o espírito retrô não faz o som ficar datado, muito pelo contrário. Nota dez! [BM]
Fearless (Taylor’s Version), da Taylor Swift
Leia a resenha completa do álbum
É interessante ver como Taylor Swift utilizou toda experiência adquirida nos últimos anos para melhorar um disco que já era ótimo, mas é preciso admitir que a melhor parte do novo Fearless é a nostalgia. Ouvir Taylor revisitar suas origens, inspirações românticas e influências musicais há muito abandonadas ao regravar de maneira fiel seu coming of age na idade adulta é reconfortante, dando uma sensação familiar para qualquer um que acompanhe sua carreira e um grande presente para sua legião de fãs extremamente fiéis. [GC]
Endless Arcade, do Teenage Fanclub
Endless Arcade é mais um bom trabalho na já extensa discografia dos escoceses do Teenage Fanclub. Ainda que a saída de Gerard Love (baixo) e uma certa acomodação possam ser sentidas, o novo trabalho é composto por melodias cativantes e letras facilmente identificáveis. Em suas doze faixas, o Teenage Fanclub entrega aquilo que se espera da banda, mostrando que, quando bem feito, não existe problema em permanecer na sua zona de conforto. “Everything Is Falling Apart” é uma boa prova disso. [JP]
ULTRAPOP, do The Armed
Quem ouve a faixa de abertura de ULTRAPOP, quarto álbum do The Armed, nem desconfia que estamos falando de uma das bandas de hardcore mais inovadoras da atualidade. Com uma musicalidade que não larga mão do post-rock e até do noise, temos no novo trabalho do coletivo de Detroit uma das obras mais impressionantes do rock de uma forma geral nos últimos anos. Faixas como “A LIFE SO WONDERFUL”, “AN INTERATION” e “ALL FUTURES” provam toda a versatilidade da banda, e as letras emocionam ainda mais do que o instrumental pesado do disco. [RS]
Death By Rock and Roll, do The Pretty Reckless
O quarto álbum da carreira da banda segue explorando a já conhecida temática do puro rock’n’roll, marca do grupo. Sem fugir do confortável, Death By Rock And Roll apresenta composições sobre a perda de entes queridos, amadurecimento, drogas, liberdade e tristeza sem fim em acordes duros e vocal comedido da frontwoman Taylor Momsen — classificados como a essência do rock pela própria vocalista. Contando com a participação de artistas consagrados como Tom Morello, o álbum é uma boa pedida para quem quer experimentar a vibe do rock dos anos 80, mas um pouco decepcionante para quem esperava um trabalho semelhante ao trabalho anterior, Who You Selling For. [BS]
Tonic Immobility, do Tomahawk
Oito anos após Oddfellows (2013), o Tomahawk acrescenta mais um trabalho de estúdio em sua discografia e Tonic Immobility não decepciona. É um álbum simples e direto: rock, barulho, vocais marcantes, riffs tradicionais, experimentalismo… tudo aquilo que o roqueiro reclama e diz que ficou no passado. Talvez não seja o melhor álbum de Mike Patton e companhia, mas é impossível não gostar de um trabalho que tem faixas como “Business Casual”, “Fatback” ou “SHHH!”. [JP]
Chegamos Sozinhos em Casa (Vol. 01), do Tuyo
Leia mais: Tuyo lança segundo álbum com participação no SXSW e destaque no New York Times
O segundo álbum cheio do trio paranaense Tuyo é a consagração do grupo e chega logo após eles terem participado do importante festival americano SXSW e recebido elogios rasgados do jornal The New York Times justamente por conta dessa apresentação. A banda chegou ao seu auge mantendo sua personalidade e junção de estilos musicais com vocais belíssimos, mas apresentando um trabalho mais rico, com mais elementos sonoros, detalhes, camadas, texturas e participações especiais e produção impecável. O resultado é um som grandioso de altíssima qualidade, que tem tudo para ganhar o mundo ainda que todas as letras sejam em português brasileiro. Taí o reconhecimento dos gringos, merecidíssimo, que não me deixa mentir. As letras e a forma de cantar da Tuyo são muito, muito lindas e realmente tocantes. É como se a gente se apaixonasse escutando, mesmo quando falam de coisas mais sofridas e tristes, porque é uma beleza que atrai muito. É como se fosse uma música encantada, um canto de sereia, uma coisa magnética que puxa a gente. Imperdível. [BM]
Call Me If You Get Lost, do Tyler, the Creator
Tyler, the Creator não cansa de surpreender, e dessa vez, com CALL ME IF YOU GET LOST, vemos alguém que faz questão de se expor ao máximo – sem personagens, sem versos que disfarçam alguma coisa. Esse universo intimista do novo álbum de Tyler se materializa em uma homenagem às mixtapes dos anos 2000, algo que influenciou musicalmente o rapper/produtor. Além disso, vemos uma sonoridade mais “caótica” – como o que encontramos em Goblin (2011) e WOLF (2013), seus primeiros álbuns de estúdio, mas que se mostra muito mais eficiente aqui pela maturidade musical alcançada por Tyler. O resultado é um trabalho impecável, com faixas incríveis como “HOT WIND BLOWS” e “LEMONHEAD”. [RS]
Fúria, de Urias
Fúria: substantivo feminino. Exaltação violenta de ânimo; ira, raiva, cólera. Estro; entusiasmo, fervor, ímpeto. É assim que uma das maiores vozes da cena LGBTQIA+ avisa que o seu novo álbum está no ar. Fúria é produzido pelo trio Gorky, Maffalda e Zebu e mostra que a carreira de Urias é aquilo que ela é: forte. A segunda parte de Fúria está prevista para o segundo semestre e, em sua primeira metade, vemos algo agressivo mas suave, que transita na criatividade extremamente fértil e melodramático da artista mineira. “FÚRIA não apenas o lançamento de um álbum, mas um produto musical que conecta áudio, vídeo e desejos pessoais. É sobre mim e também sobre o outro, sobre a relação que a sociedade tem com o corpo, o sexo e figura da mulher. Tem ira, mas também tem mansidão”, diz a artista. “Racha” é a faixa que traz a fúria experimentada quando um corpo trans é subestimado. “Foi mal” é a fúria de engolir o próprio orgulho e reconhecer o erro. “Peligrosa” aborda a fúria de ser interrompida em momento de ápice. “Cadela” é a fúria de ser julgada e diminuída por ser mulher. “Maserati” a fúria carnal e do sexo como válvula de escape. [HF]
Welfare Jazz, do Viagra Boys
Após uma estreia bem sucedida com o Street Worms (2018), os suecos do Viagra Boys estão de volta com o refinado Welfare Jazz. Mais um ótimo nome do post-punk, a banda formada em 2015 parece ainda mais apta ao experimentalismo. Ao longo das treze faixas, temos muito da sonoridade já conhecida aliada a outros elementos que tornam o disco maluco e igualmente interessante. As dançantes “Creatures” e “Girls & Boys”, o baixo marcante de “Ain’t Nice” e a jazzística “I Feel Alive” são bons destaques e valem a audição. [JP]
Ok, Human, do Weezer
Pegue Pet Sounds, disco de 1966 dos Beach Boys, atualize suas letras para falar sobre questões modernas, como isolamento social, repetição de rotina, K-POP e audiobooks e você terá Ok Human. Gravado com a participação de uma orquestra, o décimo quarto disco do Weezer tem seus momentos fracos, como as extremamente lentas “Mirror Image” e “Dead Roses” mas, ao deixar de lado as guitarras elétricas que dominam os singles mais conhecidos da banda para priorizar pianos, violinos e violoncelos, ele se torna um divertido e agradável tributo ao pop barroco da década de 60. Talvez um dos grandes (e únicos) problemas desse disco seja sua duração: as músicas são curtas, totalizando 30 minutos que fazem com que o ouvinte termine o disco com a sensação de “quero mais”. Destaque para “Screens”, uma crítica à obsessão da sociedade com tecnologia que possui o refrão mais pop do disco, e para a reflexão sobre mortalidade promovida em “La Brea Tar Pits”. [GC]
Textos: Bárbara Monteiro, Bárbara Silva, Gabrielle Caroline, Henrique Ferreira, João Wads, John Pereira e Rahif Souza.
Como foi feita a lista de melhores álbuns de 2021 (até agora)?
Em voto simples, membros da equipe do Audiograma listaram os seus álbuns preferidos do primeiro semestre, com o limite de 50 álbuns. A partir daí, os mais lembrados foram separados, dando forma a lista final publicada acima.
Quem votou: Bárbara Monteiro, Bárbara Silva, Gabrielle Caroline, Henrique Ferreira, John Pereira, Matheus Gouthier, Rahif Souza e Yuri Carvalho.