Planet Her, da Doja Cat
O terceiro disco de Doja Cat é uma enorme mistura de referências, culturas, estéticas e estilos…assim como é a artista. Ela é uma ótima cantora e também ótima rapper e tem duas vozes bem diferentes para cada uma, o que até pode causar estranhamento, mas na verdade é uma versatilidade para poucos. Doja Cat é muitas vezes subestimada. Ela é uma artista completa, compositora e criadora com muita personalidade, sempre muito inspirada e cuidadosa com tudo que concerne sua obra, desde a estética e o visual até as letras, sempre pesadas e explícitas, brincalhonas de uma forma ácida e sem pudores. Mas mulher falando de sexo livremente incomoda mesmo, né. Ela já tá na estrada faz tempo, com single lançado desde 2014, mas só foi estourar com o vídeo meme que viralizou da música/zoeira “Mooo!”, de 2018; e com os hits do Tik Tok “Say So”, “Boss Bitch” e “Streets”. Cheia de polêmicas, tretas à parte, acho que Doja Cat é uma das artistas mais autênticas do mainstream atual. Voltando ao disco novo, Planet Her conta com participações de SZA (na música que já virou hit “Kiss Me More”), Ariana Grande, Young Thug, JID e The Weeknd e traz uma sonoridade bem eclética com hip hop, pop, afrobeat, R&B, funk, dancehall, house, referências a k-pop e cultura japonesa (ela sempre foi uma e-girl, afinal). Doja Cat segura a bucha em 14 boas faixas com produção excelente (ainda que envolvida em polêmicas por ser, em parte, feita por Dr. Luke – sim, aquele da Kesha), e muita personalidade, vocais que mostram que ela é sim uma grande cantora, além das rimas afiadas. As letras falam de relacionamentos, mas trazem aquela sensação de “superei, sou forte, não preciso de você” e várias críticas a homens imaturos. Ela também cita Nicki Minaj em “Get Into It (Yuh)”, agradecendo e dizendo que ama a veterana. É um disco bem comercial, sim, mas é inegável o quanto ele tem qualidade, autenticidade e originalidade, apesar de ser bastante radiofônico e alinhado às tendências do mercado musical. Doja Cat cavou seu lugar no mainstream com unhas e dentes e merece o sucesso que tá fazendo, simples assim. [BM]
Te Amo Lá Fora, da Duda Beat
Duda Beat ampliou o raio de ritmos em seu segundo álbum, como maracatu, tecnobrega, (t)rap, pagode, entre outros. No novo trabalho, o vocal de Duda aparece mais maduro, seguro pela fórmula do sucesso criado pela artista e uma criação menos experimental. Se houve ampliação de ritmos e a própria evolução natural, a temática de Te Amo Lá Fora continua a mesma do predecessor Sinto Muito, recheado do melhor da sofrência do indie pop, com direito a referência de hits antigos da cantora. [BS]
I Know I’m Funny haha, da Faye Webster
Em seu quarto álbum de estúdio, Faye Webster mostra toda a sua evolução musical. Ainda que não seja o meu trabalho preferido da estadunidense, é legal perceber como tudo soa ainda melhor em I Know I’m Funny haha. Toda a construção do álbum é interessante, o que contribui para que faixas como “Better Distractions”, “Kind Of”, “A Dream With a Baseball Player” e a incrível “In a Good Way” se tornem pontos altos de toda a sua carreira. E eu nem preciso abordar o lado engraçado da cantora no novo conjunto de faixas, já que isso está claro com o seu título. Ouça! [JP]
Medicine at Midnight, do Foo Fighters
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Gravado antes da pandemia, Medicine At Midnight é, estranhamente, adequado para os dias atuais. É quase como se a banda tivesse previsto o que o mundo enfrentaria mas, ao invés de apenas pontuar todas as catástrofes e nos fazer companhia no caos, Dave Grohl e os demais tentam nos dar motivos para sacudir a poeira e buscar a retomada. O resultado é um trabalho divertido, que agrega diversos elementos sem perder a sua pegada rock. […] O Foo Fighters parece funcionar muito mais com ideias que são aparentemente simples e isso está longe de ser um demérito. [JP]
No Gods No Masters, do Garbage
O sétimo disco do Garbage vem cercado do misticismo do número sete: segundo Shirley Manson, vocalista do grupo, o número – que para ela reflete as sete virtudes, as sete tristezas e os sete pecados capitais – alterou o DNA do disco, o que fez com que a banda entregasse um trabalho cheio de fúria, tanto em suas letras quanto em seus instrumentais. Navegando entre acontecimentos e movimentos marcantes nos últimos anos, como o Black Lives Matter, o MeToo e a reflexão sobre a sociedade patriarcal na sociedade moderna, No Gods No Masters traz discursos contra o poder e anti dominação que nunca cai num local nostálgico onde uma banda que está na ativa há quase 28 anos poderia cair. [GC]
If I Could Make It Go Quiet, de Girl in Red
O disco de estreia da norueguesa Girl in Red tem inspirações de coisas comuns do dia a dia da artista: por exemplo, “Rue” é baseada na personagem homônima da série Euphoria, e “Serotonin”, a faixa de abertura, é sobre seus problemas com pensamentos compulsivos, involuntários e auto destrutivos. A sinceridade com que os temas são tratados, somado à divisão entre a sonoridade pop punk e o R&B que marca as faixas são os principais atrativos do trabalho de Marie Ulven, em um registro ambicioso se comparado com o bedroom pop pelo qual ela se tornou conhecida. A performance vocal da cantora, principalmente em “Body And Mind”, e a produção, que assim como alguns dos principais discos dos últimos tempos conta com uma equipe reduzida, aqui composta pela própria artista e Matias Tellez, também merecem destaque, assim como a participação adicional de FINNEAS – sim, o irmão-produtor de Billie Eilish – na faixa de abertura, que foi descrita por ele como “uma das músicas mais legais que já ouvi”. Entre os principais momentos do disco, “hornylovesickmess” e “Did You Come?” merecem atenção pelas letras, enquanto “You Stupid Bitch” é uma ótima canção para se juntar ao revival do pop rock que vem acontecendo nos últimos tempos. [GC]
Flowers for Vases/Descansos, da Hayley Williams
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FLOWERS for VASES/ descansos é aquele álbum gostoso para você ouvir num fim de tarde apreciando uma companhia ou, quem sabe, ingerindo uma ou algumas taças de vinho. Os 43 minutos do álbum passam rápido (mesmo ele sendo “lento”) e da aquele gostinho de quero mais, nos fazendo repetir de novo e de novo. Acima de tudo, transparece amadurecimento e um lado de Hayley que não havia sido abordado anteriormente. Ela troca a raiva exposta em Petals for Armor pelo reconforto. [HF]
Olho de Vidro, da Jadsa
Lançado sob o selo da Balaclava Records, Jadsa entrega uma sensibilidade profunda em seu álbum de estreia. Misturando o reggae, rock e pop sob camadas de eletrônico, a artista preserva suas raízes baianas e afirma referências de artistas como Gal Costa, Tulipa Ruiz e Itamar Assumpção. Conta também com participação de nomes conhecidos do indie, como Ana Frango Elétrico e Luiza Lian — citada diretamente na faixa que leva seu segundo nome. [BS]
Jubilee, da Japanese Breakfast
Em meio a um período onde estamos super carregados emocionalmente, é sempre bom encontrar um bom refúgio, aquele disco que nos deixa “soft”. É o caso de Jubilee, terceiro álbum de Michele Zauner (aka Japanese Breakfast). O disco aflora qualidades já vistas em outros trabalhos da cantora/escritora, como a capacidade de passear por diversos gêneros, como o dreampop e o j-pop. Mas, muito mais do que isso, Jubilee é uma ode à felicidade, algo surpreendente para alguém que cansou de abordar temas sensíveis em suas obras anteriores. Por fim, canções como “Paprika” e “Be Sweet” credenciam o álbum como um dos melhores lançamentos de 2021. [RS]
Little Oblivions, da Julien Baker
É difícil não mergulhar de cabeça nos álbuns de Julien Baker. Ao longo de sua carreira, a multi-instrumentista estadunidense provou que sabe, como poucas, te envolver com as suas canções. Ainda que troque o folk por um som mais encorpado – onde Julien é responsável por guitarra, baixo, bateria e percussão -, toda a vulnerabilidade e dor tão bem descritas pela cantora estão distribuídas ao longo das doze faixas de Little Oblivions. O resultado é um álbum denso mas, ao mesmo tempo necessário. Triste, mas capaz de confortar. Em sua essência, um álbum com a marca Julien Baker. [JP]
Justice, do Justin Bieber
Trazendo um pouco mais da vibe popular que conquistou seu grande público no início dos anos 2010, Justin Bieber decidiu não se prender ao estilo do criticado álbum anterior Changes. Em Justice, as parcerias com Khalid, Chance The Rapper, The Kid LAROI, Dominic Fike, Daniel Caesar, Giveon, BEAM, Burnaboy, e, ufa, Benny Blanco, chegam para trazer uma variedade de estilos e dar aquela super impulsionada nas plataformas de stream. O LP é todo guiado por trechos do famoso discurso de justiça de Martin Luther King, mas as letras das músicas não estão nada relacionadas a este texto (risos). Baladas românticas, faixas dançantes e melodias grudentas marcam presença na tracklist. Vale o play, mas não espere por composições brilhantes ou mensagens profundas. [YC]
Chemtrails Over the Country Club, da Lana Del Rey
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No álbum, sua segunda parceria com Jack Antonoff, Lana Del Rey parece abandonar de vez sua paixão e seus ideais de Nova York e Los Angeles, deixando para trás a vida em meio à Bugattis e iates que sofreram com a decadência narrada no disco anterior para cantar sobre seus irmãos e suas amigas, sobre Tulsa e fazer referências à sua nova relação com a religião, criando o disco mais poético de sua carreira. Suas novas prioridades também refletem no instrumental do disco: salvo raras e pontuais exceções, Chemtrails é um álbum com o instrumental minimalista, onde pianos e violões dedilhados dominam as músicas para apresentar a fase folk pop de Lana aos seus ouvintes. [GC]
Esculpido a Machado, do LEALL
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Com Esculpido a Machado, podemos ver como o grime vem se consolidando como o principal estilo do hip-hop nacional. Apesar de ser um estilo que veio de fora, já vemos diversos elementos daqui, e Esculpido a Machado é um exemplo disso. Seja pelos beats ou pelos versos, o grime vem se tornando uma grande voz da realidade no país. Por isso, vale a pena visitar o trabalho de LEALL, que com seu disco de estreia, já se coloca como um dos principais nomes da cena brasileira. [RS]
Home Video, da Lucy Dacus
Lucy Dacus resolveu recorrer às memórias de sua vida em Home Video. Em seu terceiro álbum de estúdio, a cantora estadunidense promove uma verdadeira ode ao seu passado ao revisitar momentos e histórias que muitos de nós preferimos deixar trancadas no baú das emoções. Ao transformar momentos não tão felizes em música, Lucy cria uma conexão direta com o ouvinte e mostra que olhar para o passado exige coragem, mas pode nos oferecer algo de bom. Um dos meus álbuns favoritos do ano. [JP]
Sound Ancestors, do Madlib
Madlib é um dos nomes mais interessantes na produção dentro do hip hop e isso não é de hoje. Em Sound Ancestors, ele se junta a Kieran Hebden – mais conhecido como Four Tet – para entregar uma bela trilha sonora para te acompanhar em qualquer momento do dia. Ainda que tenha momentos melhores ao longo da extensa – e importante – carreira, o produtor não desaponta ao longo das dezesseis faixas, entregando um hip hop instrumental apoiado por recortes vocais, psicodelia, jazz e experimentalismo. [JP]
The Million Masks Of God, do Manchester Orchestra
The Million Masks Of God é, pra mim, o ponto mais alto de toda a carreira do Manchester Orchestra. Em seu sexto álbum, a banda estadunidense entrega um registro bem confessional e que impressiona pela perceptível evolução instrumental quando comparado com os trabalhos anteriores. Faixas como “Angel of Death”, “Keel Timing” e “Bed Head” chamam a atenção, mas é em “Dinosaur” que o álbum encontra o seu ápice. [JP]
This is Where We Fall, de Mitski
Primeiro trabalho de Mitski desde Be The Cowboy, de 2018, This Is Where We Fall serve como a trilha sonora do quadrinho homônimo, criação de Chris Miskiewicz e Vincent Kings. Imersiva, a trilha sonora conta com uma atmosfera sombria e dá continuidade à construção de personagem que Mitski iniciou em seu último disco, com participações de Miskiewicz na narração de “The End”, e um interessante e divertido beat country em “The Baddy Man”, que contrasta com a proposta de ficção científica da história ao criar uma atmosfera western para sua trilha. Infelizmente, não é possível ouvir as músicas escritas por Mitski no streaming: as músicas haviam sido disponibilizadas no SoundCloud há alguns meses, mas foram apagadas e estão disponíveis apenas na compra do quadrinho. [GC]
Perpetual Chaos, da Nervosa
Esse disco novo da Nervosa foi muito aguardado, pois é o primeiro com a nova formação – que conta com a espanhola Diva Satanica (Rocío) nos vocais, a italiana Mia Wallace no baixo e a grega Eleni Nota na bateria. Da formação antiga só restou Prika Amaral, guitarrista e fundadora da banda, que é brasileira. Depois de tocarem no Rock in Rio e seguirem em turnê mundial, saíram do grupo a baixista/vocalista Fernanda Lira e a baterista Luana Dametto, que fundaram uma nova banda chamada Crypta. Mas Prika seguiu firme e forte e conseguiu recrutar substitutas à altura, continuando o excelente trabalho da Nervosa que é reconhecido internacionalmente. O disco foi gravado em Málaga, na Espanha, e não desaponta. Prika está tocando melhor do que nunca e as novas integrantes mantiveram o thrash metal da banda com maestria, bateria pesada, baixo marcado e um vocal gutural mais rasgado e agudo, que é um pouco diferente do que Diva faz em sua outra banda, Bloodhunter – e que assim não destoa dos trabalhos anteriores da Nervosa. Também há elementos de outros estilos, como punk, hardcore, death, doom e heavy, deixando o som ainda mais rico. Certamente a chegada de Diva, Mia e Eleni trouxeram novas referências e influências, acrescentando muito para a composição e performance das músicas. No disco há ainda participações especiais de Erik AK (Flotsam & Jetsam) nos vocais da faixa “Rebel Soul”, Guilherme Miranda (Entobed AD e Krow) na guitarra em “Until the Very End” e Schmier (Destruction) nos vocais de “Genocidal Command”, uma crítica ao governo Bolsonaro. Destaque para “Time to Fight” e “Under Ruins”, que ganhou o primeiro clipe dessa nova fase. Vida longa à Nervosa! [BM]
CARNAGE, de Nick Cave & Warren Ellis
Nick Cave é alguém que sempre entrega trabalhos dramáticos, pessoais e catárticos. Em CARNAGE, seu primeiro álbum formando dupla com o multi-instrumentista Warren Ellis, isso não é diferente. Com a voz poderosa de Cave, e o rico instrumental comandando por Ellis, temos um trabalho que mantém o padrão de excelência desses dois grandes músicos. Destaques para “Hand of God” e “Albuquerque”. [RS]
SOUR, da Olivia Rodrigo
É comum que estrelas da Disney gravem discos durante seu contrato com o canal: tivemos Hilary Duff, Miley Cyrus e Demi Lovato seguindo carreiras musicais ao mesmo tempo em que faziam séries e filmes para o conglomerado do entretenimento. Por isso, quando Olivia Rodrigo, atriz de High School Musical: The Musical: The Series, lançou seu primeiro single, “Driver’s License”, ninguém ficou muito surpreso com o novo passo em sua carreira e sim com o sucesso imediato que a cantora conseguiu. Em SOUR, as composições sinceras sobre um relacionamento fracassado, amores decepcionantes, ciúmes, ansiedade e a dificuldade em se encaixar são contadas pelos olhos de uma adolescente da Geração Z, que cresceu ouvindo bandas e artistas que fazem pop rock como o Paramore – algo extremamente perceptível em “good 4 u”, terceiro single do disco -, Avril Lavigne, e, sobretudo, Taylor Swift, e se via nessas músicas. Ao longo das 11 faixas, Olivia Rodrigo – em parceria com o produtor Daniel Nigro, importante para a produção minimalista do disco – consegue contar a história sobre sua vida de quase jovem adulta, em um disco que, impressionantemente, conseguiu conciliar fãs de diversos estilos musicais e idades de uma maneira que poucos artistas – novos ou veteranos – conseguiram. [GC]
Textos: Bárbara Monteiro, Bárbara Silva, Gabrielle Caroline, Henrique Ferreira, John Pereira, Rahif Souza e Yuri Carvalho.