Não sei se você percebeu, mas esse tem sido um ano atípico para o Audiograma. A frequência de posts caiu drasticamente e ainda estamos em busca do nosso lugar em meio a esse cenário atual de informações instantâneas e acumulo de lançamentos. Apesar disso, algumas tradições merecem ser mantidas e listar os melhores álbuns de 2021 até o momento é uma delas.
Nos últimos anos, as listas de álbuns ganharam força por aqui. Ainda que as seleções mensais tenham ficado de lado, fizemos o exercício de passar a limpo o primeiro semestre do ano e separar os melhores álbuns de 2021 até então. Apontamos os 51 trabalhos que chegaram às lojas ou serviços de streaming até o último dia 30 de junho que chamaram a nossa atenção. Falamos um pouco sobre cada um deles e, como de costume, deixamos aquele player para você ouvir no Spotify.
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Passeando por vários gêneros, a lista tem rock, pop, rap, material nacional… e mais do que isso, tem um aperitivo do que deve ser o nosso #Listão2021, aquela nossa tradicional série de listas que resumem o ano e que sairá – se tudo der certo – em dezembro.
Em ordem alfabética, veja quais foram as nossas escolhas do primeiro semestre desse ano!
Driver, do Adult Mom
Driver, do trio Adult Mom, é o mais novo representante musical do coming of age, gênero que narra a passagem da adolescência para idade adulta e as dúvidas, crises e questionamentos que permeiam a crise de vinte e tantos anos. Entre letras honestas sobre traumas do dia a dia, camadas de guitarras bem construídas e sintetizadores que dividem o protagonismo dos instrumentais das músicas, a voz marcante de Stevie Knipe nos conduz por uma história sobre manter o controle quando tudo está desabando, fins de relacionamentos e reflexos da monotonia que nos atinge no dia a dia mesmo em meio à tantas coisas acontecendo. Destaque para a agitada “Wisconsin” e para a letra de “Sober”, uma vitória catártica para qualquer um que já sofreu com um término. [GC]
Forever Isn’t Long Enough, do Alfie Templeman
Após uma extensa série de EPs (sete nos últimos três anos), Alfie Templeman soltou o seu trabalho de estreia, chamado pelo próprio britânico de mini-álbum. Em pouco mais de meia hora, Forever Isn’t Long Enough é resultado de todo o amadurecimento do jovem músico. Longe de ser inovador, é um trabalho pop dançante bem construído e que amarra bem todas as suas referências. “Film Scene Daydream” e a faixa que dá nome ao trabalho merecem destaque. [JP]
Cor, do ANAVITÓRIA
ANAVITORIA trazem de surpresa o seu quarto álbum intitulado COR e, de inicio, temos Rita Lee recitando um poema na música “Amarelo, azul e branco”, que é um chamado ao Tocantins, estado que as meninas nasceram. Já no final temos uma participação de Lenine em “Lisboa” (que inclusive saiu uma versão em espanhol a parte com Jorge Drexler), faixa essa que leva o nome da cidade onde o projeto foi iniciado e terminado. Iniciar e finalizar um álbum com participações foi uma escolha incrível, pois isso mostra um projeto feito sob todo o cuidado. Um amadurecimento é bem visto no decorrer das quatorze músicas, junto de muita força, poesia e raízes. Este álbum traz a real essência do duo e que deixa claro que elas não são apenas meninas com músicas rasas. Além da coesão clara e objetiva, é visível a evolução solida de Ana Caetano e Vitória Falcão. O conceito por trás de todo lyric vídeo entregue é um deleite a parte com pegadas poéticas e uma essência gostosa. A intercalação de sofrimento e o lado bom de amar/amor nos fazem cair num debate se tudo isso vale realmente a pena. Inclusive as grandes inspirações das meninas para a criação de COR foram Coldplay, Los Hermanos e Hillsong. COR é singelo, leve, limpo, dolorido e isso é bem muito bem visto. [HF]
Collapsed In Sunbeams, da Arlo Parks
Aguardar o lançamento de artistas tão jovens e cercados de expectativas é sempre uma aventura bastante tensa, pois nunca sabemos o que encontrar. No caso de Arlo Parks, a resposta para essa espera é o envolvente Collapsed in Sunbeams. No seu álbum de estreia, Parks chama a atenção por uma voz que não cansa o ouvinte. Além disso, a melodia pautada no bedroom pop deixa o clima ainda mais hipnotizante, como na maravilhosa “Black Dog”. Com o seu primeiro lançamento, Parks mostra que é uma cantora que tem tudo pra ultrapassar o status de promessa, alcançando o grande público em breve. [RS]
For The First Time, do Black Country, New Road
Em seu trabalho de estreia, os britânicos do Black Country, New Road entregam um álbum marcado pelo experimentalismo. Produzido por Andy Savours, For The First Time mescla, de forma bem interessante, elementos de post-punk, art-rock, jazz e até afrobeat. São apenas seis faixas, mas o septeto consegue pensar fora da caixa e entregar um dos álbuns mais marcantes de rock do ano, fazendo jus aos elogios da crítica especializada. Os quase dez minutos de “Sunglasses” são a prova disso. [JP]
ROADRUNNER: NEW LIGHT, NEW MACHINE, do BROCKHAMPTON
Primeiro dos dois lançamentos previstos pelo BROCKHAMPTON em 2021, Roadrunner: New Light, New Machine flerta com o rock e com o emo para construir uma sessão de terapia cheia de melancolia sobre a família e os traumas dos integrantes. Com ótimas parcerias com A$AP Rocky, A$AP Ferg e JPEGMAFIA, o disco foca nas melodias e nas músicas curtas, um triunfo que faz com que esse seja o melhor dos seis discos da boyband. Destaque para a explosiva “BANKROLL” e para os trechos cantados por Kevin Abstract em “BUZZCUT” e “THE LIGHT”. [GC]
El Madrileno, do C Tangana
El Madrileño, o consistente terceiro álbum de C Tangana, apresenta a Espanha contemporânea da melhor forma: um misto de tradições e novas linguagens. O single “Demasiadas Mujeres” dá tom ao álbum com tambores militares e um fúnebre arranjo de metais encontram um poderoso teclado, dando vida a uma grandiosa faixa de abertura. “Comerte Entera”, parceria com Toquinho, é uma quimera de bossa-nova e funk à la ibérica. Mas a alma do álbum se encontra em “Tú Me Dejaste de Querer”, o ápice do disco, o tipo de faixa que dispensa comentários. Escute.
PS: O trabalho visual do álbum inspirado no também madrilenho Francisco de Goya, é um espetáculo! [MG]
Super What?, de CZARFACE & MF DOOM
Leia a resenha completa do álbum
Mesmo que Super What? não seja o melhor lançamento de 2021 até agora, em contrapartida o álbum se valoriza por questões que estão dentro e fora dele. No seu interior, encontramos variedade de ritmos, colaborações incríveis e rimas afiadas. Enquanto que no seu exterior, temos o adeus de um dos rappers mais importantes para a cena alternativa de todos os tempos. Assim, com Super What? temos a confirmação de que muito mais do que um vilão, MF DOOM transformou e salvou o universo underground do hip-hop. [RS]
Dancing with the Devil… the Art of Starting Over, de Demi Lovato
Demi Lovato produziu uma biografia musical e fez uma análise dos últimos anos da sua vida em Dancing with the Devil… the Art of Starting Over. Ela começa o álbum contando como foi sua “dança com o Diabo”, desde o primeiro grito de socorro até o momento que se viu a beira da morte na UTI com seu sangue sendo filtrado por um aparelho. Ela não esconde sua batalha de anos contra as drogas. O LP é dividido em dois momentos: a morte e a ressurreição. A partir da quarta música, uma intro surge na tracklist para ressaltar esse recomeço. Mas, se engana quem pensa que o resto da tracklist é uma festa. A partir deste momento, Demi revela os traumas que a levaram ao colapso mental, que vão desde um “melon cake” que ganhava de aniversário – dado por sua equipe, para evitar ganho de peso através do consumo do açúcar dos bolos tradicionais -, até uma sobriedade parcial, muito bem explicada no título “California sober”. A sua sexualidade também é retratada em “The kind of lover I am”, parte do processo onde se assume como pessoa de gênero não binário. Artisticamente, é um marco em sua carreira, as melodias são cativantes, os vocais surpreendentes e as faixas conversam entre si. [YC]
Sweep It Into Space, do Dinosaur Jr
Em seu décimo segundo álbum (o quinto desde a retomada das atividades), o Dinosaur Jr. mostra que é possível buscar elementos novos sem trair a sua sonoridade clássica. Sweep It Into Space é um daqueles álbuns que todo roqueiro vai curtir: tem guitarras memoráveis, baixo sempre presente, bateria bem pontuada e uma melodia bem palatável. Perto dos seus 40 anos de carreira, o trio entrega aquele “mais do mesmo” que a gente gosta de ouvir. [JP]
NU, do Djonga
Em seu quinto álbum, o rapper mineiro Djonga continua a apresentar letras cheias de críticas ácidas, principalmente direcionadas a violência, racismo, pobreza e desigualdade social. Mas também fala bastante de questões pessoais, incluindo sua relação com a fama e o dinheiro. As rimas são cheias de referências à cultura pop, de Lucas Penteado e Yuri Marçal às Kardashians e Galvão Bueno, além da trajetória dele como artista. O disco ainda veio acompanhado de um vídeo para cada faixa (vale a pena ver no YouTube) com vários significados interpretativos visuais, como o uniforme da seleção brasileira de futebol, a coroação que depois vira fuga de um monstro personificado na própria coroa até cair num precipício etc. E, assim com as letras de suas músicas e a capa do disco, que mostra a cabeça decapitada de Djonga em uma bandeja, as imagens são fortes. No fim do disco, na última faixa, “Eu”, Djonga canta: “Humano demais, esse é seu ídolo”. Acho que alguém fez terapia além de um bom disco novo, hein? [BM]
Textos: Bárbara Monteiro, Gabrielle Caroline, Henrique Ferreira, John Pereira, Matheus Gouthier, Rahif Souza e Yuri Carvalho.