Rockstar: “uma pessoa tratada como uma celebridade, especialmente por inspirar uma admiração fanática”.
É dessa forma que o dicionário de Oxford define o termo consagrado por astros do rock nos anos 70/80. Mas hoje, ele ultrapassa o rock. Afinal, se pensarmos nessa definição, vamos direto para outro estilo: o hip-hop, que é o mais escutado nas últimas décadas.
Pense em nomes como Travis Scott, Kanye West, Lil Uzi Vert e Young Thug; todos eles têm inegavelmente algo em comum: uma fã base apaixonada, o interesse dos paparazzis e turnês cada vez mais lotadas. E pensando nesse sentido, não podemos esquecer de Playboi Carti. É esse tópico que o rapper de Atlanta explora no seu polarizador segundo álbum de estúdio, Whole Lotta Red.
O segundo disco de Playboi Carti foi lançado no fim de 2020, mais particularmente na véspera de Natal. Mesmo assim, foi o tempo suficiente para que WLR fosse um dos álbuns mais discutidos da Internet no ano passado. Foram inúmeros memes, tweets (elogiando e criticando WLR) e mais fatores que confirmam o status de Carti como um rockstar. Afinal, um rockstar está sempre no centro das atenções.
Mas isso não é uma novidade pra ele: desde “Magnolia“, seu single de sucesso mundial lançado em 2017, o cantor ganhou cada vez mais espaço, se consolidando como um astro. Na sua vida pessoal, o relacionamento com Iggy Azalea – relacionamento esse que acabou recentemente – também acrescentou doses de fama a sua vida. Foi nessa direção que Playboi Carti lançou Die Lit, em 2018. Como resultado, o disco já se “apropriava” do termo rockstar, algo que é possível perceber com a sua icônica capa.
Mas além disso, Die Lit também trouxe vários elementos que constroem a imagem artística de Carti no hip-hop. Sua baby voice, com um vocal que mais parece um balbucio, em meio a beats viciantes fizeram dele alguém icônico, mesmo ainda sendo tão novo. É importante relembrar essas questões, pois assim como em Die Lit, elas são presentes em Whole Lotta Red.
Um rockstar certamente está sempre cercado de outros artistas de sucesso, certo? Pois em WLR, Carti tem como colaboradores três dos nomes mais influentes do rap na última década: Kanye West (que assina Whole Lotta Red como Produtor Executivo e também participa de “Go2DaMoon”), Kid Cudi (“M3tamorphosis”) e Future (“Teen X”).
https://twitter.com/playboicarti/status/1342338541909639169?s=20
Mas o álbum é centrado em Carti. Pois diferente do trabalho de estreia, WLR tem poucas colaborações, e é possível enxergar mais das visões artísticas do rapper. E uma das coisas que faz de Whole Lotta Red interessante é a sua boa vontade em experimentar diversos elementos sonoros. “Rockstar Made”, “Go2DaMoon” e “Stop Breathing”, as três primeiras faixas do disco, são recheadas de violência tanto nas rimas quanto nas batidas, cheia de sintetizadores enquanto Carti narra a sua ascensão como alguém famoso.
Aliás, a violência é uma estética em Whole Lotta Red – o nome do álbum faz referência a afiliação de Carti com os Bloods. Além disso, essa violência estética também está presente em outros momentos da primeira metade do trabalho; “Slay3r” é uma homenagem à banda de trash metal Slayer. Aliás, é importante ressaltar que o Slayer é conhecido justamente por explorar a violência nas músicas. Então, para ser famoso, é preciso lidar com essa violência – pelo menos em WLR.
Aliás, vale destacar também “New Tank”, em que o instrumental é enfeitado por diversas distorções, com batidas graves e um vocal incompreensível por parte de Carti.
Entretanto, é indo para a segunda metade de Whole Lotta Red que o álbum se mostra muito mais do que uma glamourização da fama, mas algo extremamente original comparado a outros trabalhos de rappers do mainstream. “Vamp Anthem” é sem dúvida a melhor música do registro, com um instrumental que replica o órgão de “Tocata e Fuga em Ré Menor”, de Sebastian Bach.
Mas esse “sample” não é aleatório: WLR também aposta em uma estética dos filmes clássicos de vampiros – e a música clássica sempre esteve ligada ao gênero. O conceito funciona como uma comparação da fama com a vida de um vampiro. Então, para Carti, rockstars são como vampiros.
O mesmo conceito também é explorado em faixas como “On That Time” e “Over”, com um ritmo mais lento, como se Carti anunciasse a sua morte como um vampiro. E principalmente em“King Vamp”, ele compara as duas vidas de modo mais explícito: “When the sun goes down, yeah, it’s time to creep”.
A segunda parte de Whole Lotta Red também experimenta com beats que remetem a música eletrônica dos anos 2000, como por exemplo na sequência “Control” e “New N3on”. Por fim, vale ressaltar a última faixa: “F33l Lik3 Dyin”. A mesma tem uma das letras mais elaboradas da carreira de Carti, em que o mesmo usa de uma abordagem quase niilista para narrar sobre a sua saúde mental em meio a fama.
Originalmente, a definição de vampiro é “o corpo de um morto que, segundo tradição lendária, a noite se reanima e sai do túmulo para sugar o sangue dos vivos”. Entretanto, com Whole Lotta Red, Carti amplia essa definição, adicionando aquela sobre os rockstars. Para ele, ser famoso é igualmente aproveitar o máximo que a vida pode oferecer. Contudo, ele explicita isso com um disco inovador. Goste ou não, com Whole Lotta Red, Playboi Carti não se exibe apenas como um rockstar, mas como alguém que será capaz de influenciar diversos rappers com uma sonoridade única.
Playboi Carti – Whole Lotta Red
Lançamento: 25 de Dezembro de 2020
Gravadora: Interscope
Gênero: Rap
Produção: Kanye West & Matthew Williams
Faixas:
01. Rockstar Made
02. Go2DaMoon
03. Stop Breathing
04. Beno!
05. JumpOutTheHouse
06. M3tamorphosis
07. Slay3r
08. No Sl33p
09. New Tank
10. Teen X
11. Meh
12. Vamp Anthem
13. New N3on
14. Control
15. Punk Monk
16. On That Time
17. King Vamp
18. Place
19. Sky
20. Over
21. ILoveUIHateU
22. Die4Guy
23. Not PLaying
24. F33l Lik3 Dyin
