Era março quando Bernardo do Espinhaço juntou os seus equipamentos e instrumentos musicais, colocou no carro e partiu rumo a uma fazenda no Sertão da Farinha Podre, no Triângulo Mineiro, deixando para trás Belo Horizonte e o começo de caos em virtude da pandemia do Covid-19.
Sozinho, diante da lua vista da sacada do casarão centenário onde viveram quatro gerações da sua família, ele escreveu em sua primeira noite as palavras: amor montanhês. Nos meses que se seguiram, adotou a vida de um vaqueiro: tirando leite, fazendo queijo, tocando gado, construindo cercas, roçando mato, enfim vivendo uma simples vida camponesa.
Em paralelo, se lançou em matas e confins daquelas instâncias desbravando paisagens inéditas. Amarrando palavras com os cordeletes de “piá gado” e as cordas de subir montanhas, compôs mais uma série de canções. Elas se juntaram a outras, produzidas ainda na cidade, e formaram um conjunto de temas do amor na montanha. Foi dessa forma que surgiu Amorantanhês, o quarto álbum da carreira Bernardo, conhecido como o cantor dos montanhistas.
Quase todas as composições, arranjos e produções são de autoria de Benardo. A exceção fica por conta de “Cabecinha no Ombro”, um clássico criado por Paulo Borges na década de 50. A faixa marca a primeira vez em que Bernardo do Espinhaço grava uma releitura.
Nascido num alto de serra entre as águas mansas da Cordilheira do Espinhaço, Bernardo assina o nome das montanhas que permeiam suas canções. Paisagens de pedras, flores, rios e os povos isolados do sertão ocupam a linguagem do músico também apelidado de “cantor dos montanhistas” ou “músico dos mochileiros”. É de lá que ele traz a poesia, o violão, o piano, a viola caipira, o acordeão e a flauta transversal.
Seus três primeiros trabalhos – O Alumbramento de um Guará Negro numa Noite Escura (2014), Manhã Sã (2015) e Tardhi (2018) – estiveram presentes em diversas listas de melhores discos do ano publicadas no Brasil.