Atualmente a gente pode acompanhar um grande número de bandas que “sofrem” um pouco para criar o seu segundo álbum. O interessante é saber que essa história já existe desde os anos 80 e que o U2 já passou por isso.
October, lançado oficialmente no dia 12 de outubro de 1981, ganhou a responsabilidade de ser o segundo álbum da banda formada por Bono, The Edge, Larry e Adam. Quem ouve os pouco mais de 40 minutos do disco e não é muito fã da banda, talvez não imagina que uma boa parte das letras foram compostas durante o período de gravação e não foi porque a banda quis assim. Os quatro entraram em estúdio em julho daquele ano e Bono já contava com um bom número de letras criadas e prontas para o disco. Eis que, após um show da banda em Portland, nos Estados Unidos, uma pasta contendo essas letras foi roubada. Com o estúdio reservado até o fim de agosto, a banda não teve outra saída se não continuar as gravações e compor ali, na hora. O que, para uma banda nova, pode ser uma grande pressão… e realmente foi.
Ao contrário do que se poderia esperar, October não se tornou um álbum “mal-feito”. Ele transmite uma calmaria gigantesca, muito disso pela ênfase em religião e espiritualidade dada as letras de músicas como “Tomorrow”, “With a Shout (Jerusalem)” ou, especialmente, “Gloria”, que abre o disco e, certamente, é a música mais conhecida deste segundo álbum.
October é talvez o álbum mais enigmático do U2 até hoje, o álbum capaz de gerar as maiores discussões de “amor e ódio” entre os fãs. Se por um lado apresenta composições que se afastam um pouco do que foi feito em Boy, October mostra uma banda muito mais coesa em sua parte instrumental. Esse enigma em forma de música levantou dúvidas em muita gente sobre a possibilidade do U2 se manter no mercado por muito tempo (algo que nem a pessoa que mais detesta a banda hoje em dia consegue pensar), principalmente quando comparavam a banda a outros nomes que, naquele ano, lançaram ótimos álbuns como o Echo & The Bunnymen com o belo Heaven Up Here, para citar um exemplo.
O problema de se fazer uma resenha de um álbum com quase 30 anos de vida é que, por mais que a gente queira, não consegue deixar totalmente de lado o que a banda fez nesse espaço de tempo. Talvez em 1981, October fosse totalmente compreensível. Hoje, ele me parece uma união daquilo que a banda “sofria” internamente com um desejo de experimentar algo um pouco diferente, fugir um pouco da formula usada anteriormente com Boy. É um álbum que tem vários momentos de inspiração, é bastante atrativo e conta com belas músicas – até porque, se não tivesse isso, não seria U2 – mas não é um disco que se sobressai quando comparado a Boy ou aos que foram lançados posteriormente. Eu, por exemplo, não o indicaria para quem não conhece a banda ou para quem é apenas um ouvinte casual.
Talvez o grande “problema” ao ouvir o October hoje em dia não seja o tal apelo cristão ou o fato do disco ser enigmático. O fato é que, depois dele, vieram canções como “One”, “Where The Streets Have No Name”, “Sunday Bloody Sunday”, “Beautiful Day”, “Until The End Of The World” ou “New Years Day”, fazendo com que a missão se tornasse muito mais complicada para um álbum competente, mas que não conta com hits poderosos como os citados. E isso faz diferença para muita gente.
Eu não vejo o October como um disco ruim. Apenas não o considero como a melhor forma de se conhecer o U2 já que, apesar da qualidade, não é um álbum que possa traduzir de forma clara toda a trajetória do quarteto, exatamente por ser diferente daquilo que eles já se mostravam capazes de fazer.
Para lembrar um pouco do U2 daquela época, que tal um vídeo de 1982? Confira a banda ao vivo no Rock Werchter tocando “Rejoice”.
U2 – October
Lançamento: 12 de outubro de 1981
Gravadora: Island
Gênero: Rock, Post-punk
Produção: Steve Lillywhite
Faixas:
01 – Gloria
02 – I Fall Down
03 – I Threw a Brick Through a Window
04 – Rejoice
05 – Fire
06 – Tomorrow
07 – October
08 – With a Shout (Jerusalem)
09 – Stranger In a Strange Land
10 – Scarlet
11 – Is That All?