É um verdadeiro evento quando a gente se prepara para assistir ao show de uma banda que amamos muito – e que em mais de 20 anos de carreira, tocou apenas uma vez no Brasil, em 2012, no Festival Planeta Terra.
Essa segunda visita se torna quase que uma obrigação para os fãs. Fica aquela ideia de que é uma chance única, que a banda retornou para dar mais uma chance para os infelizes que perderam a primeira oportunidade.
Foi com as expectativas lá nas alturas que viajei para o Rio de Janeiro para riscar o Garbage da minha lista de desejos e não tinha a menor ideia do que a noite me reservava.
Em turnê do excelente Strange Little Birds, sexto disco de estúdio, o Garbage entrou em cena depois da animada apresentação da turma do BBGG. Infelizmente, ouvi o show do lado de fora e prefiro não fazer uma análise mais completa. O lance é que as gurias mandam bem demais na bagunça organizada que elas se propõem e “conhecer” esse trabalho me deixa na obrigação de assistir a um show no ano que vem. Venham para BH, sim?
Depois de quebrar tudo em São Paulo e sofrer um pouco pelo calor, Shirley Manson e cia desembarcaram para um novo show infernal, desta vez nas próprias brasas da tábua de assar jiló do pessoal do capiroto, também conhecido como Circo Voador. Até cogitei permanecer bem na frente do palco, mas a idade pesou. Deixei os novinhos arderem no amor promovido pelas músicas do Garbage e procurei por um inexistente ambiente de sombra e água fresca (Heineken, na verdade)
Meu principal receio com a apresentação do Garbage era que o som fosse vazio, como é em muitos dos shows que já assisti pelo YouTube. Todo material deles que eu assistia dava a sensação de que estava faltando alguma coisa, como se as duas guitarras, baixo e bateria não fossem capazes de recriar o que a gente ouve nos discos.
A abertura com “Supervixen” tratou de responder logo esse receio. Ao vivo, num local pequeno como o Circo Voador, a banda arrasa. O baixo é tão grave que você sente que o batimento do seu coração está transando com cada nota do instrumento e se fundindo em um só. “I Think I’m Paranoid” na sequência foi o sinal necessário para me acordar e dizer: “Bicho, você finalmente está num show do Garbage”.
Sem sentir o calor e mostrando toda a experiência adquirida nos últimos 20 anos, Shirley Manson dominou o público do começo ao fim. Eventualmente aproveitava os intervalos das músicas para fazer discursos sobre igualdade entre gêneros e dificuldades financeiras (certeza todo mundo voltou feliz pra casa por cada centavo gasto no show), mas nada que atrapalhasse o ritmo da apresentação. Afinal, o repertório foi muito bem selecionado para deixar os fãs loucos com uma sucessão de hits que me fizeram rejuvenescer uns 10 anos.
Inclusive, reencontrei velhos amigos no show e relembramos da época em que a balada mais legal do Rio de Janeiro era a Bunker e suas festas de indie rock que aconteciam em 2006.
Material novo não foi ignorado, mas sabiamente distribuído ao longo das 22 canções do setlist. Das novidades, a principal delas é “Even Though Our Love is Dead”, uma balada depressiva que cria um raro momento intimista no show. Que música.
Nos momentos finais do show, quando eu encontrei minha fuga do calor tomando uma chuva de leve, tive a experiência que tornará esse dia 11 de dezembro inesquecível: ouvir “I’m Only Happy When it Rains” na chuva, de olhos fechados e simplesmente esquecendo de quem cisma em dizer que o mundo real não é esse que vivemos quando estamos correndo atrás de bandas ao redor do país e conferindo o máximo de shows possível. Não há nada melhor que essas experiências proporcionadas por um verdadeiro amor.
Fotos: Fred Borges / Zimel