“Antis tarde do que nunca”.
É com essa péssima porém simbólica frase que damos o ~pontapé~ inicial para a review do álbum que quase não aconteceu. O oitavo álbum da hitmaker Rihanna era identificado como R8, mas com o passar dos 3 ou 4 anos de produção (que pareceu um milênio já que a cantora acostumou seus fãs e o público em geral com CDs na mesma frequência que os especiais de fim de ano do Roberto Carlos), a identidade do ANTI foi formada.
No que diz respeito a tempo, ancoramos em uma das eras mais bagunçadas da carreira que parecia impecável e feita de #1 da caribenha. Mesmo que a própria Rihanna nunca tivesse revelado uma data em específico, as especulações, idas aos estúdios, cantores e produtores falando para quem quisesse ouvir sobre o álbum e o que estava envolvido nele, tudo resultava em uma expectativa além do normal. Além disso, o tempo de produção em sua maioria, é associado à qualidade. Mas no fim das contas, quem é que define o que é qualidade? De qualquer forma, Rihanna deu um toco em todos e disse ‘Sobre o meu álbum, eu falo. Mas não vai ser hoje. As notícias serão dadas por mim, segue em frente’. E nós seguimos, até que por meio de um emoji de balãozinho vermelho e delicadamente ornada de um head phone/coroa que vale mais que minha renda anual, o término do ANTI foi anunciado. Amém, Rihsus!
Musicalmente, Rihanna deu um salto, um salto muito alto. Saiu de sua zona de conforto como um todo e se arriscou, mostrou a voz e abusou da sua liberdade. Se em Rated R, seu quarto álbum e queridinho dos fãs, a faixa de introdução nos dava boas vindas, “boas vindas a casa dos loucos”, que caia muito bem no contexto histórico da época, em “Consideration”, primeira faixa do ANTI, Rihanna deixa muito claro o que o álbum significa: “I got to do things my own way darling / Will you ever let me?/ Will you ever respect me? (Tenho que fazer as coisas do meu jeito, querido. Você vai deixar? Você vai me respeitar?)”. Nunca antes Rihanna apareceu creditada em tantas faixas (12/13 na versão standart do álbum, sendo “Same Ol’ Mistakes”, um ótimo cover de “New Person Same Old Mistakes” da banda Tame Impala, a unica não creditada a cantora). Ela de fato fez tudo do jeito dela. Barrou cantores, compositores e produtores e tacou R. Fenty nos créditos do álbum pra qualquer um que ousasse apontar o dedo e falar que ela só pegava música pronta. O vocal dela era questionado antes? Ok, não mais. Tem resposta pra isso também. “Love on The Brain” e “Higher” são evidencias que ela consegue sim mostrar o vocal pra quem associa uma boa vocalista com notas altas. Tudo isso, sem perder o jeito Rihanna: Uma voz rasgada, desleixada e se fechar os olhos, dá pra visualizar RiRi cantando com um copo de whisky na mão enquanto o cigarro de marijuana fica queimando na beirada do piano no estúdio.
[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=HL1UzIK-flA[/youtube]
E o pop? Bom, continua ali. Não só de feat. Calvin Harris, David Guetta e Jack Ü vive o pop. “Kiss It Better” e “Work” estão aí pra isso. De longe são as mais radiofônicas e a participação de Drake na segunda só abrilhantou o décimo quarto primeiro lugar de Rihanna nos EUA (sendo a segunda parceria de papai e mamãe entre os dois a alcançar o feito). Apesar da sonoridade das duas, “Needed Me” – faixa produzida pelo DJ Mustard, responsável por “IDFWU” do rapper Big Sean e “2 On” de Tinashe – está conseguindo uma certa atenção mesmo sem divulgação ou anuncio de próximo single. “Closer To You” e “Never Ending” são responsáveis pela parte suave do álbum, enquanto o instrumental de “Woo” é facilmente associado com a sonoridade de Yeezus, de Kanye West, e faixas do Rodeo, de Travi$ Scott, dono dos ‘gritinhos’ amigáveis na introdução da música.
Muito se falou da falta do ~pop farofa~, daquela Rihanna da era LOUD… Bom, se vocês querem a Rihanna da era LOUD, o LOUD será encontrado em qualquer serviço de Stream, fique a vontade. Alguns alegaram que a cantora largou a veia pop com o ANTI, mas isso pode ser facilmente negado. Reparem nas ultimas músicas de trabalho da cantora: “Diamonds”, “Stay”, “Pour It Up”, “What Now”, “FourFiveSeconds”, “American Oxygen”, “Bitch Better Have My Money”, “Work”... Nenhuma delas é o pop chiclete que as pessoas facilmente associam a imagem dela ou esperam da Rihanna. O processo começou a ser feito no Unapologetic, álbum de 2012, que contem apenas uma faixa feita para as pistas. Seria isso algo ruim? Não. Seria ignorar as músicas pop no currículo uma escolha sábia? Bom, se você faz parte dos que hoje comemoram o nome da Rihanna no meio de Whitney Houston, Michael Jackson, Elvis Presley e Mariah Carey como grandes hitmakers da história, saiba que o trio “S&M”, “Only Girl (In The World)” e “We Found Love” também foram contabilizados para totalizar a invejável marca de 14 primeiros lugares nos EUA.
A era ANTI pode ter sido iniciada por uma série de bagunças – músicas já trabalhadas (e com clipe) completamente descartadas, mais divulgação de tênis e de meias do que divulgação do single em si, cancelamento de performance devido a problemas de saúde pouco antes da apresentação, vazamento do álbum em uma plataforma de Stream que supostamente foi feita para proteger a música dos artistas – mas é a bagunça dela, do jeito dela. E para quem foi questionada por não compor, não usar da voz, abusar da ‘farofa’ e não se arriscar, ela foi totalmente contra isso. E Rihanna não merece ser criticada por tal postura contrária.
Rihanna – ANTI
Lançamento: 28 de janeiro de 2016
Gravadora: Westbury Road, Roc Nation
Gênero: R&B/Urban
Produção: R. Fenty, Travi$ Scott, Timbaland, Hit-Boy, DJ Mustard
Faixas:
01. Consideration (feat. SZA)
02. James Joint
03. Kiss It Better
04. Work (feat. Drake)
05. Desperado
06. Woo
07. Needed Me
08. Yeah, I Said It
09. Same Ol’ Mistakes
10. Never Ending
11. Love On The Brain
12. Higher
13. Close To You
Versão deluxe:
14. Goodnight Gotham
15. Pose
16. Sex With Me