A segunda edição do Circuito Banco do Brasil corrigiu os problemas do primeiro evento (começando pela escolha da Esplanada no lugar do sempre inconveniente Mega Space) e acertou em cheio na mistura de atrações que fizeram parte do line-up do festival: Nação Zumbi, Titãs, Panic! At the Disco e Linkin Park. O calor, uma reclamação meio absurda do público no primeiro evento (como se fosse culpa da produção), também marcou presença.
Em comparação com o Planeta Brasil, que aconteceu no mesmo local em março, algumas melhorias foram observadas, como mais opções de banheiros em posições estratégicas, bem como placas informando os horários da apresentação de cada banda, assim como informações sobre o torneio de skate que acontecia no local. Não fosse a escalação do Linkin Park como banda principal, seria muito estranho a combinação de skate com um festival de rock, com o Titãs como uma das atrações principais. O torneio divertiu o público até o começo dos shows, com a vencedora da seletiva VozParaTodos, os cariocas da Stereophant. Com um vocalista com um timbre vocal semelhante ao de Badauí, do CPM 22, o resultado poderia ser desastroso. No entanto, a banda surpreendeu com uma sonoridade pesada, e até agradável de se ouvir, mas que infelizmente carecia da falta de originalidade para prender a atenção dos fãs presentes.
Aliás, diga-se de passagem, a Esplanada estava dominada por jovens de 17 a 22 anos, em sua maioria. Muitos revelaram desconhecer o Nação Zumbi, que dividiu opiniões. Enquanto alguns diziam que o legado de Chico Science era eterno e precisava ser reverenciado, outros criticaram e pediam para que a banda se despedisse logo do palco. Polêmicas a parte, o show da banda dedicou boa parte do repertório para o novo trabalho, o que agradou em cheio aos apaixonados por música que dançavam a cada acorde da guitarra de Lucio Maia. O ponto alto, como não podia deixar de ser num festival, foi quando a Nação Zumbi revisitou seus grandes clássicos “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada” e “Quando a Maré Encher”, dentre outros.
Os tiozões do Titãs subiram ao palco na sequência usando máscaras, o que poderia fazer os desavisados confundirem a banda com os mascarados do Slipknot. Os mais debochados certamente quebrariam a cara logo na abertura, com a agressiva “Fardado”. A primeira parte do show foi inteira com músicas do Nheengatu, último (e surpreendente) registro da banda, e o Titãs estava bem longe de parecer uma banda com mais de trinta anos de carreira. Até os mais jovens (alguns contaram que só tinham ouvido falar da turma de Paulo Miklos e Sergio Brito) se empolgaram, mas o Titãs tinha muito mais cartas na manga e conquistou a plateia sem dificuldades. “Diversão”, “Flores”, “Sonífera Ilha” marcaram território numa performance que teve uma boa dose de protesto político com “Polícia”, “Aluga-se” (cover de Raul Seixas) e “Vossa Excelência”. Sem precisar apelar para conversas vazias com o público, o Titãs deixou o seu recado e foi ovacionado por um público carente de informações políticas e altamente inflamado pelo calor das eleições (e do clima da cidade, claro).
A primeira grande atração da noite, ou um dos motivos de boa parte daquela molecada ter tomado coragem de encarar o sol escaldante das 14h no meio de milhares de outros jovens e adultos, entrou em cena sem atrasos. O Panic! At the Disco tocou músicas dos trabalhos mais recentes, e com uma formação diferente, manteve o pique graças ao pique e carisma de seu frontman Brendon Urie. Tudo bem que o setlist poderia ter sido mais calibrado com canções mais conhecidas (afinal, estamos num festival e existem convenções para esses eventos), mas os norte-americanos estavam mais preocupados em divulgar o novo material. De quebra, o público mineiro foi presenteado com uma cover de “Bohemian Rhapsody”, do Queen, o que elevou a qualidade da apresentação, e do ânimo do público que observava imóvel ao show.
O público mineiro foi carente de shows internacionais durante muitos anos. A situação começou a mudar há pouco menos de cinco anos, com direito a show de Snow Patrol, Interpol, Paul McCartney, Elton John, Red Hot Chili Peppers, Incubus, Guns N’ Roses (ou a sombra deles, não vem ao caso aqui) foram algumas dessas atrações, mas ainda faltava alguma atração grande, daquelas que marcaram época para essa geração. O Linkin Park foi uma opção acertada. Apesar da maioria esmagadora dos presentes na Esplanada terem aparência de quem acabou de sair das fraldas e estava vivendo a primeira experiência num festival de música, existia um número considerável de pessoas com mais de 28 anos. E essas pessoas tinham 14, 15 anos na época em que Chester Bennington apareceu na MTV berrando “Craaaaawling in my skin” ou “Shut up when i’m talking with you” ou “I tried so hard and got so far”. Essa diferença de idade no público, mas semelhanças no desejo de realizar um sonho estava visível nos olhares e comportamento dos mineiros.
Sem atrasos, o Linkin Park mostrou serviço logo de cara com o single “Guilty All the Same”, do cd mais recente, The Hunting Party. Com um começo arrasador, “With You” e “One Step Closer” vieram logo depois de “Given Up”, parecia uma noite promissora e um show inesquecível para os fãs da banda e aqueles que estavam lá pela curiosidade. No entanto, a banda ofereceu uma proposta de shows diferente daquelas que estamos habituados. Seria o Linkin Park uma banda com um show avançado demais para os padrões ou eles simplesmente acreditam ter tantas músicas boas (e realmente tem) que podem se dar ao trabalho de tocar trechos de cada uma e tudo bem? O problema maior nem foi a sensação permanente de coito-sonoro interrompido, mas as constantes firulas que deixariam o show do Foo Fighters no Lollapalooza no chinelo. Duas horas de duração, ou mais de trinta músicas, poderia deixar qualquer um extasiado, mas na prática, são bem menos músicas muitas jams que simplesmente não dão certo para um festival. Um dos exemplos mais marcantes foi o solo de Joe Hahn, que teria deixado grande parte da pista premium em coma, se não fosse pela escolha brilhante (e eficiente) de colocar “Numb” logo na sequência. Milhares de vidas foram salvas nesse momento.
O ponto mais alto do show foi com a super conhecida “In The End”, no finalzinho da primeira metade da apresentação. A Esplanada tremeu. O público, que já berrava as músicas mais conhecidas quase no mesmo volume que o vocalista cantava, roubou a cena e deixou um sorriso no rosto de cada integrante do Linkin Park. “Faint” mostrou para todo mundo a potência da voz de Chester, que corria de um lado para o outro para mostrar empolgação e compensar a falta de comunicação com o público.
Após uma breve saída do palco, Mike Shinoda e seus comparsas retornaram para o encore, que decepcionou os fãs que esperavam por “Crawling” (Apesar dela ter marcado presença logo depois das luzes terem se apagado e a banda deixado o palco definitivamente). “New Divide”, “What I’ve Done” e “Bleed it Out” foram o destaque da despedida dos norte-americanos, que pecaram pelo excesso, mas mostraram que conseguem segurar a onda mesmo com a ausência do guitarrista principal, que estava passando mal e teve que assistir ao show de camarote.
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Fotos: Polly Rodrigues – Veja mais fotos do Circuito Banco do Brasil aqui.