Existem fãs de todos os tipos. Daqueles que conhecem todo o repertório da banda até aqueles que só ouvem a mesma música que toca nas rádios todos os dias no caminho para a aula/serviço. Eu, por exemplo, não sou um fã que sabe tudinho sobre a carreira do U2. Sequer posso dizer que conheço (ou reconheço) todos os singles lançados ou mesmo todos os discos. Na verdade, só posso falar sobre os dois discos que possuo: a coletânea de singles e b-sides dos anos 80-90 e o No Line on The Horizon, último disco de estúdio da banda. Claro que sei da importância de cd’s como Joshua Tree para a trajetória que transformou o U2 no que é hoje e de como foi o flerte da banda com as tendências mais eletrônicas . Mas, sinceramente? Nunca me importei muito com esses detalhes e preferi manter as coisas do jeito que elas são. Então, você pode se perguntar, como é que eu estou aqui escrevendo sobre uma banda a qual não conheço nem metade? A resposta se encontra em uma palavrinha pequena, de quatro letras e que se encontra dentro do coração dos apaixonados: Amor.
O Renato Russo, falecido vocalista da Legião Urbana, banda que muito se influenciou nas linhas de guitarra do The Edge, bem que tentou explicar o que era esse tal sentimento conhecido como amor. Não conseguiu. Pessoas bem mais inteligentes que ele também tentaram e acabaram voltando para o ponto inicial. Certas coisas não precisam de um grande motivo, elas simplesmente acontecem e você tem que escolher aceitar ou não. Eu preferi aceitar e assim como em tantas outras aventuras amorosas, me aventurei em um caminho sem volta e que, ao contrário dos tradicionais namoros, não me daria nenhum tipo de dor de cabeça ou desilusão. O U2 vai ser a minha namorada para a vida inteira. Sempre terei aquela sensação boa de descobrir algo novo e o melhor é poder desfrutar disso sem ter pressa, com o passar dos anos e da evolução da minha capacidade de interpretar e entender o que as pessoas querem transmitir. Quem dera se os relacionamentos reais também pudessem ser assim, como uma boa canção de sua banda favorita.
Conheci o U2 através do filme Contagem Regressiva, no qual personagens irlandeses ficavam brigando e se explodindo o tempo todo enquanto cantavam ao som de Joshua Tree . Na época eu era novo demais para o amor e minha ânsia de aprender e conhecer acabou engolindo a banda. Se passaram quatro anos e novamente me “encontrei” com o U2. Dessa vez foi mais forte, embora não o suficiente para que eu entendesse o verdadeiro significado e importância que aquela banda viria a ter no futuro. O vídeo-clipe de “Sweetest Thing” aparecia frequentemente na lista do Disk MTV e fui lentamente me viciando naquele pedido de desculpa que Bono Vox fez para sua esposa. Para quem não sabe, o cantor se esqueceu do aniversário de sua musa e acabou usando o clipe para se declarar digno de manter o amor aceso. Pode até não ser a melhor música da banda, nem chega a ser minha favorita, mas foi o começo de toda a minha história com eles. Logo depois, quando eu ainda desconhecia as origens ou até mesmo quem era a banda, fui presenteado com a primeira coletânea do grupo. Aparentemente uma colega de serviço de minha mãe tinha ganhado duas iguais, e como na época todo mundo estava comentando sobre o tal cd duplo, numerado e em edição limitada do U2, minha mãe resolveu levar para casa e me dar de presente. Foi meio broxante aquele primeiro contato mais completo, quando pude ver mais da banda. Quase como despir-se frente à mulher que você ama, mas não ter a mínima vontade de estar ali naquela hora. Além de “Sweetest Thing”, apenas a cover de “Uncheined Mellody” me agradaram. Mas não contei isso para minha mãe, óbvio. Guardei o presente e ouvia, vez ou outra. Não havia sido o meu momento ainda.
O U2 sempre esteve presente em minha vida de alguma forma. Se não assistisse televisão e os clipes da banda, iria encontrar a banda no cinema. Um de meus filmes favoritos tem “If God Will Send His Angels” na trilha sonora. Mas ficava difícil prestar atenção no U2 quando o filme Cidade dos Anjos também tinha Alanis Morissette e “Iris” do Goo Goo Dolls como carro-chefe. Bono Vox e companhia também apareceram na trilha de filmes como Tomb Raider, Batman Eternamente e Sem Medo de Viver, estrelado por Jeff Bridges e que foi onde pela primeira vez, realmente notei a letra de “I Still Haven`t Found What I’m Looking For”. Vieram outros filmes, outros discos e outros anos. E no meu inconsciente, independente de qual fosse a minha banda favorita na época, o U2 já tinha status de ser a maior e mais respeitada banda em atividade. Tanto que quando passei a tocar baixo em 2002, “With or Whitout You” só perdia em execuções para “Come as You Are” do Nirvana e “Mantenha o Respeito” do Planet Hemp. Tem um grande valor sentimental quando relembro o meu passado, o começo da minha atração explosiva pela música e perceber que o U2 já estava lá. Nos melhores e piores momentos.
Então, inesperado como quando o amor acontece entre um homem e uma mulher (ou outro homem, vai saber a quantas andam a cabeça das pessoas de hoje), eu me apaixonei pela banda enquanto vivia um relacionamento com uma garota. Algumas das faixas da minha velha coletânea (que naquela altura ainda era encontrada nas lojas, o que jogava abaixo qualquer comentário de que ela era limitada) estavam ganhando mais força, dentre elas “All I Want is You”, uma das músicas mais lindas que já ouvi. Mas graças à internet, passei a ter acesso a outras músicas. Foi quando pude ter e ouvir sempre que quisesse músicas como: “One” (que viria a ser a “trilha sonora” de uma grande amizade), “Stay”, “Elevation” e “Beautiful Day”. O U2 passou a fazer parte das coisas que eu acreditava e podia confiar. Por mais simples que possa soar, é a verdade. Fosse embalando um romance ou uma noite de insônia, sabia que podia contar com as tradicionais linhas de guitarra do The Edge, os baixos insinuantes de Adam Clayton, a pegada reta da bateria de Larry Mullen e claro, os versos de Bono. Meu respeito aumentava cada vez mais. E, como se sempre tivesse sido, os versos de “I Still Haven`t Found What I’m Looking For” se transformaram em um hino pessoal. Aquela era a minha música. A minha ideia do que é estar vivo. O meu lema.
No final do ano de 2005, quando a minha atenção estava direcionada para o show do Pearl Jam, fui surpreendido com o anúncio da turnê brasileira do U2 para o próximo ano. O single “Vertigo” já dominava o meu winamp e aquele seria o primeiro disco que eu faria o download completo (embora nunca tenha ouvido mais de uma vez). Mesmo com a minha mãe, aquela mesma doce senhora que havia me presenteado com a amada coletânea anos antes, gritando que eu não iria para São Paulo de jeito nenhum, decidi arriscar e comprar o ingresso. Não fosse a insistência de minha irmã Bruna, a quem serei grato por toda a eternidade, por ter ficado mais de seis horas na fila, eu nunca teria experimentado a sensação de ficar tão próximo da maior banda de rock do mundo. Aquele dia 20 de fevereiro foi inesquecível. Mais ainda pela surpresa de ouvir a minha música ao vivo e chorar. Não de tristeza, mas pela certeza que, pelo menos por um momento, eu tinha encontrado tudo que procurava e estava bem ao alcance dos meus braços. Tudo que era inconsciente ganhou forma e vida, o que elevou o U2 não ao status de minha banda favorita, mas de necessidade vital para o sentido de estar aqui todos os dias. A partir daí, tudo ficou diferente e passaram a existir as bandas e o U2. Fica quase injusto fazer essa separação, e mesmo que existam bandas que superem essa linha, como o Radiohead, Muse, Silverchair e Incubus, nenhuma vai conseguir tirar a coroa dos irlandeses mais queridos do planeta.
O U2 apareceu na minha casa quando eu não sabia quem eles eram. O tempo passou e mesmo desconhecendo o real valor da banda, sentia que eles estavam ali há tempo demais para simplesmente irem embora, se perderem. Era algo para durar, ser forte. Ser eterno. E assim vem sendo até os dias de hoje, quando posso me dizer vítima do mal incurável que é o amor. Assim como Marlon Brando sofreu em Don Juan de Marco, eu e milhões de outras pessoas no mundo inteiro sofremos de uma doença crônica causada por Bono Vox, Larry Mullen, The Edge e Adam Clayton. Espero que nunca inventem a cura.
Parabéns, Bono! Obrigado por tudo!
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Ps: não amo mais o U2 do que amo você.
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Texto enviado por 2T Dias, que escreve para o Audiograma na coluna (Re)Descobrindo Sons.